Pode admitir: todos temos uma “gaveta da tralha”, um armário que evitamos abrir ou um amontoado de roupas que não usamos, mas que estão tão misturadas com as que usamos que só de pensar no trabalho de separar tudo perdemos a vontade de organizar.
Viver com muito mais do que é necessário transformou-se, há muito, num fardo para a maioria dos cidadãos nos países desenvolvidos. Quase parece ironia: enquanto em tantos países do mundo há famílias inteiras sem um cobertor que as abrigue do frio, noutros há quem não tenha espaço suficiente para guardar tudo o que compra. O que andamos a fazer mal?
Além da questão moral, andamos a falhar na questão da praticidade. O consumismo desenfreado, o desejo insaciável de ter mais e melhor e a corrida contra os pares estão a deixar-nos completamente assoberbados. Resultado? Uma vida cheia de stress, com muitas preocupações e muitos “desejos não cumpridos” que nos fazem sentir infelizes quando, pensando bem, nem temos assim tanta razão de queixa.
Surgem, por isso, cada vez mais teorias que defendem a simplificação da vida. Diz quem por lá já passou que “limpar” a vida do que não é essencial é uma das melhores estratégias para aliviar o stress, reduzir as tarefas domésticas e melhorar as relações sociais. Porquê? Porque casas mais organizadas são mais fáceis de limpar e deixam tempo para tudo o resto – além de convidarem a um serão relaxado e pleno de conversas, sem distrações nem aquela sensação claustrofóbica de estar rodeado de objetos.
É hora de parar um pouco e respirar. Adotar um estilo de vida minimalista, pleno do que é essencial e livre do que não lhe faz falta. Damos-lhe algumas dicas para começar já hoje a arrumar a casa, a alma e a vida – o resto vai aprender com o tempo.
6 passos para adotar um estilo de vida minimalista
1. Limpeza geral
Não tem de viver como um monge budista, mas é essencial que a adoção de um estilo de vida minimalista comece por filtrar o que é absolutamente essencial na sua vida.
A limpeza deve ser feita a todos os níveis: na roupa e no calçado, na decoração da casa, nos meios de transporte, no entretenimento… Elimine o que não precisa e mantenha apenas o que lhe dá uma vida confortável.
Se der conta de que está a separar muitas coisas boas, pode vendê-las ou oferecê-las em vez de deitá-las fora – um dos princípios do minimalismo é a redução do desperdício, por isso não faz sentido poluir o ambiente descartando tudo o que não quer sem perder algum tempo a perceber se não pode aproveitar de outra forma.
O objetivo da “limpeza geral” é que olhe à sua volta e só veja coisas que usa com muita frequência. Essas coisas devem depois ser possíveis de guardar de forma organizada dentro dos armários, gavetas e outros espaços de arrumação disponíveis, de forma a que não fiquem à vista e não obstruam a visão do espaço.
2. Arrumação e organização
Adotar um estilo de vida minimalista não é só deitar coisas fora ou fazer votos de pobreza. Mesmo ficando apenas com aquilo que usa todos os dias, vai notar a necessidade de arrumar coisas, porque usa demasiados objetos para que possam simplesmente estar em cima de uma qualquer prateleira.
Resumindo, vai precisar de arrumar – e numa vida minimalista o segredo da arrumação é a organização. O seu mantra deve ser “guardar tudo de tal forma que nada me leve mais de cinco minutos a encontrar”: a partir daqui, divida os objetos por utilidade e encontre um critério lógico para localizar cada conjunto.
Ter uma arrumação minimalista é, por exemplo, ter todos os produtos de higiene que há em casa guardados no quarto de banho ou todos os brinquedos das crianças numa caixa ao lado do lugar onde, geralmente, se sentam a brincar.
A ideia é que perca o mínimo de tempo possível a procurar objetos e que tudo esteja sempre à mão. Parecendo que é simples, dependendo da quantidade de coisas que tem e da configuração da casa, pode ser um verdadeiro desafio.
3. Compras minimalistas
Os pratos elaboradíssimos que o obrigam a ficar horas a fazer o jantar ou as botas que só podem ser limpas com um líquido exclusivo da marca que tem de comprar por encomenda não cabem numa vida minimalista.
Para viver num espaço verdadeiramente livre de elementos de stress, tem de simplificar a própria forma como vive o dia a dia e esquecer tudo o que é complicado ou lhe toma muito tempo – e isso começa nas compras.
Compre apenas o que precisa e nada mais. Evite gastos extra, evite compras por impulso e, sobretudo, evite comprar coisas que, de forma lógica e honesta, não consegue justificar com um bom argumento.
4. Vistas desafogadas
Já falámos um pouco deste ponto mais acima, mas é importante repetir: a casa onde vive também reflete a sua forma de estar na vida, por isso, se quer adotar um estilo mais minimalista, vai ter de habituar-se a ver as paredes e os móveis “despidos”.
Bibelots, quadros, velas e outros enfeites acumulam pós, requerem manutenção e limpeza regulares e ainda interferem com a forma como os seus sentidos interpretam o espaço; liberte-se deles e vai ver como, de repente sem explicação aparente, vai sentir muito mais vontade de estar em casa.
Mais uma vez pode usar a utilidade como critério: qualquer objeto que esteja ao alcance dos seus olhos tem de responder, de forma imediata e sem dificuldade, para que serve. Se tiver dificuldade em explicar o porquê de ele ser essencial na sua vida, é porque não o é – e aí deve livrar-se desse peso.
5. Menos luxos
Se tem mesmo de andar de carro, compre um que cumpra aquilo que é preciso cumprir. Se tem um parceiro e um filho e só costuma viajar com eles, para quê comprar um carro de sete lugares? Se só circula dentro da cidade, para quê comprar um jipe?
A regra do “compre apenas o que precisa” aplica-se em quantidades, mas também na qualidade do que compra. Se quer o carro para se deslocar, serve-lhe qualquer carro que lhe permita ir de um ponto ao outro; tudo o resto é acessório e desnecessário, por isso pode ser dispensado.
Neste caso, além de aliviar a alma também vai estar a fazer um grande favor à carteira.
6. Exigir menos, agradecer mais
Esta é a fase mais filosófica do estilo de vida minimalista e passa por entender que o que tem é suficiente e não precisa de comprar mais nada para ser feliz.
Dizemos-lhe já que não vai conseguir atingir esta perspetiva de um dia para o outro, porque é um processo demorado e intrinsecamente ligado ao seu desenvolvimento pessoal.
Ainda assim, faça por mostrar a si próprio que o que tem já é uma grande conquista e que não será obrigatoriamente mais feliz se comprar uma casa com o triplo do tamanho ou se vestir um casaco no valor de um ordenado.
Reavalie os seus objetivos e os seus sonhos, foque-se no que é mesmo essencial e esqueça o resto – não tarda estará capaz de olhar para trás e perceber que é mais feliz, mais organizado e mais relaxado do que dantes… e não há melhor sensação do que essa!