Share the post "Estrada Pan-americana: o sonho de ligar o Alasca à Argentina"
A estrada Pan-americana é um conjunto de estradas, vias e auto-estradas que pretende unir o norte, no Alaska, ao sul, na Argentina. Também conhecida por Rodovia Panamericana ou Via Panam, a ideia de uma estrada que unisse a totalidade do continente americano em latitude começou por ser delineada em 1929.
Oito anos mais tarde, e com o forte apoio dos Estados Unidos, 13 países americanos concordaram com o projecto, sendo que a ideia era que cada nação ficasse responsável pela construção em território próprio.
Apesar de o acordo ter sido cumprido em larga escala, um trajecto ininterrupto não prevaleceu. Isto porque no meio dos 48 mil quilómetros de distância entre um ponto e outro, há uma “pequena” interrupção, de 87 quilómetros, num território partilhado entre a Colombia e o Panamá.
Oficialmente e oficiosamente, a rota passa pela Cidade do México, San Salvador, em El Salvador, Medellín, na Colômbia, Quito, no Equador, Lima, no Peru e Valparaíso, no Chile.
Do Alasca até à Argentina: Rotas da estrada pan-americana
O mapa mais comum a aparecer nas pesquisas do Google sobre esta via aponta para um sistema composto entre rota original e rota “não oficial”. Tal acontece porque há países cuja estrada pan-americana integra o sistema nacional de estradas de determinado país. Casos disso são o Chile e o Peru.
Contudo, e sobretudo no hemisfério norte, não existe designação oficial do sistema rodoviário como Pan American Highway. Desta forma, há vários mapas que apontam para diferentes comprimentos da estrada pan-americana.
Certo é que foi socialmente aceite que, actualmente, a rota começa, do lado norte-americano, em Prudhoe.
Na zona de Deadhorse, no Alasca, ainda se percorrem vários quilómetros na auto-estrada do Alasca. No hemisfério Sul, determina-se como parte final do itinerário o troço da Ruta Nacional 3 que começa em Buenos Aires e termina em Ushuaia, Tierra del Fuego.
Este trajecto ganha força sobretudo pelo registo de Kevin e Julia Sanders. Este casal de motociclistas estabeleceu o recorde mundial do percurso mais rápido da auto-estrada pan-americana, completado em 35 dias.
No mesmo mapa, percebe-se que a rota oficial começa em Monterrey, no México, e termina em Buenos Aires, na Argentina. Mas mesmo esta via não é possível ser cruzada ininterruptamente, por causa da inexistência de asfalto entre Turbo, na Colômbia e Yaviza, no Panamá.
Selva de Darien: O obstáculo que interrompe a estrada pan-americana
Quem começar a percorrer a estrada pan-americana em Prudhoe, no Alasca, terá um trajecto de 12.500 quilómetros pela frente até que, surpreendentemente, termina a estrada.
Nesse ponto, em Yaviza, a 280 quilómetros de distância da Cidade do Panamá, começa a densa selva de Darién. Começou nos anos 60 o desentendimento entre Panamá e Colômbia sobre esta zona.
A maior questão foi sempre se se deveria ou não alcatroar parte de um pantanoso e denso ecossistema. E, em caso positivo, que alternativas de itinerário seriam mais interessantes; para isso, houve estudos de trajectos em linha recta ou com um desvio da estrada pelo litoral norte, passando ao largo do Mar das Caraíbas.
Este é um território que apresenta vários desafios: não apenas por ser extremamente inóspito à vida humana (apesar de ali habitarem nativos) mas por ter sido campo de batalha.
O conflito armado levado a cabo pelas FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) teve palco sobretudo nesta selva.
Inclusivamente, os exploradores de flora Tom Hart Dyke e Paul Winder chegaram a ser detidos em cativeiro, durante nove meses, por esta milícia paramilitar.
Formas de passar entre Panamá e Colômbia e vice-versa
Os aventureiros que se desafiam a percorrer de uma ponta à outra a estrada Pan-americana têm de ter especial atenção a esta parte do trajecto. As alternativas são escassas e dúbias, mas há quem refira que esse é o verdadeiro espírito da travessia.
Com veículo próprio, a única solução é contratar uma transportadora em Cartagena ou Bogotá e pagar cerca de 2000 euros para transportar o carro num cargueiro.
Sem automóvel, há outras opções mais económicas, como viagem de avião, que demora apenas 40 minutos. Também é possível atravessar de barco mas o serviço é negociado directamente com os donos das embarcações e muitas vezes não tem datas fixas.
Jake Silverstein, editor da The New York Times Magazine, fez uma descrição do que resume numa frase a essência da auto-estrada Pan-americana: “um sistema tão vasto, tão incompleto, e tão incompreensível que ela nem é tanto uma estrada, mas mais um conceito da própria ideia do pan-americanismo”.