O fenómeno das bitcoin deve-se tanto à cultura digital mainstream das redes sociais, como à contracultura subversiva e radical que aponta o dedo ao sistema financeiro mundial como um alvo a abater.
Mas entre as celebridades que investem nas bitcoin, publicitando que é uma forma fácil de enriquecer, e os supostos anarquistas utópicos que criaram a primeira e mais famosa das criptomoedas, vai uma grande distância.
A ideia de fazer parte de um sistema financeiro que não depende de bancos ou de instituições governamentais é cada vez mais apelativa.
Investir em bitcoin ganhou conotação de ser radical e estar mais à frente do seu tempo.
O engodo ou o fenómeno das bitcoin?
Para muitos analistas tornou-se um espécie de clube ou religião, com seguidores fervorosos, que usam siglas e linguagem própria. Não podemos esquecer que, há muito, este clube já reune milhares de participantes em conferências sobre o tema.
É impulsionado pelas redes sociais
Cada vez mais as pessoas comentam nas redes sociais sobre os seus investimentos financeiros, especialmente se foram arriscados mas capazes de ser muito compensatórios. É uma cultura que alastrou e que levou as pessoas a correr mais riscos, especialmente se viram exemplos de sucesso junto dos seus influencers.
É um apelo à fortuna fácil
Os valores deste mercado têm atraído cada vez mais os investidores tradicionais e muitos acreditam que os números ainda poderão subir mais – tanto que bitcoins podem chegar a competir com o ouro.
Por outro lado, os investimentos de alto risco e alta recompensa atraem cada vez mais os jovens que cresceram na cultura da gratificação imediata dos videojogos e das redes sociais. O contexto económico-social também ajuda. Cada vez existem menos mecanismos confiáveis e não especulativos para conseguir produzir riqueza a quem ainda não tenha acesso a um pedaço dela. O fenómeno das bitcoin encaixou nesta realidade como uma alternativa atraentemente fácil.
Fenómeno das bitcoin: vale mesmo a pena ter?
Antes de pensar nisso, perceba como pode funcionar a sua carteira se lhe meter dentro algumas bitcoins.
O que são as bitcoin?
A bitcoin existe há quase uma década e é uma criptomoeda descentralizada. Isto quer dizer que é uma moeda virtual e criptografada (codificada) que não é emitida por nenhum governo ou nenhum país, como acontece com as moedas do mundo real (o Euro por exemplo). É minerada (emitida) por computadores espalhados por todo o mundo, recorrendo a uma rede de máxima segurança chamada Blockchain. O seu valor não é fixo e flutua de acordo com sua oferta e procura.
Se quiser investir a sério em bitcoins convém saber como é “produzida” e deve investigar estes dois conceitos, Criptomoedas e Blockchain. Simplificando muito, podemos dizer que a bitcoin pode ser obtida de duas maneiras: por mineração em computador, como uma espécie de recompensa entregue porque esse computador resolveu uma tarefa matemática complicada, ou por troca pelo nosso dinheiro real.
Como trocar, guardar e gastar as bitcoin?
O mais seguro é obter bitcoins num mercado oficial de criptomoedas. O mais conhecido é o americano Coinbase. Deve registar-se como utilizador e fazer um depósito da quantia do seu dinheiro real que quer trocar por bitcoins. A quantidade que receber vai depender do valor da criptomoeda à data da transação. Saiba mais aqui.
Depois pode optar por guardá-las como investimento. Pode fazê-lo numa conta criada no Coinbase, numa carteira Bitcoin digital (Bicoin wallet digital) ou numa carteira Bitcoin de hardware (como uma pequena pen). Todas estas opções deverão estar sujeitas a passwords de autenticação de dois factores, o mínimo para manter os hackers à distância.
Para gastar esta moeda virtual é só pesquisar online que serviços ou retalhistas já aceitam transações em bitcoin.
Quer mesmo correr o risco?
Há quem compare o investimento em bitcoin com o investimento em ações ou noutros produtos de especulação que não dão garantias de retorno. Outros dizem que estas moedas não têm qualquer valor real e que são apenas uma espécie de dispositivo de jogo.
O que precisa ter em mente é que o valor da Bitcoin ou de qualquer outra criptomoeda é altamente volátil devido ao seu carácter virtual. Apesar desta moeda já ter quase uma década de existência, tudo pode mudar de um momento para outro, mesmo na génese do sistema que a gerou. Até o factor da sua produção ser descentralizada pode sofrer grandes alterações se países como a China, que já representa quase dois terços de toda a atividade global da moeda, começarem a “centralizar” a sua mineração.
E há ainda a questão ambiental. A produção desta moeda puramente electrónica não deixa de ter um impacto negativo no mundo real. O gasto energético destes super computadores que resolvem algoritmos complexos para criar esta moeda, fica bem patente no exemplo da fábrica chinesa de mineração da Bitmain.
Esta fábrica tinha 5 prédios, com 25 mil computadores a processar problemas matemáticos 24 horas por dia durante todo o ano. Segundo os mais recentes índices de consumo de energia da bitcoin, uma única transação com esta moeda pode implicar o gasto energético necessário para alimentar 9 casas nos EUA durante 24 horas.