Binário e potência não faltavam ao Fiat Uno Turbo i.e. Hoje carregado de saudade, a versão apimentada do pequeno Fiat Uno é lembrada por ter marcado uma geração de condutores que destilavam adrenalina em condução frenética. Estávamos no saudoso tempo dos “pocket rocket” e este italiano era mesmo endiabrado.
Estávamos no ano de 1985. Nos Estados Unidos da América, Ronald Reagan consegue o apoio oficial da NATO para implementar o programa de defesa nacional designado “Guerra das Estrelas”. Na Europa, França e Reino Unido chegam a acordo para a construção do túnel do Canal Mancha que viria a ligar os dois países.
No outro lado do mundo, a OPEP, pela primeira vez, decide a reduzir o preço oficial do barril de petróleo bruto. A Organização Mundial da Saúde advertia o Mundo para o problema da SIDA que estava, à época a transformar-se numa epidemia à escala mundial.
E em Itália, mais concretamente em Turim, nascia um dos mais míticos “foguetões de bolso” que as estradas têm memória. Recordemos a sua história.
1985: Ronaldo, Ayrton Senna e Fiat UNO Turbo i.e.
Na Madeira, em fevereiro, nascia Cristiano Ronaldo, atualmente futebolista de estirpe internacional, eleito como o melhor do mundo em 2008, 2013 e 2014, e para muitos, o melhor desportista de sempre.
Abril marcava o sucesso de Ayrton Senna, eterno Senna, na Fórmula 1. O Autódromo do Estoril consagrava o piloto brasileiro. Primeira pole position e lugar mais alto do pódio, pela primeira vez na sua carreira.
E foi nesta amálgama de eventos e de muitos outros acontecimentos registados por esse mundo fora que foi apresentado, em abril, em Itália, o Fiat Turbo i.e. que viria a conquistar uma geração de afoitos condutores que procuravam, no “pocket rocket” italiano um desportivo para o dia-a-dia nas cidades.
A nostalgia do “nervoso miudinho ao volante”
O Fiat Uno Turbo i.e. surge no dealbar das tradicionais mecânicas e na ascensão da eletrónica nos automóveis. Foi neste limbo de novidade que o citadino italiano veio dar impulso à carreira do modesto Fiat Uno.
Catalogado como imprevisível, pouco seguro e de condução difícil, dizia-se mesmo que para o conduzir era preciso um “kit de unhas”. E o Fiat Uno Turbo i.e. tinha no motor o seu ponto forte.
Apesar de tudo o que de mau se dissesse deste italiano, o certo é que apaixonava pela condução despachada e pela agilidade em curva fruto do seu peso pluma.
Fiat Uno: um carro com computador de bordo
O motor de 1.299 cm3, mais tarde substituído por um de 1.301 cm3 – acolhia um turbocompressor e injeção eletrónica. Debitava 105 cavalos de potência, algo insano à época num carro daquele tamanho e de tamanha leveza.
O painel de instrumentos recebia apontamentos digitais e computador de bordo, uma novidade que começava a despontar, e tinha travões de disco nas quatro rodas. Item que reforçava de alguma maneira a segurança na travagem deste “bólide”.
Três meses depois de apresentar o seu “pocket rocket”, a Fiat disponibilizou para a restante gama Uno o motor Fire, com 1.0 litros e 45 cv de potência. E, no ano seguinte, dotava o modelo com a versão Uno 70 Turbodiesel, que recebia motor 1.367 cm3 e acabamento exterior semelhante ao original Turbo i.e.. O motor diesel era de aspiração natural – bloco 1.7 litros que produzia 58 cv.
Fiat Uno Turbo i.e. e companhia
Revisitar a história deste nostálgico citadino italiano que muito boas recordações trará, por certo, a muitos leitores, é também lembrar outros “bólides” como Citröen AX GT, Peugeot GTi, Opel Corsa GT ou Renault 5 Turbo.
Um grupo de pequenos automóveis “raçudos” que conquistaram um espaço no mundo dos pequenos desportivos. E por falar em desportivos não podemos esquecer o ímpeto que a Fiat colocou no Turbo i.e. ao dotá-lo de novas aspirações. Isto é.
Em 1987 este “pocket rocket” recebia catalisador e em 1988 reforço de segurança. Sim. Andar depressa obrigava a ter sistema de travagem capaz. E a Fiat ciente do que o Uno Turbo i.e. era equipa-o com sistema de travagem com ABS e, no mesmo ano reforça a oferta de motorizações com o bloco 1.5 litros de 75 cv disponível no Uno 75.
Novo motor e reestilização a fechar os anos 80
A fechar os anos 80, o Fiat Uno (fabricado entre 1985 – 1998) recebia uma profunda reestilização.
Faróis de perfil mais baixo, portão traseiro de maior volume, design mais arredondado e farolins traseiros com nova disposição marcavam o semblante do automóvel.
O painel de instrumentos recebia também atualização mostrando-se mais moderno e claro, todo o habitáculo tem uma maior qualidade de construção e harmonia de tons.
Fiat Uno Turbo i.e.: um motor de tudo ou nada
Nos últimos anos de comercialização a Fiat equipa o Uno com diversas motorizações a gasolina, aposta nos blocos Fire de 1.0 e 1.1 litros e num desenvolto 1.4 litros de 71 cv, mantinha os blocos diesel. Já o modelo Turbo i.e. recebia um bloco 1.372 cc que debitava incríveis 118 cv.
118 cv disfarçados tal como “lobo em pele de cordeiro”. A marca disponibilizava o modelo numa intensa cor vermelha, com apontamentos em decalque preto que sublinhavam o caráter desportivo.
Tratado nas “palminhas”, o pequeno italiano comportava-se como um “gentleman”. Até às 3.500 rpm o motor mostrava-se dócil e pacífico. No entanto, se o condutor perde-se o medo e acelerasse, tudo mudava de figura.
O turbo de geometria fixa com 0,8 bar de pressão enchia o “pulmão” e o Uno transformava-se. A descarga de potência elevava a condução a outro nível.
Das 4.000 até às 6.000 rpm a sinfonia era arrebatadora. Sons inexplicáveis surgiam por debaixo do capot e, atrás, a saída de escape ampliava a “adrenalina” de quem ia ao volante.
Tempos despreocupados
Parece que foi há tanto tempo a época em que brilhou este Fiat Uno Turbo i.e.. Recordamos saudosamente os anos 80 e 90. Entre os congéneres da altura, chegava ao cliente com dotação de equipamento muito completa, o que fazia a diferença para outros modelos.
Marcou uma época onde consumos e emissões de CO2 não eram vistos ainda como “dois vírus” que atacariam anos mais tarde o sector automóvel de tal forma que as marcas a desenvolverem artifícios para os ultrapassar.
Se fosse hoje apresentado, o Fiat Uno Turbo i.e. seria com toda a certeza outro automóvel. Mais espaçoso, amigo do ambiente, a marcar pontos na segurança e conforto e, até talvez, equipado com sistema de condução autónoma, o que lhe tiraria grande parte, senão toda, do enorme prazer de condução que proporcionava…