Share the post "Apostar na exportação é o caminho para as empresas portuguesas"
Falar de sustentabilidade económica, sem falar de internacionalização no espaço globalizado em que os nossos empresários nacionais atuam deixou de ser viável. A conclusão, simples e evidente, sustentou o debate da V Edição do Encontros Fora da Caixa, que acolheu empresários, empreendedores, gestores e interessados no tema que a fórmula E=MC² (Economia = Mercado x Conhecimento& Cultura) sintetiza.
O evento, com uma abordagem económica que visou as esferas da Arte e da Cultura, foi realizado na cidade berço de Guimarães e do nosso monarca fundador Afonso Henriques.
Figura da História e Cultura nacionais, o conquistador pode bem representar a relevância do património artístico e cultural que nos distinguirá sempre à escala globalizada dos negócios. Esta foi também a tese que inspirou Ana Miranda, empreendedora nas áreas da Cultura e das Artes, com projetos em vários pontos do Mundo e com presença neste Encontro de Guimarães. Ana Miranda moderou o segundo painel do debate onde se apresentou o seu último Projecto Revolution Hope Imagination (RHI).
Exportar num mercado globalizado
O crescente processo de globalização que nos últimos anos tem vindo a definir e a moldar a economia mundial, obriga as empresas a constantes processos de ajustamento, identificando desafios e oportunidades que o mercado impõe e criando mecanismos de resposta rápida e eficiente.
No entanto, subsistem algumas nuvens no horizonte, fruto das debilidades da economia nacional e de hábitos enraizados e de difícil erradicação. Desde logo, a questão da distância ou proximidade dos centros de decisão. As empresas que estão mais longe de Lisboa sofrem com essa centralização? Ou será que todo o tecido empresarial português sofre da distância de Bruxelas, afinal de contas o verdadeiro centro de decisão da União Europeia?
Vítor Abreu, CEO da Endutex e um dos oradores convidados, não vê a distância física desses centros de decisão como algo de incontornável. Bem mais complicado é aquilo a que chama “ambiente regulatório doentio, que afoga as empresas em burocracia, multiplicando-se os pedidos de informação estatística e fiscal que obrigam a que parte da força de trabalho das empresas esteja quase em exclusivo dedicado a esta tarefa”.
No seu entender, “esta questão desvia recursos que podem ser valiosos para o planeamento estratégico das empresas”, ainda mais quando no horizonte se vão formando as tais nuvens, designadamente com a desaceleração da economia alemã e com o Brexit.
Prevenir o inevitável
Aliás, os empresários defendem que a indústria nacional já devia estar a receber inputs para enfrentar o arrefecimento económico que se avizinha. José Fernandes, Chairman da Frezite, um dos mais relevantes players do mercado no que diz respeito a ferramentas de corte, considera que “o principal motivo para este problema é a falta de comunicação que existe em Portugal, não existindo uma verdadeira rede entre os poderes político e empresarial para que as estratégias a gizar sejam as mais indicadas para cada momento”.
O resultado é que, regra geral, andamos a correr atrás do prejuízo, até porque, como referiu Luís Guimarães, CEO da têxtil Polopique, uma grande empresa em Portugal, situamo-nos no contexto europeu de dimensão média, com todas as fragilidades que daí advêm num mercado cada vez mais globalizado.
E depois há o Estado. Luís Guimarães frisa que “as empresas não querem ajudas, desejam apenas que o Estado as deixe trabalhar”, dirigindo especiais críticas à Lei do Trabalho. “O custo com o trabalho em Portugal é desproporcionado. É verdade que as pessoas ganham mal, mas a principal razão para tal reside na altíssima carga fiscal que onera as empresas de forma asfixiante. Para um salário de 600 euros, a empresa tem que pagar quase outro tanto em impostos”, lembrou o CEO da Polopique.
Outra questão que impacta de forma decisiva a competitividade das empresas portuguesas é o custo da energia, um dos mais caros da Europa. Todos estes problemas são levados em linha de conta na hora de um empresário se aventurar num novo investimento na economia portuguesa. Daí que Vítor Abreu manifeste o desejo de sentir que as empresas são vistas como um bem para o país e que haja uma verdadeira proximidade do poder político com as dificuldades que se sentem no terreno.
Mas a competitividade da economia portuguesa no exterior passa também por uma aposta clara na qualificação dos recursos humanos, um pilar fundamental das empresas a que urge dar cada vez mais atenção. Na opinião de todos os intervenientes, a qualificação terá um efeito spill-over em diferentes áreas da economia, elevando o conhecimento, fixando quadros e refletindo-se também nos salários. Não se pode pretender um colaborador altamente qualificado, e que é uma clara mais-valia para a empresa, e não lhe pagar de forma consentânea.
Conhecimento e cultura para Economia sustentável
O painel final, dedicado à Cultura, foi moderado por Ana Miranda do Arte Institute, instituto independente sem fins lucrativos – que abordou diálogo entre a Arte e os Negócios, a Cultura e o Turismo e veio trazer essa discussão para Portugal através de uma semana de talks, workshops e espetáculos por todo o país, reunindo curadores, programadores culturais e artistas vindos de várias partes do mundo.
Acompanhada de Sara Pereira da Silva, diretora do Big Dance Theater em Nova Iorque, e de Leticia Santinon, da Rede SESC Brasil, Ana Miranda salientou a importância de uma ligação estreita entre os negócios e arte, enquanto atividades que se podem, e devem, complementar, estabelecendo uma plataforma de diálogo frutuoso para as partes. Este não é ainda um caminho fácil. “As empresas estão muito mais preparadas para este diálogo do que os próprios artistas”, adiantou Ana Miranda, salientando a resistência de muitos agentes culturais quando a questão é angariar fundos para a sua atividade.
Sara Pereira da Silva contou a sua experiência como diretora de uma companhia teatral norte-americana, relatando uma realidade completamente diferente no que diz respeito à obtenção de financiamento para as artes. Já Leticia Santinon relatou a experiência do SESC em São Paulo, no Brasil, um projeto mantido pelos empresários de comércio, bens, turismo e serviços, tendo como objetivo proporcionar bem-estar e qualidade de vida aos trabalhadores deste setor, assim como às suas famílias, contando com uma sólida componente cultural e educativa.
Taxas de juros baixas ajudam as empresas
No encerramento destes V Encontros Fora da Caixa, Paulo Macedo, presidente da Comissão Executiva da Caixa Geral de Depósitos, lembrou que “este é um momento particularmente favorável para as empresas, com as taxas de juro historicamente baixas, permitindo alavancar projetos até agora de difícil concretização”. Como tal, frisou o responsável máximo da CGD, “o caminho a seguir pelas empresas deve passar pelo aumento de investimento para reforçar a posição nos mercados exteriores onde já se encontram, implementar projetos para redução de custos operacionais e reforçar o investimento para solicitar o mercado interno e em novos projetos de expansão externa”.
Além de Paulo Macedo, a Caixa fez-se representar pelo administrador executivo José João Guilherme que, além das boas vindas a convidados e oradores deu nota do facto de a sua vida profissional já ter passado por Guimarães, revelando por isso “conhecer bem os anseios e inquietações do tecido empresarial desta região”.
Esta V Edição da segunda série do Ciclo de Encontros Fora da Caixa prosseguiu com o debate vivo entre o historiador Rui Ramos e José Manuel Tavares.
Antes ainda do primeiro painel, a guitarra do artista vimaranense Manuel de Oliveira, lançava o mote dos trabalhos que se seguiram – à volta dos temas Economia e Cultura.
Os Encontros Fora da Caixa são uma iniciativa da Caixa Geral de Depósitos com vista ao debate de diferentes perspetivas para a sustentabilidade económica do País. A iniciativa foi lançada em 2017 e prossegue agora num segundo ciclo de conferências regionais.