Share the post "Parentalidade: esperar ou não esperar para ter filhos no momento certo?"
O discurso é o mesmo em praticamente todas as casas: de um lado, o jovem casal que até sonha com berços e fraldas (mas que receia não ter como financiá-los); do outro, os casais mais velhos que juram, a pés juntos, que o tal “momento certo para ter filhos” nunca chega e, se formos esperar por ele, morremos sem descendência.
A verdade é que o seu bolso não deve decidir o momento de fazer nascer a prole. Ter ou não ter filhos é uma questão de desejo biológico, até de momento biológico – não é por acaso que ninguém tem desejo de engravidar aos 80 anos, certo? -, por isso, se está mesmo certo de que este é o momento para avançar, não deixe que sejam os euros a decidir por si. Como dizem os nossos pais (todos os pais o dizem!), os filhos criam-se sempre, com mais ou com menos orçamento.
Atirar a parentalidade para mais tarde, contudo, envolve muito mais variáveis do que apenas o orçamento familiar. Por esse motivo, descrevemos-lhe abaixo alguns pontos de reflexão sobre as áreas onde sentirá mais o peso da sua decisão. Pense em todos com calma antes de decidir se está pronto para contratar já a parteira ou se prefere adiar o bebé para os planos do próximo ano.
Que diferença faz ter filhos mais cedo ou mais tarde?
Verdade seja dita, faz toda a diferença, por muitos motivos. No entanto, não se pode dizer que o impacto de ter filhos mais tarde é sempre negativo, tal como não se pode garantir que filhos cedo são um fardo. Depende de cada família, de cada casal, de cada lar. Mas vamos por tópicos.
A idade dos avós também conta
Imagine quão bom seria poder deixar os seus filhos pequenos em casa dos avós de vez em quando, para não ter de faltar ao trabalho e ficar a cuidar deles quando estão doentes ou simplesmente para ter direito a um jantar a dois uma vez por mês.
Se, quando os bebés são pequenos, os avós têm uma idade avançada, este cenário idílico perde a probabilidade de acontecer – não pode deixar uma criança de dois anos aos cuidados de um octagenário, porque ele não terá energia suficiente para cuidar dela.
Adiar a parentalidade também pode colocá-lo a si numa situação delicada, a da chamada “geração sanduíche”: que fica presa a cuidar dos filhos pequenos e dos pais idosos em simultâneo. Esta é uma posição muito delicada e exigente, que muitas vezes desgasta os cuidadores e pode levar a impactos muito negativos na vida pessoal – quer ao nível emocional, quer ao nível financeiro.
A carreira espera para começar ou pára de avançar?
De forma muito resumida: ter filhos em início de carreira vai, já sabemos, dificultar a progressão. Não devia, é injusto… mas acontece. Assim, se estiver a pensar trazer um bebé ao mundo nos primeiros anos de carreira, prepare-se para vários anos de incerteza e de julgamentos, de medo de perder o emprego e dificuldade em encontrar um novo, porque, mesmo que ninguém o diga, empresa nenhuma quer contratar um colaborador que tem outros compromissos mais fortes em casa.
Por outro lado, se está decidido a construir primeiro uma carreira e depois ter os filhos, saiba que não será tudo tão fácil como imagina: quem é que, depois de tantos anos a trabalhar para chegar a uma posição profissional confortável, vai querer arriscar tudo de um dia para o outro? Porque esse risco existe: as faltas, cedências, baixas médicas e saídas inesperadas em prol dos filhos vão sacrificar a sua disponibilidade para cumprir as responsabilidades todas que assumiu. Será que vai conseguir aceitar essa escolha?
Da forma mais honesta possível, o mais que o mundo lhe pode dizer sobre este assunto é que o momento profissional certo para ter filhos simplesmente não existe.
Pode ter melhor ou pior sorte com o seu empregador, encontrar colegas mais ou menos compreensivos e respeitadores do seu direito a ser pai ou mãe (ou as duas coisas), mas nunca chegará o dia em que dirá “pronto, agora sim, posso avançar”. Vai sempre ter um contrato a termo, ou um salário que podia ser melhor, ou uma perspetiva de promoção que pode acabar gorada.
As despesas são proporcionais aos rendimentos
Alguma vez deu por si a observar um casal jovem, de baixos rendimentos, e a perguntar-se como conseguem criar os filhos e evidenciarem uma tão sincera felicidade? É normal e nós explicamos porquê: é que, e aqui a matemática não engana, eles só gastam o que têm para gastar. Simples.
Repare: assumindo que, a partir do dia em que se tornar pai, vai passar a viver focado na construção da felicidade do seu rebento, é de prever que queira dar-lhe o mundo e mais alguma coisa. Se tiver altos rendimentos, vai querer dar-lhe tudo do melhor, talvez algo ainda melhor que isso, nem que tenha de fazer um esforço extra para poder pagar. Resultado? Acaba escravo do trabalho e da necessidade constante de ganhar mais para dar mais às crianças.
Quando os rendimentos são baixos logo à partida, por outro lado, não há muitas magias a fazer: compra-se o que o dinheiro permite (que é o básico) e já está. Todos assumem que ninguém vai ter um telemóvel de mil euros no bolso, todos vivem bem com isso.
A gestão das expectativas é mais equilibrada e, no fim das contas, os filhos chegam à idade adulta com uma “pegada financeira” muito menor no orçamento dos pais, que gastaram bem menos para os educar.
A sua idade física e a sua idade mental podem não ser iguais
Dito assim parece que estamos a chamar-lhe infantil, mas não é nada disso: é que, às vezes, o nosso cérebro só atinge a maioridade depois de o nosso corpo já estar instalado nela há muito tempo.
Vamos simplificar, começando pela idade física. Esta idade não tem muito mais para descobrir do que aquilo que já sabemos: ali a partir da adolescência o nosso corpo está preparado para gerar bebés e começar a reproduzir-se nos dez ou quinze anos seguintes. A nossa mentalidade, por outro lado, já não anda tão depressa, e somos muito mais maduros aos trinta anos do que éramos aos quinze. O que é que isto quer dizer?
Que, se formos pais mais cedo, temos melhores chances de que tudo corra pelo melhor, porque o nosso corpo está na flor da idade fértil. Por outro lado, se formos pais mais tarde teremos outra abordagem, mais madura e mais paciente, e educaremos os nossos filhos de outra forma.
Que escolha fazer, então? Vai depender do que o seu instinto lhe disser. Ouça o seu corpo, porque ele vai dizer-lhe quando estiver com vontade de gerar crianças. Em princípio, o seu cérebro deverá acabar por entrar na harmonia, transmitindo-lhe o mesmo desejo. Quando sentir essa combinação, é hora de avançar.
Como decidir?
Acima de tudo, o importante é decidir com calma. Lembre-se que um filho é uma escolha permanente, para toda a vida, e por isso deve ser trazido ao mundo com muito, mesmo muito desejo.
Olhe à sua volta, avalie a sua vida, a sua relação, a sua família, a sua estrutura emocional e financeira, fale com todas as pessoas que puder e peça conselhos. Acima de tudo, não se deixe tomar pela angústia e tranquilize-se: no fim das contas, é mesmo verdade que tudo se cria.
Veja também: