O conceito de férias ilimitadas é novo, mas a verdade é que há já empresas por todo o mundo que o permitem fazer.
Se pensarmos bem no “emprego ideal”, geralmente sonhamos em ter bastante tempo livre (férias pagas), trabalhar onde, como e quando quisermos. E no fundo, esta ideia parece ser boa demais para ser verdade.
No entanto, esta é uma prática que tem vindo a ser concedida por várias empresas, sobretudo nos setores onde a contratação é mais difícil de realizar.
Perante a dificuldade em contratar e reter talentos devidamente qualificados, as organizações viram-se obrigadas a experimentar novas estratégias de recrutamento e gestão de talentos. Sendo uma delas bastante popular: a de proporcionar férias pagas ilimitadas aos trabalhadores.
Contudo, este tipo de liberdade ou flexibilidade no trabalho também acarreta alguns riscos, quer para os empregadores como também para os profissionais. Fique connosco e saiba tudo.
Férias ilimitadas: novos modelos de gestão de pessoas nas empresas
E se lhe dissermos que muitas empresas começam a adotar uma política de férias ilimitadas para os seus colaboradores, acredita?
Em Portugal começam a surgir cada vez mais empresas onde são os colaboradores a gerir o seu tempo e as suas prioridades. Podem ter todo o tempo livre que desejarem, desde que entreguem os projetos concluídos e com a qualidade esperada.
No fundo, estamos perante uma estratégia que presume que os trabalhadores façam a gestão do seu próprio tempo.
Além disto, ao contrário do que acontece na maioria das empresas, aqui as métricas de desempenho estão sustentadas no cumprimento de prazos e na produtividade (em vez de no número de horas trabalhadas).
Quais são as vantagens de conceder férias ilimitadas?
As empresas que adotam uma política de férias flexível, ou mesmo que concedem férias ilimitadas, acreditam que têm vantagens em relação às outras. Fazê-lo, afirmam, ajuda a desenvolver uma mentalidade de responsabilidade sobre o negócio.
A ideia é que os colaboradores pensem e ajam como se fossem os “CEO” da empresa, como se o negócio fosse seu.
Permitir que os colaboradores definam as suas férias como querem, demonstra confiança e respeito, o que, por sua vez, irá reforçar o seu sentido de compromisso para com a empresa.
As empresas que dão o exemplo
Não se acredita que já há empresas a colocarem este incentivo em prática? Pois saiba que a Netflix, LinkedIn, Twitter, Zoom, Sales Force, Goldman Sachs Group e outras são bons exemplos de organizações onde as férias ilimitadas são já uma realidade.
Por exemplo, a Netflix permite aos colaboradores que tirem todo o tempo de férias que desejarem, sem que nenhum elemento da empresa (colaboradores ou gestores) tenha conhecimento ou contabilize o mesmo.
A justificação é a crença de que as empresas devem focar-se naquilo que as pessoas efetivamente entregam, e não no número de horas que passam ao serviço da organização.
Outro exemplo relevante e mais recente é o do banco de investimento de Wall Street, o Goldman Sachs Group – que irá permitir que os funcionários seniores tenham um número ilimitado de dias de férias. Esta ação tem como objetivo reter talentos num mercado de trabalho muito movimentado e em constante mudança.
Relativamente aos funcionários juniores do banco, estes têm limites de férias. No entanto, podem ter pelo menos 2 dias extra de folga a cada ano devido à nova política introduzida no início de maio.
Além disso, nesta empresa todos os trabalhadores serão obrigados a tirar 3 semana de folga por ano a partir de 2023, conforme descreve o memorando da empresa divulgado pela Bloomberg.
Quais são os riscos associados quer para as empresas, como para os trabalhadores?
Tal como qualquer outa estratégia de gestão de talentos que seja arriscada e nova, também esta acarreta alguns riscos para ambas as partes.
Se, por um lado, esta parece uma iniciativa bastante positiva por parte de uma empresa com uma cultura rigorosa, por outro é necessário haver confiança e liberdade nas decisões de cada trabalhador.
Ou seja, as férias ilimitadas remuneradas podem significar um alívio para todos os profissionais que, por norma, têm cargos cansativos e que estão constantemente sobrecarregados. Afinal, poderão tirar tempo para descansar e manter a saúde mental e o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Mas há que ter em consideração os riscos associados. Porque os trabalhadores só conseguirão tirar um longo período de férias se as próprias empresas forem capazes de criar um ambiente que os incentive a isso.
De facto, a experiência diz-nos que em algumas empresas que adotam as férias ilimitadas pagas, os trabalhadores acabam por tirar ainda menos férias por causa das expectativas que verificam sobre os períodos aceitáveis das mesmas e claro, devido à pressão dos colegas.
Ademais, as férias ilimitadas remuneradas não são vistas pela maioria dos colaboradores como o melhor benefício nas empresas.
Aquilo que tem vindo a ser cada vez mais valorizado dentro das organizações é a flexibilidade, inclusivamente a possibilidade de poder optar por um regime de trabalho remoto ou híbrido.
Em suma, oferecer férias ilimitadas remuneradas não parece funcionar, visto que a maioria dos profissionais acaba por não o fazer como deveria. Ou porque não se sentem à vontade, ou porque os colegas dizem para não o fazer, as questões que se impõem são várias.
Assim, esta parece ser uma realidade um pouco distante se refletirmos bem sobre o assunto. Não seria melhor as empresas definirem 40 ou 50 dias de férias remunerados por ano?
Desta forma, os profissionais seriam obrigados a tirar os dias para aproveitarem da melhor forma possível sem que se sintam mal ou receosos pela sua decisão.