Apesar de ser uma tarefa diária para toda a gente, lidar com dinheiro continua a ser um desafio difícil de superar para muitas famílias portuguesas. Em grande parte dos casos, o que está em causa nem sequer é a falta de vontade: é a falta de literacia, que leva as pessoas a cometerem erros financeiros que, no longo prazo, as impedem de cumprir objetivos.
Estes erros são, quase sempre, fáceis de evitar. Basta ajustar a perspetiva, mudar a forma como encara a sua situação financeira e a gestão que vai fazendo dela. Se comete um ou vários erros dos que listamos abaixo, não se preocupe: basta afinar alguns detalhes para voltar encontrar o equilíbrio que procura.
Erros financeiros que deve evitar a todo o custo
Não conhecer bem os seus rendimentos
Por incrível que pareça, muitas pessoas não sabem, ao certo, quanto ganham – e esse é um dos piores erros financeiros. Se não sabe quanto ganha, como vai saber quanto pode gastar e poupar?
Seja qual for o seu objetivo, comece sempre por saber, de cor, quanto entra no orçamento familiar todos os meses. Considere salários, rendimentos suplementares e todos os rendimentos estáveis.
Claro que, para que estas contas sejam bem feitas, convém dominar minimamente o tema da fiscalidade. Conhecer o peso dos impostos no seu salário e saber diferenciar o salário bruto do salário líquido – e, já agora, saber que impostos se aplicam aos rendimentos suplementares – é fundamental para ter uma ideia realista do dinheiro que vai ter disponível em cada mês.
“Empurrar com a barriga”
Quando o tema é gestão de orçamento familiar, há dois tipos de pessoas: as que começam por pagar todas as contas e só depois planeiam os gastos extra; e as que se perdem nas compras e acabam, invariavelmente, a roer as unhas quando chega a conta da eletricidade.
Se pertence ao segundo grupo de pessoas, talvez queira pensar melhor sobre os seus erros financeiros.
Sabendo que o seu rendimento disponível é limitado e que há obrigações a cumprir, invariavelmente, todos os meses, a melhor política é a de cumprir primeiro os seus compromissos e só depois pensar em comprar uns mimos.
Já que estamos numa de delinear cenários ideais, deve ter sempre uma noção da grandeza das suas despesas mensais. Já deve ter reparado que a conta da luz anda sempre à volta dos mesmos valores, tal como a das telecomunicações ou da água. Anote esses números e use-os como referência para o planeamento do mês seguinte – assim sabe sempre que quantia deve ter disponível à partida para dormir descansado.
Não ter um fundo de emergência
Até pode ser a pessoa mais organizada do mundo e fazer as contas certinhas todos os meses: os imprevistos podem acontecer-lhe na mesma e, não estando preparado para eles, acaba a contar tostões insuficientes.
Não ter um fundo para emergências é um dos erros financeiros mais comuns, mas também um dos mais fáceis de corrigir. Comece a separar, todos os meses, uma percentagem do seu rendimento. Se tiver dificuldade em disciplinar-se, guarde-a numa conta à parte para não gastar tudo num momento de maior impulsividade.
Apesar de não haver uma referência de valor fixa para o fundo de emergência – até porque ele depende sempre da folga que tem nos seus rendimentos -, faça as contas a, pelo menos, três salários. Assim, se o seu salário for, por exemplo, de 1000 euros, deve ter um fundo de emergência de 3000€ preparado para qualquer eventualidade.
Ser condescendente consigo mesmo
O maior problema da auto-condescendência é que ela é, muitas vezes, o ponto de partida para todos os outros erros financeiros. Mexeu no fundo de emergência para comprar um telemóvel? “Estava mesmo a precisar”. Atrasou a prestação da casa? “Este mês tive mais despesas”.
Arranjar desculpas para a sua falta de disciplina é um mau princípio quando procura o equilíbrio financeiro. Depois de estabelecer os seus objetivos e delinear uma estratégia, mantenha-se firme e seja exigente consigo mesmo: é tudo para cumprir à risca, sem desculpas. E quando falhar, obrigue-se a compensar no mês seguinte.
Deixar-se levar pelo sonho (e pela ilusão das redes sociais)
Infelizmente este é um dos erros financeiros mais comuns da atualidade, em parte porque é estimulado pelas redes sociais e pelas vidas aparentemente perfeitas que lá encontramos. A avaliar pelos influenciadores, quase acreditamos que é fácil ter um bom carro, uma casa digna de capa de revista ou umas férias num destino paradisíaco.
O problema é que não, não é fácil nem é para todos os bolsos. Se o seu rendimento não lhe permite fazer férias nas Maldivas e ficar confortável na mesma, então não pode ir às Maldivas. Mantenha-se realista sobre o que pode e não pode comprar, porque as despesas exageradas de hoje são as dívidas galopantes de amanhã.
Uma boa forma de evitar cair na armadilha dos sonhos é avaliar o custo-benefício daquilo que vai comprando. Pode até precisar de comprar um carro para ir trabalhar; mas faz-lhe diferença se é um carro utilitário ou um SUV? Claro que também precisa de uma casa para viver; mas faz sentido gastar o triplo em renda só para viver no centro da cidade? Sempre que a resposta for negativa ou incerta, então não está perante uma boa compra para si.
Pagar créditos com mais créditos
Pedir um crédito para pagar outro é um dos erros financeiros mais clássicos – e, inacreditavelmente, continua a ser cometido todos os dias.
Dívidas não se pagam com mais dívidas, porque só está a adiar o problema. Se tem um crédito que lhe pesa no orçamento, é hora de fazer as contas ao que é preciso ajustar para acabar com ele de vez. Terá de acabar com a subscrição do serviço de streaming? Pois que seja. Daqui a uns meses, quando estiver livre desse crédito, vai ficar com ainda mais dinheiro disponível todos os meses e – aí sim – vai agradecer a si mesmo pela disciplina que teve.
A exceção, neste caso, vai para o crédito consolidado, que, em determinadas situações, pode ser uma boa alternativa para organizar as dívidas. Mas mesmo nesse caso terá de fazer bem as contas para perceber se está a tomar a decisão correta.
Não ser financeiramente transparente com o parceiro
Já ouviu falar em infidelidade financeira? Pois saiba que ela faz parte da lista de erros financeiros que deve evitar.
A infidelidade financeira explica-se pela falta de transparência com o parceiro sobre a sua situação financeira – seja porque tem dinheiro guardado numa conta escondida, seja porque tem dívidas das quais o parceiro não está a par.
O grande problema da falta de transparência financeira entre casais – para além da evidente falta de confiança e honestidade – é que, não raras vezes, um dos elementos descobre que está a ser disciplinado e focado em objetivos para os quais o outro não está a contribuir (ou, pior, está a boicotar).
É essencial que todos remem na mesma direção para que o orçamento familiar funcione. Quando isso não acontece, o planeamento desvanece-se e cada um faz a gestão que entende. O resultado? Poupanças pequenas ou inexistentes e zero vontade de construir um futuro financeiro equilibrado para os dois.
Não preparar o futuro
Fazer orelhas moucas ao facto de, um dia, precisar de se reformar é um erro, mas ignorar o futuro a médio prazo também está na lista de erros financeiros a evitar.
Quando o tema é dinheiro, há dois tipos de futuro: aquele que chega daqui a algum tempo e aquele que chega daqui a muito tempo. Ambos precisam de ser preparados.
Primeiro o futuro a médio prazo: prepare-se para despesas que, não sendo para já, sabe que vai ter de fazer e que vão ser avultadas: obras em casa, propinas da universidade para os filhos,… Há gastos que sabemos com muita antecedência que vamos ter e que, por isso, devem ser preparados com tempo para não caírem como uma bomba no orçamento familiar.
Depois o futuro a longo prazo: ninguém caminha para novo e todos vamos querer reformar-nos um dia. Quando esse dia chegar, vai querer ter um nível de conforto pelo menos equivalente ao que tem agora – e para isso terá de poupar e investir o seu dinheiro da forma certa. Por muitos anos que faltem, o ideal é começar já: quanto mais cedo, mais poupa e mais tempo dá ao dinheiro para se multiplicar.
Certamente notou que nenhum destes erros financeiros é particularmente complicado de resolver ou evitar – ainda que alguns impliquem uma alteração de hábitos e comportamentos que pode ser mais desafiante para os menos disciplinados.
Assim, não há motivo para não começar já hoje a cuidar melhor do seu bolso: já tem um ponto de partida e uma estratégia básica delineada. A partir daqui, é consigo!