A pergunta é provocatória, mas é para o obrigar a pensar um pouco na sua situação financeira. Quero falar-lhe sobre os estados básicos das finanças pessoais onde cada um de nós se encontra. Em cada fase da nossa vida estamos num destes 4 patamares financeiros básicos, e surpreendentemente talvez esteja – sem se aperceber – na categoria dos endividados. Vamos por partes.
O estado Saudável
É o estado em que todos devíamos estar. É aquela pessoa ou família que consegue gerir bem toda a sua vida financeira, conhece as suas receitas e todas as suas despesas e, no início de cada mês, coloca automaticamente de lado numa poupança ou ferramenta de investimento, mais de 20% dos seus rendimentos.
Dito de uma forma simples, é uma pessoa ou família que independentemente do valor dos salários consegue gerir e fazer escolhas diárias, semanais ou mensais, que lhe permitem ter um “lucro” regular de pelo menos 20%.
Um valor assim, acumulado e investido, permite-lhe lidar com qualquer imprevisto “normal” ou circunstâncias adversas, como as que estamos a enfrentar no momento em que escrevo, com uma inflação altíssima e com rendimentos estagnados.
O estado Equilibrado
Este será talvez o estado em que a maioria deveria estar, pelo menos antes de conseguir passar para o “saudável”.
É a família que consegue poupar ou reservar mensalmente 10% dos seus rendimentos. Não vai conseguir reformar-se aos 45 anos, vivendo apenas dos seus rendimentos, mas está no bom caminho para uma vida equilibrada financeiramente.
Vai conseguir lidar com situações imprevistas, acidentes, avarias, doenças, e desemprego durante algum tempo. E depois de ter o famoso Fundo de Emergência, vai começar a investir e a rentabilizar uma parte do seu dinheiro, no sentido de criar uma almofada financeira que vai fazer toda a diferença no seu futuro.
O estado Endividado
Este patamar é, talvez, aquele que o vai surpreender. Nenhum de nós – que consegue pagar as suas contas mensalmente com maior ou menor sacrifício – se considera uma pessoa endividada. Eu estive quase 20 anos nesse estádio e nunca me considerei uma pessoa endividada. Até consideraria ofensiva essa ideia se alguém me dissesse isto assim tão abertamente.
A questão é que se não consegue poupar nada do seu salário está apenas a um passo de se tornar uma pessoa sobre-endividada (que é o quarto estado). Se não consegue pôr de lado nem 10% do seu salário todos os meses, e o dinheiro só chega para pagar as suas contas – e tem por vezes de recorrer ao seu subsídio de Férias ou de Natal ou ao IRS – qualquer imprevisto que surja vai empurrá-lo para uma situação muito difícil.
Se tem um crédito (vamos esquecer o crédito à habitação) pessoal, automóvel, dívidas de cartão de crédito ou outras dívidas está claramente no estado Endividado.
No mundo financeiro ideal, todas essas compras deveriam ser feitas a pronto ou com o menor recurso ao crédito possível. Se deve alguma coisa a um banco ou financeira, é uma pessoa endividada. Esqueça o conceito equivocado de que uma pessoa endividada é aquela que já passou o prazo de pagamento de uma conta. Isso é o sobre-endividado, como vai ler a seguir.
Se está nesta situação de poupança zero e de algum crédito ainda por pagar, aja imediatamente! Liquide o mais depressa possível esses créditos que sugam o seu dinheiro com juros e logo de seguida pegue nessa diferença e crie a tal poupança automática que vai começar a mudar a sua vida para melhor.
O estado sobre-endividado
É a fase em que está a pessoa que já falhou pelo menos o pagamento de uma fatura. Pode até pensar que isso dos “sobre-endividados” é só para quem falha pagamentos grandes e que não ter pago a tempo uma fatura de telecomunicações ou a luz um mês ou outro não é assim tão grave. Engana-se! Esse é só o primeiro sinal de que já caiu na armadilha do sobre-endividamento.
A partir daí é sempre a descer. Saia imediatamente desse buraco. Procure ajuda de profissionais, como a DECO, os CIAC das Câmaras Municipais, gabinetes de apoio como o que existe no ISEG, etc. Renegoceie todas as suas dívidas e sobretudo aquelas que ainda não falhou. Ligue para as empresas e explique a sua situação e peça ajuda. Não empurre o problema com a barriga porque só vai piorar a sua situação.
Em resumo, seja honesto consigo próprio e veja em qual destes 4 estados financeiros está. E não se esqueça de que nenhum estado é irrecuperável, nem nenhum é garantidamente eterno. A nossa vida financeira é como a nossa vida em geral, tem altos e baixos. O que vai fazer a diferença é a consciência de cada momento em que está e a definição dos objetivos que pretende atingir e daqui a quanto tempo. Aproveite para fazer neste momento a sua selfie financeira!