Não é preciso fazer um grande esforço de memória para que nos surjam imagens da icónica Famel Zündapp Xf 17 que dominou o mercado de duas rodas entre os anos 60 e 80 do século passado, tendo o último modelo saído da fábrica em 1997, uma Famel Electron.
Nas cidades, nas vilas, no mais recôndito lugar de Portugal, era natural encontrar um destes modelos que cruzava um design clássico com um estilo mais desportivo. Arrojava na altura (mais baixa), no comprimento e no motor, mais performante, a roçar os 105 km/h de velocidade máxima.
Outra das características que muito atraía os amantes de duas rodas era a sonoridade metálica emanada pelo escape do motor.
Ingredientes necessários para se tornar num dos modelos de maior sucesso de vendas da Famel, empresa nacional, com sede em Águeda, que nos anos 60, 70 e 80 produziu inúmeros modelos de duas rodas que conquistaram o mercado.
Agora, a marca prepara-se para lançar às estradas portuguesas o modelo icónico, mas numa versão 100% elétrica, E-Xf. Prevê-se que chegue em 2022 e já é possível fazer a pré-reserva, por 4.100 euros.
Famel: dos motores a combustão ao propulsor elétrico
Instalada na EN1, à entrada de Mourisca do Vouga, a fábrica acabou por não resistir às exigências do mercado e da concorrência com a entrada de Portugal na CEE.
Para este desiderato contribuiu, também, a falência da alemã Zündapp em 1984, situação que afetou muito a Famel por esta depender dos motores da empresa alemã para a construção das suas motas.
De todos os modelos conhecidos da Famel, a designada Xf 17, equipada com motor Zündapp de 5 velocidades, com 7,1 cv e refrigerada a ar ou água, dominou o mercado e atualmente é muito procurada pelos entusiastas das duas rodas para restauro.
Mas, a Famel quer regressar pela porta grande. Apostando na tecnologia do futuro, a eletricidade, mais amiga do ambiente, Joel Sousa (promissor engenheiro automóvel de 31 anos), quer reerguer a marca e colocar um produto nacional a rolar nas estradas: a nova Famel Zündapp elétrica.
Presença na Web Summit na procura de investidores
O arrojado projeto de Joel Santos e de dois colegas com formação na área de engenharia eletrónica foi apresentado em 2017 na Web Summit com o objetivo de atrair para o seu seio investidores interessados em catapultar o que falta no desenvolvimento da nova moto elétrica.
A aferir pelo design da nova proposta elétrica apresentado na Web Summit, com assinatura de Hélder Cação, as semelhanças com o lendário modelo Famel Zündapp xf17, são muito poucas. Arriscamos dizer que só mesmo as rodas, peças imprescindíveis para que a moto elétrica evolua.
Depois, tudo é diferente. Desde o volante, ao banco e ao motor, claro, elétrico. A nova Famel E-Xf é anunciada com uma velocidade máxima de 70 km/h e uma autonomia até 80 quilómetros. Destaca-se, também, a bateria de 72V e 5kW de potência máxima do novo modelo.
Uma mota elétrica não tem de ser aborrecida
Com o desenvolvimento do projeto os autores querem ultrapassar, não só as barreiras que o mesmo enfrenta, nas suas diferentes fases cujo culminar será a produção da mota elétrica, mas também desmistificar a ideia de que os veículos elétricos são sensaborões, pouco despachados.
Para Joel Sousa este mito tem de ser desfeito. O projeto que já passou por diversas fases está associado, segundo a empresa, ao
desenvolvimento do primeiro modelo com motorização elétrica preparando o futuro alicerçado na herança e história da marca.
Acrescenta ainda,
numa visão alargada a longo-prazo, a nova Famel com motorização elétrica é o produto com maior potencial de desenvolvimento utilizando novas tecnologias emergentes oferecendo um novo conceito de mobilidade ao utilizador, e facilitando o trânsito nas cidades.
Da conceptualização ao protótipo
O projeto encontra-se na designada fase de conceptualização e design. Este avança para
uma fase intermédia de desenvolvimento de negócio e captação de investimento para preparar a industrialização e comercialização.
Com a comercialização, o objetivo é resgatar a mística da marca atraindo novos públicos para um conceito também novo, mas que cada vez mais começa a ganhar adeptos, sendo que a realidade da mobilidade elétrica está aí para ficar.
As frequentes imposições e limitações de emissão de gases nocivos aplicadas aos motores a combustão fazem com que as marcas tenham de investir milhões na adequação dos motores. No caso das motas não é diferente, pelo que a mudança de paradigma é inevitável.
O projeto de erguer a nova Famel Zündapp como um novo produto criado de raiz e vocacionado para acompanhar as novas exigências de mercado é uma mais valia. Ainda mais por ser uma mota com produção nacional, equipada com motor elétrico, ecológico, adaptado às cidades, e com poder de atração superior… ou não fosse uma Famel.
Ficará a faltar o som metálico tão popular da Xf 17, mas a evolução a isso obriga. Restará o prazer de conduzir uma mota que transporá para o século XXI o ADN da marca portuguesa que nasceu na década de 60 do século passado.