Facebook paga por opiniões, é uma frase que surpreende todos os que conhecem bem a empresa de Mark Zuckerberg. A rede social ganhou má fama com os constantes escândalos relacionados com a recolha e a partilha ilegal de dados pessoais dos seus utilizadores.
O último teve a ver com a VPN (rede virtual privada) Onavo, comprada em 2013 pelo Facebook. Este ano a empresa viu-se obrigada a retirá-la da App Store e Google Play, porque se descobriu que estava a ser utilizada, não apenas para fornecer aos seus subscritores um acesso seguro à web, mas também para os “espiar” enquanto navegavam online.
Há quem diga que a Onavo forneceu dicas importantes para a empresa americana arriscar compras como a do WhatsApp ou do Instagram.
O risco destes negócios reduziu substancialmente graças à quantidade de informação recolhida na vpn sobre os hábitos dos utilizadores nestas plataformas.
Será que agora, ao pagar pela primeira vez por algo que sempre conseguiu às escondidas, o Facebook vai finalmente entrar nos eixos?
Facebook paga por opiniões: aposta no feedback voluntário
O Facebook parece estar a abrir o jogo sobre o que pretende com esta nova aplicação, pelo menos na sua versão oficial.
Primeiro quer que sejam os utilizadores a fornecer os dados de forma voluntária e não involuntariamente, como a empresa sempre fez até aqui. Mas a verdade é que com esta app, Facebook paga por opiniões.
Segundo, quer que esses dados sejam postos ao serviço dos seus utilizadores, garantindo que não vão ser vendidos a terceiros e que vão servir exclusivamente para melhorar as aplicações, produtos e tecnologia de inteligência artificial do Facebook.
A proposta é simples. O utilizador faz o download da Viewpoints (o local onde o Facebook paga por opiniões) e depois escolhe participar ou não nos chamados “programas” que a aplicação lhes vai lançando como desafio.
Esse programa pode ser um questionário, sobre os seus hábitos de consumo de produtos ou aplicações, ou pode ser também uma tarefa especifica que o utilizador terá de cumprir, como por exemplo gravar a sua voz a pronunciar palavras ou atribuir tags a imagens.
A empresa afirma que podem ainda ser pedidas informações adicionais aos utilizadores para os qualificar para a participação voluntária em programas mais específicos ou individualizados.
Esses dados podem incluir informações consideradas privadas como o nome, email, país de residência, data de nascimento ou sexo.
Até 600 dólares por ano
Em troca da participação voluntária nos programas da Viewpoints, os seus utilizadores recebem pontos. O objectivo é atingir uma determinada quantidade, para depois os ver transformados em compensação financeira que é paga através da conta dos utilizadores no Paypall.
Segundo os termos de utilização da aplicação, o utilizador é informado de quantos pontos terá de fazer para receber recompensa financeira e também está previsto que existam compensações não monetárias em algumas tarefa ou programas.
Por agora, a aplicação em que o Facebook paga por opiniões vai estar disponível para maiores de 18 anos e apenas para o mercado norte americano, mas a empresa já disse que pretende expandir geograficamente a experiência.
O programa de estreia da app já foi anunciado e tem a ver com uma análise ao bem-estar que o uso das redes sociais pode proporcionar ou não a quem as utilizada.
Riscos para os participantes e para o Facebook
O Facebook afirma que cada programa será detalhadamente explicado ao utilizador antes dele decidir participar. A aplicação explica exatamente quais são as informações que serão recolhidas, como vão ser utilizadas e quantos pontos o utilizador receber por participar.
Fica do lado do utilizador a capacidade de compreender, escrutinar e ler nas entrelinhas o que lhe for proposto.
A empresa norte americana, não é a primeira a utilizar este tipo de métodos para fazer estudos de mercado. Muitas empresas especializadas neste sector, fazem-no oferecendo recompensas, monetárias ou através de prendas e brindes.
Como no caso do Facebook, muitos dos utilizadores já estão dispostos a fornecer informação mesmo sem receber nada em troca, é bem provável que a aplicação tenha sucesso e que a rede social consiga finalmente recolher dados sem ser de forma obscura.
Mas para o Facebook, esta estratégia representa menos eficácia do que as técnicas de espionagem praticadas anteriormente.
Vai ter de, pela primeira vez, pagar por dados e são dados que podem representar com menos exatidão a situação real que é preciso conhecer.
Podem até refletir incorreções introduzidas propositadamente pelos utilizadores. Sendo dados menos valiosos do que todos os outros que a empresa já recolheu, há quem, e com alguma razão, desconfie da estratégia que está por detrás da Viewpoints e aguarde para ver qual vai ser o futuro desta nova app.