Nos últimos dias, todos temos sido confrontados com imagens de guerra, edifícios destruídos, famílias separadas e crianças que choram. Quem tem filhos, netos ou miúdos por perto, certamente já se questionou se deve ou não falar da guerra com as crianças. E, se o fizer, de que forma deve fazê-lo. Qual a mensagem a transmitir. Como explicar e o que omitir. Os psicólogos dão uma ajuda nesta matéria.
Por que falar da guerra com as crianças?
De acordo com alguns especialistas, nomeadamente psicólogos, pais e educadores devem falar da guerra com as crianças, pois este é um tema que não pode ser ignorado – até porque, atualmente, a grande maioria das crianças tem um acesso fácil à informação, seja através da televisão, seja através das redes sociais, por exemplo.
Portanto, é preferível que seja um adulto da sua confiança a explicar-lhes o que se passa, do que deixá-las consumir sozinhas todas estas notícias, porque assim é mais provável que surjam sentimentos de medo ou de ansiedade.
Como falar da guerra com as crianças?
Esta é uma conversa que deve ser tida com tempo, mas que não deve ser demasiadamente prolongada, sobretudo se se notar que a criança já não está focada ou com interesse no tema. Assim, o assunto pode sempre ser recuperado, à medida que a criança vá fazendo perguntas ou colocando dúvidas.
Portanto, numa primeira fase, importa tentar entender o que é que a criança sabe e não sabe sobre este tema. Isto significa que o ponto de partida para o diálogo deve ser o esclarecimento de dúvidas ou de ideias erradas que a criança tenha sobre este tópico.
No momento seguinte, é fundamental procurar entender o que a criança está a sentir relativamente a esta circunstância e quais os sentimentos que esta situação lhe provoca, de modo a poder acalmá-la, caso ela se revele nervosa ou preocupada.
Em todo o momento, é ainda essencial ter em conta vários aspetos como a idade da criança e a sua capacidade para compreender certas ideias. Além disso, é preciso alterar o tipo de discurso em função de estarmos perante uma criança mais segura e confiante ou mais insegura e intranquila.
É aconselhável ter cuidado na maneira como se expõem os dois lados do conflito, uma vez que existe uma comunidade tanto ucraniana, como russa no nosso país, e a última coisa que desejamos neste momento é fomentar nas nossas crianças valores xenófobos contra determinados povos ou nações.
Como devemos responder às “perguntas difíceis”?
Um princípio base que todos devemos ter é de que nunca devemos mentir a uma criança, pois é a verdade que lhes inspira segurança e confiança.
Naturalmente que, em muitos casos, a verdade tem de ser contada de forma adaptada às caraterísticas da criança, mas não existe qualquer problema em que a criança perceba que o adulto está realmente preocupado com este problema ou que até não sabe responder a certas questões, desde que o adulto esteja emocionalmente controlado e não transmita à criança sentimentos de desespero ou de pânico.
Apesar de ser frequente dizermos às crianças que as guerras e a violência não fazem sentido e não têm explicação, neste caso, pode ser pertinente construir o discurso de outra maneira, uma vez que apresentar esta situação como algo que aconteceu de forma imprevisível e sem razão pode transmitir à criança a ideia de que a guerra é algo que pode eclodir em qualquer lugar, a qualquer momento, o que a vai deixar necessariamente perturbada.
O bom e o mau
Desde cedo que as crianças habituam-se a ouvir histórias de bons e de maus, de heróis e vilões. Porém, neste caso, é recomendável tentar não polarizar os lados e mostrar, acima de tudo, que é possível chegar à paz e a um acordo, sem que haja vencedores e vencidos.
O caminho para a tolerância deve ser trilhado com uma visão não de bons e de maus, mas de pessoas com lados bons e menos bons, sublinhando que é sempre possível que quem esteja errado mude os seus comportamentos e ações.
Noticiários: sim ou não?
Nesta fase, é aconselhável filtrar aquilo que as crianças veem, sobretudo as mais pequenas e que, devido à sua idade, ainda não são capazes de interpretar determinado género de imagens.
Por vezes, a introdução e a sensibilização para este tema é mais eficaz através do visionamento de um filme ou documentário, da localização dos países em conflito num mapa ou da pesquisa conjunta de informações históricas sobre estas regiões do globo.