Após meses de candidaturas espontâneas, de actualização do curriculum, de redação, edição e pós-edição de cartas de apresentação – quem passa por isto percebe do que estou a falar – a Joana assinou um contrato de estágio numa pequena empresa de tradução (os famosos estágios do IEFP). No primeiro dia de trabalho, pronta para o desafio e, apesar de tudo, com uma sensação de sorte por ter encontrado esta oportunidade, a Joana entrou no seu novo escritório para descobrir que o lugar que tinha sido reservado para ela era um banco alto de madeira junto a uma secretária. Um banco!
Vocês pensarão, qual é o grande problema? Um banco não é motivo para fazer tanto drama. E é verdade, pode até parecer que estou “armada em esquisita”, mas a história da Joana fez-me pensar: Quem é que define o limite entre tudo o que é suposto aceitarmos como estagiários e aquilo que já pode ser considerado um abuso? Até que ponto esta condição de elemento mais baixo na hierarquia pode ser usado para aproveitar-se dos estagiários?
Como estagiários, aceitamos a nossa falta de experiência, aceitamos que temos tudo para aprender e que isto geralmente começa pelas tarefas mais tediosas, aceitamos ordenados baixos ou em alguns casos até a ausência do mesmo, aceitamos que não temos férias e aceitamos trabalhar horas extras. Aceitamos e, o que é mais importante, estamos dispostos a fazê-lo, mesmo sabendo antes de começar que não há expectativas de continuar na empresa após o estágio. Estamos dispostos porque temos consciência de que uma licenciatura ou até um mestrado hoje em dia não garantem nada e porque, apesar de se falar na atitude comodista desta geração, temos consciência de que é preciso ter experiência e trabalhar duro para garantir um lugar relativamente estável no mundo laboral.
Então, voltando à pergunta inicial, quem é que deve definir o limite? Há um provérbio português que diz que “Quanto mais te baixas…” e talvez seja melhor não continuar. Uma vez dito isto, a resposta é nós próprios. Neste caso tratava-se apenas de um banco de madeira, mas em outros está em causa o cumprimento ou não das condições pactuadas ou até mesmo situações de bullying por parte de outros empregados ou do chefe. Por isso, apesar de darmos sempre o máximo de nós e aceitarmos que a vida está longe de ser cor-de-rosa, também não podemos esquecer que está unicamente nas nossas mãos saber quando devemos bater o pé e defender os nossos direitos (aqueles universais onde até os estagiários estão incluídos).
Passado um mês, a pequena empresa de tradução decidiu renovar o mobiliário dos colaboradores. A estagiária, a Joana, deixou o banco para ficar com uma cadeira antiga de outro empregado. E agora? Quem é que não aceitaria uma “promoção” destas?
Por Diana Pereira.
Licenciada em tradução pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Após uma primeira experiência laboral na área de terminologia, atualmente trabalha como estagiária numa empresa de marketing digital.
Licenciada em tradução pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Após uma primeira experiência laboral na área de terminologia, atualmente trabalha como estagiária numa empresa de marketing digital.
Veja também: