Antecipar a morte dos nossos cães e gatos, por estes estarem condenados a viver em sofrimento e sem possibilidade de melhoria, é uma decisão difícil, que tem de ser tomada pelo tutor, em concordância com o veterinário. Mas nunca é fácil optar pela eutanásia em animais.
O médico veterinário, Luís Montenegro, do Hospital Veterinário Montenegro, não tem dúvidas de que apesar de a eutanásia ser um ato triste, é uma ferramenta importante na medicina veterinária, porque resolve situações de grande dor. Segundo a sua experiência, os donos ficam a sentir-se melhor quando acompanham o procedimento.
Qual é a sua opinião sobre a eutanásia em animais domésticos?
A eutanásia em animais, e mais concretamente na medicina veterinária, surgiu naturalmente e foi amadurecida ao longo de gerações. Há dois preceitos que são fundamentais na forma como o veterinário vê a eutanásia e que estão a começar a ser abordados pelos comportamentalistas e pelos médicos. A primeira, é a de que a decisão final da eutanásia é do tutor.
Porém, o profissional só aceita essa decisão se estiver de acordo com os seus princípios éticos e de consciência. Tem de haver sempre duas partes concordantes. Quero com isto dizer, que qualquer profissional, pelo menos na Península Ibérica, vai fazer primeiro uma avaliação sumária da situação e vai verificar se tem critérios para que, na sua consciência e na sua ética, pratique a eutanásia.
O dono, por incrível que possa parecer, fica a sentir-se melhor consigo próprio quando acompanha o procedimento, quando está com o seu animal de estimação até ao fim
Quais são esses critérios?
São individuais, não são universais. Por exemplo, aqui no hospital, a decisão de praticar a eutanásia em animais é de cada profissional. Cada veterinário é soberano em aceitar essa proposta do tutor ou a recomendá-la. E pode haver, no limite, situações em que eu e outro colega temos opiniões ligeiramente diferentes. Porém, os critérios pressupõem sempre a ausência de meios médicos e técnicos para salvar ou tratar o animal.
O segundo critério, é o animal estar em sofrimento, sem expetativa de melhoria. Um exemplo, é um tumor pulmonar num animal que não se vislumbra nenhum tratamento eficaz e que apresente sofrimento respiratório. Esse animal, em vez de poder viver mais 15 dias, cada vez com mais asfixia, mal-estar e dor, é estabelecida essa concordância entre o profissional e o tutor para que a eutanásia seja possível.
É muito importante a medicina veterinária ter esta ferramenta, porque resolve situações de sofrimento atroz. A eutanásia em animais é sempre o último recurso e é feita sempre nestes moldes.
Como é o procedimento?
A eutanásia, em si, é um procedimento indolor. Há muitas formas e muitos medicamentos, mas pressupõe uma overdose anestésica, com depressão total do sistema nervoso central, com estado de inconsciência e de insensibilidade total.
O animal não sofre…
Não, porque o que deixa de funcionar, primeiro, é sistema nervoso central. O limiar da função cerebral vem a zero. E, só depois, é que há uma paragem cardiorrespiratória.
É um ato triste. O dono, por incrível que possa parecer, fica a sentir-se melhor consigo próprio quando acompanha o procedimento, quando está com o seu animal de estimação até ao fim, porque acaba por verificar que ele não sofreu e, por isso, consegue aceitar melhor.
A decisão final da eutanásia é do tutor. Porém, o profissional só aceita essa decisão se estiver de acordo com os seus princípios éticos e de consciência.
É um procedimento dispendioso?
Tudo paga 23% de IVA na medicina veterinária… Mas o valor depende do tamanho do animal, porque isso influencia a quantidade de droga que é utilizada. É um procedimento acessível, que está entre os 50 e os 150 euros, com cremação, que é o que é recomendado fazer depois. Mas, muitas vezes, as pessoas já gastaram muito dinheiro antes, inclusive a ter o diagnostico.