Quase 1% dos portugueses amortizaram em maio totalmente ou em parte o seu crédito à habitação. São dados do Banco de Portugal, que continua a assistir ao aumento do número de pessoas que estão a decidir acabar com o empréstimo da casa antes do tempo. Será uma decisão sensata e inteligente?
Claro que sim! A única questão que se põe é que a maior parte das famílias não tem esse dinheiro disponível, sobretudo nesta altura em que as prestações continuam a aumentar e a inflação, embora esteja a descer, continua extremamente alta.
É nestes momentos que cada um de nós deve perceber a importância de – no passado – termos decidido ter uma vida equilibrada, disciplinada (sem exageros) para colocar dinheiro de parte para mais à frente (hoje) aproveitar estas oportunidades. Se há um momento em que deve amortizar o seu crédito à habitação, é agora.
As vantagens de amortizar o crédito à habitação
Amortizar faz baixar imediatamente a sua prestação ao banco, baixa o prémio mensal do seu seguro de vida e fica mais próximo do tempo da sua liberdade financeira.
E a melhor parte é que é dinheiro que não só teria de pagar no futuro, como teria de pagar muitos mais milhares de euros em juros ao longo do tempo. Nunca se esqueça de que o objetivo dos bancos é que você pague juros o maior número de meses e anos possível. A prestação pode ser mais baixa, mas eles recebem mais juros. Não se engane com o “truque” da prestação ficar mais pequena se ficar a dever mais anos. São mais anos em que vai estar a pagar muito caro pelo mesmo dinheiro.
A opção de amortizar só deve ser tomada depois de ter um fundo de emergência bem composto, de não ter nenhum outro crédito (auto, pessoal, etc.) e tendo a garantia de que não fica “descalço” em relação aos seus outros objetivos de vida.
Eu estou a aproveitar o facto de em 2023 não se pagar a taxa de penalização de 0,5% para amortizar o máximo que puder. São em parte valores que fui acumulando ao longo dos últimos 7 anos de Euribor negativa. Nunca paguei tão pouco de crédito à habitação como nestes anos mais recentes e – obviamente – percebi que isso não ia durar para sempre. Investi esse dinheiro o melhor que pude e sabia e agora, à medida que vou resgatando esses investimentos vou amortizando.
Investir ou amortizar?
Esta é uma dúvida habitual e que tem uma resposta mais simples do que pensa.
Basta comparar os juros dos seus investimentos e o juro que está a pagar pelo seu crédito à habitação. Veja no seu homebanking quanto está a pagar atualmente de juro. No meu caso, na prestação do mês em que escrevo esta crónica paguei 3,672% líquidos. E a minha taxa de juro do crédito à habitação é baixíssima porque o spread é de 0,3% e tenho a Euribor a 3 meses (que é também a mais baixa de todas). A maior parte de vocês deve estar a pagar 4 ou 5% de juros do crédito à habitação. Confirme o seu caso.
Ou seja, no meu caso, eu teria de ter um investimento que me rendesse 5,1% brutos (a que teria de retirar os 28% de taxa liberatória para o Estado) para IGUALAR o que estou a ganhar por amortizar o meu crédito à habitação. Com capital garantido, nunca encontrará um investimento assim. E ainda tem de acrescentar a poupança mensal no seguro de vida.
O valor das prestações baixa sempre que amortizo. E quando aumentam (de 3 em 3 meses) nunca aumentam tanto como aumentariam caso não tivesse feito nenhuma amortização. Só com esta decisão estou a poupar (no total do crédito) dezenas de milhares de euros. E vou acabar com ele muitos anos mais cedo. E aí estará a verdadeira poupança.
Esteja atento às propostas “imperdíveis” dos bancos
Esteja atento também a propostas “imperdíveis” dos bancos para que não amortize o seu crédito. Podem ser depósitos a prazo, taxas mistas ou fixas “melhores” se prometer que não amortiza, etc.
Em resumo, se tem dinheiro disponível e que não lhe faça falta, amortize o seu crédito à habitação. Parcial ou totalmente. Pense pela sua cabeça, faça contas e decida. É dinheiro que não volta a ver, mas que teria de pagar de qualquer maneira. Ou paga agora mais barato ou paga no futuro muito mais caro (por causa dos juros).
E entretanto continua a pagar uma prestação altíssima, porque quanto mais dever, mais juros paga com estes valores medonhos da Euribor. Agora é a altura de amortizar. Pense nisso.