Os pais são, antes de mais, seres humanos; e, como tal, certamente erram na educação dos filhos. Quais os maiores ou mais frequentes erros dos pais no complexo processo de educar?
É normal os pais cometerem erros no decorrer da hercúlea tarefa de educar os seus filhos. Ninguém é perfeito, nem mesmo os pais mais exigentes. O crescimento é uma longa viagem cheia de desafios, e sobretudo muito trabalho – não é fácil, decerto.
Ser pai compensa os momentos mais complicados, mas é inevitável ouvir pais dizerem que se arrependem de algumas decisões em relação ao desenvolvimento dos seus filhos. Quais são então os maiores erros dos pais na educação do seus filhos?
Uma ressalva:
Não queremos, de forma alguma, afirmar que há formas corretas e incorretas de educar. Uma vez mais afirmamos: não há seres humanos perfeitos – logo, não há pais nem filhos perfeitos. De igual modo, não existe um manual de instruções para educar: embora não faltem nas estantes de qualquer livraria inúmeros volumes sobre a parentalidade, nenhum deles foi escrito à medida da personalidade do seu filho ou da sua, por isso, nenhum é 100% infalível.
Podemos, no entanto, retirar dos exemplos de outros pais algumas lições e estratégias a adaptar à nossa própria realidade familiar.
Os 6 erros comuns na educação dos filhos
Aqui ficam alguns dos erros dos pais na educação dos seus filhos.
1. Expectativas
Um dos erros mais comuns que os pais cometem quando educam um filho é estabelecer para si mesmos, e para os filhos, a inatingível meta da perfeição. No que toca à realização profissional, por exemplo, ser bem sucedido é muito subjetivo. Para muitos, é obter o emprego de sonho, para outros é obter o melhor salário, para outros é gostar daquilo que se faz, para outros é ter tempo livre, para outros é estar apenas financeiramente confortável, para outros ainda é ser famoso ou reconhecido socialmente.
Há várias maneiras de quantificar o sucesso, e normalmente giram em torno de valores como riqueza, altruísmo, poder, reconhecimento, estatuto, entre outros. Nada de errado existe em perseguir o sucesso; no entanto, tudo se complica quando a definição de sucesso dos pais difere da dos filhos e essa diferença não é bem aceite.
Se um pai valoriza o enriquecimento e o filho valoriza a possibilidade de ter uma vida parca em recursos mas que permita, por exemplo, viajar em regime de nomadismo profissional, ou respeitam as escolhas um do outro, ou das suas opções de vida podem resultar alguns conflitos.
O que recomendamos? Muito diálogo sobre os gostos e preferências únicos dos seus filhos e valorização das crianças e jovens como indivíduos com direito às suas opções pessoais e profissionais. Não eleve demasiado as expectativas – na verdade, a maior expectativa de todas deve ser que seja uma pessoa com bons valores e feliz.
2. Elevar o tom de voz
Quem nunca elevou o tom de voz numa discussão que atire a primeira pedra. Mas o facto de este comportamento ser “vulgar”, não significa que seja inócuo. As crianças mais pequenas reproduzem-no com os pais, professores e pares, os jovens-adultos, com os seus companheiros, e um pai que grita com os seus filhos, na verdade, perde a legitimidade que poderia ter para educar os filhos para serem corteses na escola, na sala de aula, com as figuras de autoridade em geral.
Além do mais, gritar com os filhos constantemente dessensibiliza-os, isto é, faz com que se tornem insensíveis ao levantar da voz, necessitando de estímulos cada vez mais agressivos para se comportarem bem.
Embora seja compreensível que os pais percam a paciência e desesperem, elevar o tom de voz é mesmo um dos erros dos pais na educação dos filhos: é contraproducente. O seu filho vai imediatamente aperceber-se de que está a perder o controlo e vai usar isso a seu favor. A mensagem que sucessivos gritos e ameaças produzem é que o pai não está no controle da situação – a sua autoridade encontra-se comprometida.
O que fazer? Ajude o seu filho a compreender as consequências naturais do seu comportamento.
Se partiu o comando da TV, a consequência natural não é um grito dos pais, mas a impossibilidade de ver TV durante dias ou semanas. Pode transmitir-lhe esta mensagem serenamente, sem subir o tom de voz.
3. Envolvimento excessivo na vida dos filhos
Este é o erro mais comum, e talvez o mais motivado pela excelente intenção de proteger e acompanhar a criança. Muitos pais têm tendência para estarem completamente envolvidos nas vidas dos filhos, muitas vezes sem se darem conta de que estes, de forma adaptada ao seu grau de desenvolvimento, necessitam de autonomia para crescerem saudáveis.
Naturalmente, quem age dessa forma está a ser bem intencionado, e é precisamente por essa razão que quando se apercebem do erro, os pais se sentem destroçados.
É bom estar envolvido e presente na vida dos seus filhos, mas querer que eles ajam em todas as situações exatamente como os pais agiriam está errado. O seu filho não tem que ser igual a si. É fundamental saber quando dar um passo atrás e deixá-lo pensar com a própria cabeça.
Este erro poderá custar caro: normalmente uma criança habituada a que os pais tomem todas as decisões por si, poderá muito provavelmente desenvolver alguns problemas de ansiedade e dificuldade em resolver problemas, assim como baixa tolerância à frustração. Este envolvimento exagerado por parte dos pais em relação à vida dos filhos é uma consequência de uma educação baseada na superproteção.
4. Regras, mas poucas
Não ser firme e coerente nas regras e limites que impõe pode ser desastroso na relação com os seus filhos. Se não agir de forma consistente sempre que precisar de negociar com o seu filho, poderá estar em apuros. Isto porque eles apercebem-se de que é fácil demovê-lo da sua intenção, e logo começam a ultrapassar os limites que quer impor. Basta não agir de forma coerente uma vez para o seu filho lhe dizer que “se da outra vez pude fazer aquilo daquela maneira, então desta vez também deveria poder”.
Não permita que o seu filho altere as regras ou que ele negoceie uma consequência diferente após a ocorrência. Ao permanecer firme e claro, está a ajudar o seu filho a responsabilizar-se pelas suas ações.
5. Diálogo insuficiente
Por vezes, os pais assumem que conhecem os seus filhos quando realmente não os conhecem para além da superfície e do que os seus comportamentos mostram. Aliás, alguns pensam que conhecem os seus filhos melhor do que eles próprios. Lá estamos outra vez a entrar no campo das boas intenções, mas não passa disso. Ninguém os conhece melhor do que eles mesmos. Um pai que está convencido de que conhece os seus filhos melhor do que eles mesmos é alguém que não vai confiar nas escolhas dos filhos, e vai querer fazer todas as escolhas por eles.
Não há nada mais importante do que eles seguirem o seu próprio caminho, as suas próprias ideias. Naturalmente, numa situação destas, como consequência, o filho tornar-se-á demasiado dependente dos pais. Não assuma que as escolhas dos seus filhos têm que ser rigorosamente iguais às suas, só porque ele apresenta parecenças consigo.
6. Perfecionismo
Um pai perfecionista está cheio de boas intenções. Mas este ingrediente, na educação, é perigoso, porque não lhe permite ver o que o seu filho alcança de positivo – pelo contrário, fá-lo ver tudo o que o filho faz como sendo insuficiente.
Além do mais, um pai perfecionista com os filhos é provavelmente também muito exigente consigo mesmo. Não tente ser perfeito como pai, assuma os seus erros, peça desculpa aos seus filhos quando errar, fale das suas dificuldades e partilhe as suas experiências. A relação pai-filho é para a vida toda: cultive-a!