Foram revelados recentemente dois estudos que nos informam sobre a realidade do emprego jovem em Portugal. O primeiro, intitulado por Livro Branco “Mais e Melhores Empregos para os Jovens”, foi coordenado pela Fundação José Neves e indica que em 2020, cerca de 74% dos jovens a trabalhar em Portugal entre os 25 e os 30 anos tinham um contrato a prazo.
Para além disto, o estudo revela ainda que mais de 30% dos jovens no nosso país são considerados sobrequalificados para a função que desempenham diariamente.
Por outro lado, o estudo liderado pelo Instituto de Educação da U. Lisboa, “Êxodo de Competências e Mobilidade Académica de Portugal para a Europa”, revela que os portugueses com habilitações superiores que emigram, chegam mesmo a ganhar 3 vezes mais nos países de acolhimento.
Outro dado igualmente importante, é ainda o facto de que 70% deles recebiam menos de mil euros em Portugal e nos países estrangeiros conseguem auferir entre 2 e 3 mil euros.
Importa salientar que este último estudo envolveu os jovens qualificados que emigram para a Europa – sendo que representam um quarto dos portugueses que deixaram o país na última década.
O emprego jovem: uma dura realidade
As características do emprego jovem têm vindo a ser analisadas há mais de uma década, sendo possível concluir que se trata do mais vulnerável e volátil a situações de instabilidade económica, quando comparado com o emprego da população em geral.
Assim, quando pensamos em emprego para os jovens, rapidamente nos vem à mente um intervalo de idades – entre os 18 e os 30 anos.
Quando acabam o 12º ano de escolaridade ou concluem o ensino superior, chega o momento de começarem a sua busca por um trabalho digno e onde consigam colocar em prática os seus conhecimentos e competências.
Contudo, a realidade que é vivida e sentida pelos mais jovens é um pouco diferente do que podemos pensar. Afinal, nem sempre é fácil encontrar emprego com salários ou contratos dignos em Portugal. O que faz com que, muitas vezes, os mais novos optem por abandonar o país em busca de melhores condições.
Mas qual é o cenário atual do emprego jovem em Portugal?
Se tivermos por base os dois estudos que mencionamos anteriormente, rapidamente percebemos que o emprego jovem em Portugal é extremamente mal remunerado, com baixa qualidade e muito pouco estável.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) publicou recentemente as estimativas provisórias para novembro de 2022, que situam a taxa de desemprego nacional nos 6.4%. Ora, este passa a ser o valor mais elevado desde julho de 2021.
Contudo, e por incrível que pareça, o desemprego jovem representa 18.2% entre os menores de 25 anos (menos 4.3 pontos percentuais do que no período homólogo).
O que significa que, apesar de todas as dificuldades da geração mais jovem na entrada para o mercado de trabalho, são eles os que parecem aos poucos estar a conseguir dar início às suas carreiras.
No entanto, fatores como a baixa remuneração e qualidade nas funções, atratividade, benefícios oferecidos e equilíbrio entre a vida profissional e pessoal influenciam nas decisões dos mais novos. Tudo isto acaba por potenciar a emigração de recursos qualificados e leva a um subaproveitamento de competências.
Para além disto, perante as circunstâncias, os jovens veem posta em causa a sua qualidade de vida, assim como a realização profissional.
Podemos ainda mencionar também o facto de tudo isto comprometer o desenvolvimento do país – já que em Portugal se discutem questões como o envelhecimento acelerado ou o défice de potencial humano, por exemplo.
Os salários dos jovens são assim tão baixos?
Há ainda quem se questione se os salários dos jovens são realmente baixos. A resposta é sim, passamos a explicar.
Em junho de 2021, 33.9% dos jovens até aos 25 anos recebiam o ordenado mínimo nacional. Por sua vez, este valor caía na faixa etária dos 25 aos 29 (para 25.8%) e entre os maiores de 30 anos para 23.7%.
No entanto, se refletirmos bem sobre o tema, em 2019 o salário médio destes mesmos jovens continuava “praticamente ao mesmo nível de 2010, depois um decréscimo contínuo entre 2010 e 2015 e um período de aumentos sucessivos entre 2015 e 2019”, conforme refere o Livro Branco.
De um modo geral, os salários são muito mais baixos quando comparados com as remunerações praticadas em todos os destinos da emigração portuguesa. Afinal, em Portugal, é possível perceber que os salários apenas sentiram uma ligeira subida para quem não apresenta cursos superiores.
Conforme descrito no Livro Branco, “entre 2010 e 2019, a queda do salário real foi de 14.5%, 5.1% e 5.6% para os jovens licenciados, mestres e doutorados, respetivamente. Para os jovens com o ensino secundário a redução foi de 4.6%”.
E quais são as perspectivas?
Estamos certos de que será uma tarefa altamente difícil para as empresas conseguirem, perante o contexto económico atual, atualizarem os salários acima da taxa de inflação. No entanto, este seria sem dúvida um dos pontos de partida para se começarem a reduzir as taxas de desemprego jovem.
Mas ainda assim, devem ser definidas estratégias alternativas para reter e fixar o talento quer nas empresas privadas, como no estado. Torna-se cada vez mais essencial garantir o bem-estar pessoal e profissional desta faixa etária, que muitas vezes, acaba por ser desvalorizada no mercado de trabalho.
Iniciativas como a redução de horários, teletrabalho, bónus, dias extra de férias, prémios de produtividade, oferta de formação ou flexibilidade laboral são bons exemplos a aplicar, por exemplo. Já que são implementadas para os perfis séniores, porque não começarem as empresas privadas a fixar talento desta forma também?
Uma batalha dura para os mais novos
A verdade é que se, por um lado temos uma grande percentagem de jovens com cursos superiores que procuram apenas uma primeira oportunidade de trabalho para entrarem no mercado, outros já utilizaram o estágio profissional e mantêm a procura por um contrato de trabalho.
E é precisamente para os jovens que já realizaram os seus estágios profissionais que surge o grande problema: a dificuldade enorme em encontrar um emprego nas suas áreas que não seja um “estágio”.
Se experimentarmos fazer uma rápida pesquisa, percebemos facilmente que a grande maioria das empresas prefere contratar só em regime de estágio – seja ele profissional ou curricular. Ora, esta iniciativa seria efetivamente boa para os jovens se as empresas lhes fizessem um contrato e perpetuassem a sua estadia por lá.
Contudo, o que se verifica é precisamente o contrário: a empresa contrata apenas para o regime de estágio profissional, aproveita a criatividade do jovem e a proatividade e no final, descarta-o – acabando por contratar outro jovem novamente no mesmo regime.
Não há dúvidas de que estamos perante um cenário negro para o emprego jovem em Portugal e a verdade é que quando as ofertas são compradas com o mercado de trabalho no estrangeiro, a tentação é grande. Melhores salários, melhores condições de trabalho, oferta de benefícios e qualidade de vida.