Em Portugal, durante muitos anos acreditava-se que a educação pré-escolar era uma realidade acessível e possível apenas para uma parte da população, que englobava as classes média e alta – teoricamente, mais informadas sobre a sua real importância.
Hoje essa perceção mudou e assume-se que o acesso ao direito à educação pré-escolar é para todos, sendo já reconhecido que o seu papel é determinante para fortalecer todo o processo de educação a desenvolver-se ao longo da vida.
Saiba mais sobre a importância da educação pré-escolar.
Educação pré-escolar: uma fase importante para a vida toda
Sabia que uma boa educação pré-escolar tem reflexos positivos no futuro? Há uma melhor transição para a escolaridade, há mais facilidade na socialização e a longo prazo reduz-se a taxa de abandono escolar e de exclusão social, prevenindo-se assim uma juventude de delitos ou o abuso de drogas, por exemplo. E, então, o que mais se sabe sobre as vantagens de ter acesso a uma boa educação pré-escolar?
Sabe-se que um dos grandes e principais objetivos da educação na pré-escola é inserir a criança de forma positiva no 1º ciclo da escolaridade. Durante muitos anos, décadas na verdade, acreditava-se que tal passagem para a vida escolar deveria ser feita com base em indicadores de sucesso escolar, através de processos de inserção pré-estabelecidos e diretos que comprovassem aptidões adquiridas como saber escrever, ler, contar, etc.
Hoje sabe-se que uma correta inserção no 1º ciclo deve ser feita seguindo outros parâmetros. Essencialmente, a criança deve revelar um leque bastante mais amplo de competências, que revelem não aptidões adquiridas, mas sim a capacidade de ler e escrever, por exemplo.
Logo a seguir, o que se quer é que a criança tenha boas competências sociais de cooperação – ou seja, uma boa capacidade de estar inserida num grupo e com ele cooperar para o desenvolvimento de tarefas.
Sabe-se ainda que, para que a criança possa chegar a estas competências, é necessário que saiba demonstrar a capacidade e o desejo de fazer amizades e ser aceite. Isso mostra-nos a importância da educação pré-escolar, afinal, é nesta fase que as crianças aprendem a cooperar e a estar entre outras.
Autocontrolo e autoconfiança: duas competências decisivas para a boa integração escolar
Capacidades de autocontrolo e autoconfiança são fundamentais para definir a transição escolar positiva.
Dificilmente, uma criança que apresente baixa autoestima se vai interessar como deveria pelos diferentes processos de aprendizagem, mais ou menos elaborados, processos estes que são essenciais e que vão ser exigidos pelos professores. Criar, portanto, situações que promovam estas competências deve ser, desde cedo, uma prioridade na educação pré-escolar.
Sugestão para a educação pré-escolar promover a autoestima: devem ser criadas situações que visem promover a autoconfiança de forma a que a criança se descubra a si própria e se veja capaz de exercer poder de modificação diante de objetos e coisas. Este deve ser um dos principais objetivos da educação pré-escolar.
Por sua vez, a capacidade de autocontrolo é fundamental para a entrada no 1.º ciclo, uma vez que é exigida durante o processo de gestão das tarefas em sala de aula e também enquanto exerce as suas capacidades de interação social.
Estas situações exigem da criança um nível de maturidade que permita a concentração, a atenção e o domínio pessoal. Assim, será capaz de prescindir da satisfação pessoal imediata para atentar às necessidades do grupo. Este processo tem início durante a frequência da pré-escola.
Esta competência deve procurar fomentar na criança a capacidade de resiliência, ou seja, de sentir-se frustrada de forma positiva, persistindo no objetivo mesmo diante das adversidades. O objetivo é torná-la capaz de aceitar e ver qualquer mudança como um desafio, resistindo de forma criativa e otimista diante de qualquer contrariedade. Esta é uma das mais importantes competências a adquirir durante a educação pré-escolar e que vai acompanhar o aluno até a sua fase adulta.
Uma educação pré-escolar de baixa qualidade dificilmente vai ajudar o aluno a desenvolver estas duas competências tão fundamentais à escolaridade como um todo, daí a necessidade de escolher um excelente jardim de infância.
6 critérios que ajudam os pais na escolha do jardim de infância:
- qualidade das interações sociais;
- relação estabelecida entre adulto-criança;
- projeto educativo;
- espaço para envolvimento parental;
- atividades estimuladoras do desenvolvimento intelectual global e não apenas de indução ao 1.º ciclo;
- habilitação a nível superior dos(as) educadores(as) de infância.
7 ações que competem aos pais durante a educação pré-escolar:
- escolher, com tempo, o jardim de infância;
- exigir que o projeto educativo seja coerente;
- dialogar com a direção pedagógica e com os educadores;
- participar nas atividades;
- em casa, devem conversar com as crianças sobre o que acontece no jardim de infância;
- preparar, de forma positiva, a transição entre a família e o jardim de infância (ou creche);
- fazer desta transição um momento com significado, mostrando à criança que esta é uma etapa de crescimento para desenvolver-se e aprender através da interação com outras crianças e adultos.
Áreas de intervenção, princípios e objetivos da educação pré-escolar
As 3 áreas de intervenção na educação pré-escolar
As Orientações Curriculares para a educação pré-escolar identificam três áreas de intervenção prioritária:
1. Formação pessoal e social
Área transversal, integradora, que enquadra e dá suporte a todas as outras. Implica um processo facilitador do desenvolvimento de atitudes e de aquisição de valores e promove a capacidade de resolução de problemas do quotidiano.
2. Expressão e comunicação
Área básica de conteúdos que incide sobre aspetos essenciais do desenvolvimento e da aprendizagem, englobando as aprendizagens relacionadas com a atividade simbólica e o progressivo domínio de diferentes formas de linguagem.
3. Conhecimento do mundo
Área de articulação de conhecimentos, envolve todo o conhecimento e a relação com as pessoas, os objetos e o mundo natural e construído.
A definição das atividades concretas a desenvolver com a criança ao longo do ano letivo é realizada pelo educador de infância, que encontra estratégias de operacionalização das orientações curriculares, adequando-as ao contexto, e tendo sempre em conta os interesses e as necessidades das crianças.
Os 6 princípios da educação pré-escolar
- O desenvolvimento e a aprendizagem são vertentes indissociáveis.
- O reconhecimento da criança como sujeito do processo educativo, o que significa que a educação deve sempre partir do que a criança já sabe de modo a valorizar os seus saberes como base para novas aprendizagens.
- A construção articulada do saber, o que implica que as diferentes áreas a contemplar deverão ser abordadas de uma forma globalizante e integrada.
- A exigência de resposta a todas as crianças, o que pressupõe uma pedagogia diferenciada, centrada na cooperação, em que cada criança beneficia do processo educativo desenvolvido com o grupo.
- A continuidade educativa como processo que parte do que as crianças já sabem e aprenderam, criando condições para o sucesso nas aprendizagens seguintes.
- A intencionalidade educativa que decorre do processo reflexivo de observação, planeamento, ação e avaliação desenvolvido pelo educador, de forma a adequar a sua prática às necessidades das crianças.
9 objetivos da educação pré-escolar
- Promover o desenvolvimento pessoal e social da criança com base em experiências de vida democrática numa perspetiva de educação para a cidadania.
- Fomentar a inserção da criança em grupos sociais diversos, no respeito pela pluralidade das culturas, favorecendo uma progressiva consciência como membro da sociedade.
- Contribuir para a igualdade de oportunidades no acesso à escola e para o sucesso da aprendizagem.
- Estimular o desenvolvimento global da criança no respeito pelas suas características individuais. incutindo comportamentos que favoreçam aprendizagens significativas e diferenciadas.
- Desenvolver a expressão e a comunicação através de linguagens múltiplas como meios de relação, de informação, de sensibilização estética e de compreensão do mundo.
- Despertar a curiosidade e o pensamento crítico.
- Proporcionar à criança ocasiões de bem-estar e de segurança, nomeadamente no âmbito da saúde individual e coletiva.
- Proceder à despistagem de inadaptações, deficiências ou precocidades e promover a melhor orientação e encaminhamento da criança.
- Incentivar a participação das famílias no processo educativo e estabelecer relações de efectiva colaboração com a comunidade.