Chama-se Fiat 127 e surgiu em 1971. Um ano que a ONU anunciou ser o Ano Internacional da Luta contra o Racismo e a Discriminação Racial e em que se deram passos decisivos para evitar a escalada do nuclear entre países como os Estados Unidos da América e a União Soviética. No meio de toda esta efervescência, a marca italiana preparava um fenómeno de vendas.
O Fiat 127 (comemorou em 2021 os seus 50 anos) surgiu em 1971, a par de outros modelos como Alfa Romeo Alfasud, Honda Life ou Morris Marina. No mesmo ano, para os amantes dos automóveis, viram a luz do dia modelos mais desportivos como o Ferrari 365 GT4 2+2, Ferrari 365 GTC/4, Maserati Bora, Renault 15/17, Mercedes R107 e C107 ou o elitista Maserati Bora.
Mas, voltemos ao Fiat 127, um best-seller italiano que vendeu cerca de 8 milhões de exemplares e venceu o galardão “Carro do Ano”, em 1972. Líder europeu de vendas durante seis anos seguidos: entre 1973 e 1978.
O seu “reinado” manteve-se até 1983, em Itália, ano em que lhe sucedeu outro best-seller da Fiat o conhecido Uno. Registe-se, no entanto, que a produção do modelo na fábrica de Mirafiori, prolongou-se até 1987, de forma a que a Fiat pudesse satisfazer as necessidades dos mercados fora da Europa.
O popular Fiat foi ainda produzido nas linhas de montagem fora de Itália, onde a marca detinha fábricas ou sob licença. Foi o caso da Seat, em Espanha; FSO, na Polónia, Yugo, na Jugoslávia, Amico na Grécia; a versão 147, no Brasil e também na Argentina. Nestes locais o modelo italiano esteve em produção até ao princípio dos anos 90 do século XX.
Motor à frente em contraponto com o Fiat 850
O 127, como é popularmente conhecido, rompe em 1971 com a clássica filosofia dos motores traseiros plasmada em modelos como os clássicos 500 e 600 e o mais moderno 850. Estes montavam motor, caixa de velocidades e diferencial sobre o eixo traseiro, sistema que tinha vantagens e desvantagens.
Com a entrada em cena do Fiat 127 todo esta filosofia é alterada. O motor 4 cilindros é montado transversalmente, à frente com caixa de velocidades e diferencial a acompanhar a posição do motor e transmissão a ser feita às rodas da frente. O sistema só não foi uma novidade na marca italiana devido a ter sido introduzido em 1969, no então Fiat 128 que inaugurou a tração dianteira na marca italiana.
Após o lançamento em Itália, o Fiat 127 transformou-se num sucesso de vendas posição que se refletiu, igualmente, nos restantes mercados, ao ser muito bem recebido.
Ao bloco de ferro fundido de quatro cilindros e cabeça em alumínio (onde atuavam as válvulas e não a árvore de cames) com 903 cc que debitava potência de 45 cv e utilizava caixa manual de quatro velocidades e suspensão de rodas independentes, sucedeu mais tarde (segunda série) uma versão do mesmo motor com 1.049 cc e 70 cv e um outro bloco 1.3 diesel com parcos 44 cv.
De sedan em 1971 a hatchback em 1972
Uma das vantagens da colocação do motor à frente foi o desaparecimento, no habitáculo, do intrusivo túnel de transmissão, o que se traduziu em mais espaço, principalmente, para quem viajava no banco traseiro.
Outra vantagem da colocação do motor na seção frontal do Fiat 127 foi a disponibilidade de espaço no habitáculo. O motor era tão pequeno, melhor dizendo, tão compacto, que permitiu que junto a ele fosse colocada de um lado a roda suplente e, do outro o ‘macaco’, para utilizar em caso de um pneu furar.
Deste modo, a bagageira ganhava outra expressão, em termos de espaço disponível para transporte de objetos.
Uma curiosidade do modelo prende-se com o facto de, aquando o seu lançamento ser considerado um sedan de duas portas. O vidro traseiro era fixo e o acesso à bagageira era feito a partir de uma pequena tampa colocada por baixo daquele.
O mercado, no entanto, dita regras. A chegada em 1972 do inovador Renault 5 fez com que a Fiat alterasse alguns pormenores do 127. Deste modo, no mesmo ano (1972) o modelo italiano passa a ser comercializado com uma terceira porta traseira que agregava o vidro traseiro.
Com esta inovação vinha uma outra: a possibilidade das costas do banco traseiro rebaterem, o que aumentava o espaço de carga e a versatilidade do pequeno citadino italiano.
Fiat 127 significava também mais segurança
Se este novo conceito surgiu como inovação o modelo italiano não se ficou por aqui. A Fiat anunciava outras novidades. Até porque a marca preocupava-se com a segurança dos automóveis que produzia, e de quem neles viajava.
Neste contexto, o 127 surgia na linha da frente ao ser fabricado com zonas de deformação, no chassis, para absorção de energia em caso de embate.
Também é dos primeiros automóveis no mercado com coluna de direção deformável, que se articulava, afastando-se dos membros inferiores do condutor em caso de acidente.
A par destas novidades utilizava também os já conhecidos cintos de segurança.
De 1971 a 1983: 3 séries em 12 anos
Série 1 (1971 – 1977)
Durante 12 anos o Fiat 127 foi comercializado em 3 séries distintas (ou gerações como hoje se designam as variantes de um modelo automóvel).
A primeira série caraterizou-se por automóvel prático, inserido no segmento dos supermini (B), com design do projetista Pio Manzu. Desenvolvido no final da década de 1960 foi lançado em abril de 1971 com um perfil de sedan de duas portas que mais tarde deu lugar ao hatchback que viria a ser a popular versão do 127.
Ainda durante a 1.ª série a Fiat produziu (1975) uma variante 127 Special que se caraterizava pela grelha frontal redesenhada e introdução de algumas alterações no habitáculo. A versão mais luxuosa integrava bancos dianteiros reclináveis e abertura das janelas laterais traseiras em compasso.
Para responder aos padrões de emissões, a Fiat em 1976, introduziu algumas alterações no motor do 127, nomeadamente novo carburador e novas válvulas, que reduziram a potência, mas incrementaram a economia do combustível em cerca de 10%.
2.ª Série (1977 – 1981)
Apresentou-se com várias novidades. Desde logo, novas secções frontal e traseira (aqui a terceira porta tinha maior dimensão e o plano de carga era mais baixo).
A par destas, três níveis de equipamento distinguiam os diversos 127 (L, C e CL). Também a oferta de motores aumentou com a entrada em função do motor 1.050 cc que produzia 50 cv; enquanto o motor de 903 cc mantinha quase inalterada a sua potência.
Em 1980 a Fiat adiciona nova versão: 127 C (Comfort). Modelo de 5 portas manteve-se no ativo até 1981. O automóvel recebia motor de 903 cc e 45 cv e atingia a velocidade máxima de 135 km/h. Em 1981 foi então substituído pelo 127 Super de 5 portas.
O habitáculo foi revisto. O destaque ia para o novo painel de instrumentos, idêntico no design, ao do carro original, mas tinha uma aparência mais simples, perdendo a aplicação em madeira caraterística do modelo da 1.º Série. A parte inferior do painel apresentava outra arrumação, com novos painéis de cobertura para incluir a coluna de direção, cilindro dos travões (nas versões com volante à direita) e mecanismos dos pedais.
Destaque para o ano de 1978 em que surgiu o novo modelo Sport equipado com motor 1.049 cc que debitava interessantes 70 cv. O incremento de potência foi conseguido através da adoção de equipamentos com assinatura Abarth na cabeça do motor, desde logo com colocação de válvulas maiores, sistema de escape Abarth e o colocação de carburador Weber. Também foram efetuadas alterações na relação final da caixa de velocidades de forma a melhorar o desempenho do motor.
A versão Sport sobressaia ainda dos demais 127 por receber bancos desportivos em tecido, com debruado azul ou laranja e espelhos retrovisores diferenciados, além de conta-rotações, volante desportivo em pele, novas jantes e decalques ‘127 Sport’ que sublinhavam o visual desportivo do modelo.
3.ª Série (1981 – 1983)
O ano de 1981 marcou a entrada em ação de nova série do Fiat 127. Tratou-se mais de um facelift com a gama de modelos a assumir as versões Super (topo de gama), Special (versão base) e Sport.
Os motores usados eram o 900 cc e 1050 cc, com desempenhos muito similares aos que tinham antes das atualizações. A variante de 900 cc atingia os 135 km/h; enquanto a versão do motor de 1.050 cc alcançava uma velocidade máxima de 140 km/h.
As versões Sport com o mesmo bloco de 1.050 cc avançavam o ponteiro do conta-quilómetros até mais expressivos 160 km/h.
Para dar continuidade ao sucesso do 127 a Fiat teve de produzir dois modelos que se tornaram também best-seller devido à enorme popularidade que granjearam junto de diversos mercados: o Fiat Uno e Fiat Panda.
Os anos de ouro do Fiat 127 resultaram num enorme impulso comercial para o fabricante italiano que, no próximo dia 11 de julho, comemora o 123.º aniversário.