Share the post "Professor Carlos Ramalhão: menos sal, tabaco e mais exercício contra a hipertensão arterial"
As doenças cardiovasculares continuam a ser a primeira causa de morte na Europa. Apesar dos progressos consideráveis nesta luta, a alimentação continua a estar na base do problema.
Todos nós ouvimos falar em “alimentação saudável”, mas será que compreendemos totalmente o significado desta expressão? Será que a população consegue reconhecer quais as repercussões que poderão estar associadas a um estilo de vida acelerado e a uma alimentação inadequada?
Estima-se que em Portugal, morram anualmente, cerca de 35 mil pessoas por doenças cardiovasculares.
Como pode ver, tratam-se de números elevados que, na maioria dos casos, poderiam ser evitados com uma simples mudança nos hábitos alimentares.
Associados às doenças cardiovasculares, estão alguns fatores de risco como o tabagismo, o sedentarismo, a obesidade, o stress, a diabetes, o colesterol elevado e a hipertensão arterial.
O Professor Carlos Ramalhão, diretor da Clínica do Coração e Presidente das comissões científica e organizadora das Jornadas de atualização cardiológica do Norte para Medicina Geral e Familiar, responde a algumas questões sobre a hipertensão arterial. Tome nota.
Entrevista com o Professor Carlos Ramalhão: prevenir a hipertensão arterial
Ekonomista: A maior parte das pessoas pensa que a hipertensão arterial está associada a um valor alto da tensão arterial, e não a uma doença crónica. O que é afinal a hipertensão arterial?
Professor Carlos Ramalhão: Trata-se de uma doença com várias causas, umas curáveis (HTA secundária), outras só tratáveis com redução do valor da pressão arterial (HTA primária) – esta mais frequente. Na HTA secundária podemos incluir a coarctação da aorta, alguns tumores das glândulas suprarrenais e estenoses das artérias renais, por exemplo.
Na HTA primária não se evidenciam causas e o valor da TA elevada atribui-se a um aumento de resistência da parede da artéria que é pura e simplesmente causado pelo excesso de sal na alimentação ou pelo envelhecimento da parede da artéria com deposição de placas de colesterol (por exemplo).
De uma maneira geral podemos considerar que a HTA é o aumento de resistência na parede da artéria quando o sangue é lançado nas circulações periférica e pulmonar (desta falaremos em último lugar).
EK: Acima de que valores de tensão arterial se pode considerar hipertenso? Existem vários patamares?
CR: Consideram-se valores normais para o adulto saudável entre 130/80 mmHg. Refira-se que com a idade e endurecimento das paredes artérias o valor “normal” da TA pode ser um pouco mais elevado mas nunca ultrapassando os 140/90 mmHg.
EK: Quais são as causas da hipertensão arterial?
CR: São inúmeras as causas de HTA primária: a “simples ida ao médico” pode fazer subir a TA (HTA da “bata branca”). A mais frequente é sem dúvida o endurecimento da parede das artérias com a idade que é agravada por um excesso de ingestão de sal, consumo de tabaco, de fármacos ou drogas que tornem as artérias menos elásticas e mais rígidas.
Como referimos atrás, a deposição de placas de colesterol também torna as artérias mais rígidas. Outra causa importante é o stress que por libertação de hormonas como a adrenalina, aumenta a rigidez da parede arterial.
EK: A hipertensão arterial é assintomática, na maior parte dos casos. Existem alguns sintomas para os quais a pessoa deva estar alerta?
CR: A HTA é, a maior parte das vezes, assintomática, mas vai causando danos na parede arterial com maior possibilidade para a deposição de placas de colesterol, o que perpetua a situação. Por vezes só se deteta em exames de rotina efetuados na prática médica ou em rastreios dirigidos.
Um sintoma que por vezes é desvalorizado são as dores de cabeça por vezes localizadas acima da nuca ou nas regiões fronto-parietais.
EK: Além do Acidente Vascular Cerebral (AVC) e do enfarte do miocárdio, quais são as outras complicações da hipertensão arterial?
CR: Além do enfarte do miocárdio e dos acidentes vasculares cerebrais, a HTA provoca com muita frequência lesões ao nível das artérias carótidas também nas artérias renais, condicionando insuficiência renal grave que pode levar o doente a fazer diálise ou a ser transplantado.
EK: A hipertensão arterial é uma das várias doenças cardiovasculares, e como consequência tem fatores de risco associados. Quais são esses fatores?
CR: Existem inúmeros fatores de risco na HTA. Já falamos do sal, tabaco, drogas, excesso de trabalho com pouco descanso e tudo aquilo que possa provocar aumento dos valores de colesterol no sangue e que ingerido com a alimentação.
O stress de que atrás falamos é também fator de risco. Existem inúmeras situações que o provocam no nosso dia a dia.
Dicas: Comam com a menor quantidade de sal possível (…) Não fumem (…) Não tomem medicamentos sem perguntar ao médico (…) Façam meia hora de marcha por dia.
EK: É a hipertensão uma patologia curável?
CR: Em algumas situações a HTA é curável como acontece nas causas secundárias: pode operar-se (hoje já se resolve o problema de outro modo) uma coartação da aorta; operar-se um tumor da suprarrenal; operar-se para dilatar as artérias renais, etc.
EK: Que tipos de tratamento existem para a hipertensão arterial?
CR: Quando não se consegue curar a HTA existe uma quantidade enorme de fármacos para tratar a HTA, mas não se deve esquecer que se deve começar sempre por medidas não farmacológicas como o corte de sal na alimentação, a cessação tabágica entre outras, atrás referidas (drogas).
EK: De que forma a alteração do nosso estilo de vida pode influenciar a evolução da doença?
CR: Um aspecto importante do estilo de vida, além dos referidos, é a pratica de exercício físico… e é tão simples e barato: meia hora de marcha, em passo ligeiro, todos os dias e ter cuidado com a boca fazendo refeições pequenas e repartidas ao longo das 24 horas. Nada de almoçaradas ou jantaradas e com pouco álcool.
EK: Sabendo que a hipertensão arterial pode passar despercebida e que muitos doentes não cumprem o tratamento, que mensagem gostaria de deixar aos nossos leitores?
CR: A mensagem a deixar a todos é que comam com a menor quantidade de sal possível e se possível sem sal nenhum, porque isto é muito importante: os alimentos têm a quantidade de sal de que o organismo precisa; não fumem pela vossa rica saúde; não tomem medicamentos sem perguntar ao médico (atenção e com todo o respeito pelos farmacêuticos, eles não são Médicos). Façam meia hora de marcha por dia.