A discriminação por excesso de qualificações é uma realidade comum no mundo do trabalho. Num mercado onde, cada vez mais se exigem qualificações, são muitos os candidatos com licenciaturas, mestrados e até doutoramentos, que querem trabalhar e não conseguem.
Perante taxas de desemprego preocupantes, nas mais diversas áreas, a solução passa por apostar em ofertas cujos requisitos estão muito abaixo da experiência ou grau académico.
E é precisamente aí que surge a grande dificuldade, têm excesso de qualificações. Se à partida até pode parecer algo vantajoso para as empresas, a verdade é que esse fator assume o efeito inverso, ainda que esta seja uma tendência que não beneficia a competitividade das empresas, nem dos países.
A única saída passa, muitas vezes, por uma versão alternativa do CV onde parte da informação é omitida. Mas, será esta a melhor solução?
TUDO SOBRE EXCESSO DE QUALIFICAÇÕES
Entenda melhor a problema que gira em torno do excesso de qualificações.
Por que é um problema?
Os candidatos com excesso de qualificações são frequentemente excluídos de processos de seleção, essencialmente, pelo facto de poderem deixar a empresa assim que consigam um cargo mais compatível com a sua experiência e competências.
Esta questão coloca entraves também aos candidatos que desejam, de facto, mudar de setor de atividade ou de carreira.
O Wall Street Journal revelou, em 2019, os desafios difíceis que os profissionais com excesso de qualificações, ou over-education (inglês para excesso de qualificações ou habilitações), enfrentam quando se candidatam a um emprego.
O artigo tinha por base um estudo realizado por professores universitários em Carnegie Mellon, Stanford e Johns Hopkins, o qual concluía que “os gestores vêm os candidatos altamente capazes como tendo um empenho mais baixo na empresa do que os menos capazes, mas adequados, e, como resultado, penalizam os candidatos com altas capacidades no processo de contratação”.
A situação piora para os candidatos com excesso de qualificações, cujo currículo acaba na secretária de um profissional de Recursos Humanos que se não entende a razão pela qual tal pessoa se candidata a tal cargo. Dar um passo atrás causa desconfiança nas entidades recrutadoras.
Por outro lado, existe também uma correlação direta entre experiência e compensação. Embora um candidato com excesso de qualificações possa estar disposto a receber menos, há a preocupação de que essa atitude mude, pela falta de reconhecimento, de possibilidade de evolução na carreira ou motivação.
Outra questão importante é a idade. Após serem questionados vários profissionais entre os 30 e os 50 anos de idade, que foram despedidos, várias foram as razões apresentadas para o despedimento. Porém, todos suspeitavam que a idade e a remuneração terão sido as principais causas. E todos estão a ter dificuldade em encontrar empregos novos semelhantes.
Havia, aquando deste estudo, uma forte tendência das empresas procurarem colaboradores mais novos, visto pedirem ordenados mais baixos.
Excesso de qualificações: omitir ou não?
Tem excesso de qualificações para uma oferta de emprego. E agora, o que fazer? Deve ou não omitir essa informação no seu Curriculum Vitae (CV)?
Esta é, de facto, a opção de muitos candidatos a vagas de emprego onde se exigem níveis de formação mais baixos.
A decisão de omitir as suas reais qualificações, cabe a cada um decidir. Isso dependerá de diversos fatores, tais como a necessidade de trabalhar. Ainda assim, há que ter noção dos riscos que tal decisão pode acarretar. Afinal, trata-se de omitir informação importante e isso pode ser considerado grave. Caso venha ao conhecimento do empregador pode, numa primeira fase, levar à exclusão da seleção de candidatos ou, mais tarde, ao despedimento.
QUAL A MELHOR ATITUDE PARA CONTORNAR O PROBLEMA?
Apresentamos-lhe algumas dicas a ter em conta na hora de se candidatar a uma oferta de emprego para a qual tem excesso de qualificações.
Saiba gerir bem a experiência
Construir um bom currículo, capaz de equilibrar os requisitos exigidos pela empresa às competências do candidato para exercer a função é determinante, sobretudo para candidatos experientes e com muita experiência acumulada. Para afastar a ideia do “excesso de qualificações”, aposte num currículo cirúrgico que responda exclusivamente ao que o empregador pede.
Elenque apenas a experiência relevante para a função
Resista à tentação de procurar “impressionar demasiado”, seja com as suas competências académicas ou com o seu percurso profissional. Restrinja as referências ao que de facto pode marcar a diferença naquela função específica a que se candidata, sobretudo se quiser mudar de setor de atividade.
Lembre-se que o objetivo do currículo é conseguir oportunidade para uma entrevista e que nessa entrevista poderá explicar melhor o seu percurso e demonstrar ao recrutador que toda a sua experiência, mesmo noutras áreas, poderá ser relevante. Preocupe-se em demonstrar que se sente motivado pela função a que se candidata.
Destaque aspetos no seu percurso que o possam ajudar a qualificar-se para o emprego
Dedique algum tempo a pensar nos aspetos que o levaram, por exemplo, a alcançar em determinada etapa do seu percurso a liderança nas vendas da sua empresa, ou a ser eleito pelos seus pares o elemento mais proativo, o aquilo que ao longo da sua carreira foi determinante para ir progredindo profissionalmente. Escolha destacar etapas que se adequem sempre à função a que se está a candidatar.
Factos a ter em conta
- Ir à entrevista com a consciência de que pode haver um comportamento defensivo e suspeitas inerentes. Quando estas surgirem, não serão apanhados desprevenidos;
- Antes de o entrevistador fazer a pergunta, devem dizer o que aconteceu no último emprego e porque querem este cargo. Devem ser transparentes, mesmo que seja desconfortável. Se não tiverem uma história coerente, honesta e irrefutável, vão presumir o pior;
- No discurso, e também nas ações, mostrar que gostam de trabalhar em equipa e que o fazem bem;
- Demonstre entusiasmo e motivação para contrariar noções preconcebidas;
- Seja empático, ouça com atenção e mostre respeito para com os entrevistadores;
- Assegurar ao entrevistador que este emprego não é temporário e que estão ali para ficar;
- Nunca receberá a mesma remuneração nem o mesmo estatuto que tinha. No entanto, conseguirá ganhar o respeito e confiança do empregador. Trata-se, essencialmente, de quebrar estereótipos negativos.
O excesso de qualificações não tem de continuar a ser um problema. Candidatos e empresas podem ganhar com isso, num mercado de trabalho cada vez mais exigente e em constante mudança.