Ainda assim, apenas podemos imaginar os sentimentos que o oceano Atlântico trouxe sobre os portugueses para os fazer partir à descoberta de um mundo novo.
Várias centenas de anos depois, o planeta está completamente diferente. Menos desconhecido para todos nesta era em que é tão fácil viajar. Mas também mais poluído e menos natural. E especialmente nas zonas mais litorais, incluindo a Europa, o velho continente. Em Portugal, felizmente, ainda temos lugares incríveis como o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, o pedaço de litoral europeu melhor conservado.
A área deste parque tem mais de 100 quilómetros de costa, desde o Burgau (Algarve) até Porto Covo (Alentejo), sendo conhecido – pelo menos de nome – por todos os portugueses e visitado por muitos zoólogos e botânicos de todo o mundo devido à sua fauna e flora singulares.
Mas a norte de Porto Covo há uma costa alentejana menos afamada, ainda que igualmente interessante. A proposta de hoje leva-nos a percorrer o litoral do sul do país entre dois rios: o Sado, a desaguar entre Setúbal e a Península de Tróia, e o Mira, que encontra o mar em Vila Nova de Mil Fontes (já no Sudoeste Alentejano).
Para percorrermos esta faixa da costa podemos optar por dormir em diferentes hotéis todas as noites, em zonas mais isoladas ou nas maiores povoações. Contudo, e tendo em conta que a distância é de cerca de 100 quilómetros entre os tais dois rios, outra hipótese é escolher um local sensivelmente no centro do percurso e depois percorrê-lo durante o dia regressando à base ao anoitecer. Neste caso, um hotel perto de Vila Nova de Santo André, Melides ou mesmo Sines será o ideal.
Partindo do princípio que decide estabelecer a tal base, a sugestão é que passe nela, pelo menos, 3 dias e 2 noites. Haverá tempo suficiente para conhecer a costa e deixar-se encantar ao ponto de voltar um dia, como tempo suficiente seguir para sul até ao Algarve.
De Vila Nova de Milfontes a Tróia: dia 1
Dada a posição geográfica da zona, o mais provável é que chegue a partir do norte ainda durante a manhã. Assim que deixar as malas no hotel, faça-se de novo à estrada para uma breve viagem com primeira etapa concluída na Praia de São Torpes. Este é o início de vários quilómetros de praias ao lado da estrada (M1109) que o vão querer fazer parar imensas vezes para ver o mar refletir a luz do sol e pôr o pé na areia.
O início da referida estrada é em frente da Central Termoelétrica de Sines, cujas turbinas usam a água do mar para arrefecer, devolvendo-a depois a uma temperatura maravilhosa para esta praia atlântica. Uma espécie de Saint Tropez à portuguesa.
Se a sua viagem for no verão, comprove que estas águas cálidas existem. Mas ainda existem 12 quilómetros de costa até Porto Covo onde poderá estender a toalha ou simplesmente apreciar as formações rochosas que aqui, como muito mais a sul, começam já a marcar presença.
Encontrar um lugar para almoçar na aldeia de Porto Covo é fácil. Basta sondar as ruas que o levam do bonito Jardim do Largo Marquês de Pombal até ao oceano.
Regresse a este largo para tomar café, um gelado ou uma sobremesa numa das várias esplanadas com vista privilegiada para as casas orgulhosamente pintadas do branco do Alentejo com salpicos de azul forte nos rodapés e vermelho nas portas e algumas janelas. Sem esquecer esta última cor também nas telhas, nos vasos decorativos ou nos bancos públicos. Uma curta caminhada leva-nos às falésias que abrigam pequenas praias, tornadas um pouco maiores com a maré vazia.
De volta à estrada, cerca de 5 minutos são suficientes para chegar à imortalizada Praia da Ilha do Pessegueiro, melhor avistada desde a areia ou do Forte do Pessegueiro. Vai ser difícil passar pela região sem trautear a canção de Rui Veloso.
A entrada em Vila Nova de Milfontes faz-se mais para o fim da tarde. Todos os caminhos vão dar ao seu ex-libris, o Forte de São Clemente, construído no século XVII para defender a povoação e apoiar o comércio marítimo. Caso tenha esse sonho e se se apressar, pode ser que ainda o consiga comprar, pois está à venda…
Jante por aqui. Mas não sem antes visitar as praias. Pode atravessar a ponte para a margem sul e conhecer a das Furnas ou, ainda na margem norte, explorar a Praia do Farol. Em comum, têm o facto de possuírem ambas uma frente rio e outra mar.
De Vila Nova de Milfontes a Tróia: dia 2
O segundo dia está reservado para descontrair perto do seu hotel (se tiver definida a base de operações no local sugerido acima), com pouca estrada para percorrer. Passear em Sines é uma ótima opção. Visite o centro da cidade e aproveite o tempo para entrar no Castelo de Sines, bem lá no alto. Talvez este tenha sido o local onde o mais conhecido filho da terra, Vasco da Gama, começou a ousar sonhar cruzar oceanos.
Para conhecer ainda aqui durante o dia tem as praias da costa norte, antes ou depois de almoço. Depois, ultrapassado o Complexo de Sines, encontra o sistema lagunar costeiro das lagoas de Santo André e da Sancha, importantes a nível ecológico e protegidas do mar pelas dunas. Faça um passeio no passadiço de madeira e aproxime-se das águas. A seguir, investigue a Praia de Melides, talvez aquela que tem a maior extensão do país.
Dada a proximidade de Vila Nova de Santo André, e organizando o tempo da forma que lhe parecer mais aliciante, pode ainda optar por duas outras atividades: a velocidade do Santo André Kartódromo Internacional ou a vida selvagem do Badoca Safari Park. Fica ao seu critério.
Dia 3: o regresso a casa pela Comporta
O último dia, o do regresso a casa, não é menos interessante. Seguindo pela N261, apenas 42 quilómetros separam Vila Nova de Santo André da aldeia da Comporta. Depois, apenas mais cerca de 7 quilómetros até ao Cais Palafítico da Carrasqueira, já em plena Reserva Natural do Estuário do Sado, nascido da necessidade dos pescadores da região chegarem mais facilmente aos seus barcos durante a maré vazia.
Atualmente possui centenas de metros onde podemos passear, entretidos com a descoberta do nome das embarcações, a azáfama dos pescadores e a paisagem que nos rodeia.
Tróia é o próximo ponto de passagem. Nos dias de hoje, toda a península de areias brancas e águas de cores quase caribenhas é um pequeno paraíso para praticar desportos náuticos como o windsurf ou a vela. É ainda melhor para relaxar na praia acessível logo desde o estacionamento ou na mais isolada zona após os longos passadiços através das dunas.
Nesta península poderá ainda passear na marina (com as suas lojas, restaurantes e casino), visitar as ruínas romanas onde outrora se produziam conservas e molho de peixe, fazer atividades marítimas como observar os golfinhos do Sado.
Para acabar a viagem, porque não apanhar o ferry boat até Setúbal e sentir a brisa no cabelo? A perspetiva da foz do rio Sado lembra-nos que é bom viver em Portugal.
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