A Guerra Fria está ao rubro. Os americanos acabam de descobrir um humanóide que os pode colocar à frente nesta guerra contra os russos. Nunca poderiam os americanos pensar que as suas intenções podecem ser postas em risco por uma simples senhora da limpeza. Este é The Shape of Water.
Crítica de Cinema: The Shape of Water
The Shape of Water foi escrito e realizado por Guillermo del Toro. Os universos de fantasia do mexicano são sempre muito sui generis e este não foge à regra. O estilo é inequívoco, anos 60 bem caracterizados, no ambiente do mundo e a cultura da sociedade. Não estava à espera que o filme beliscasse de maneira tão minuciosa os temas do racismo e da homossexualidade.
Era impossível fazer um filme de época e não tocar nesses pontos. O problema é que quase todos o fazem da mesma maneira, mas felizmente não é o caso deste filme.
Sally Hawkins é Elisa, uma senhora da limpeza igual a todas as outras, menos no facto de ser muda. Não deve ser nada fácil para qualquer actor representar um papel igual a este, onde está, como que proibido de falar. Daí o meu apreço pela prestação de Hawkins neste filme. A sua facilidade em transmitir emoções e sentimentos apenas por gestos e expressões faciais e corporais é tremenda.
Elisa não é muito faladora. Mas para falar está lá Zelda, outra senhora da limpeza, protagonizada por Octavia Spencer. Não é a voz de Elisa, porque Zelda é uma mulher de convicções fortes que fala pelos cotovelos, e de humor fácil. Poucas são as cenas de Zelda onde não soltemos uma gargalhada.
O outro amigo de Elisa, Giles, representado por Richard Jenkins, é o oposto de Zelda. Muito recatado e que passa maior parte dos seus dias em casa, com os seus gatos e desenhos. Este sim, já põe alguma água na fervura de Elisa quando esta conhece o humanóide.
A Bela e o Monstro
As duas personagens que faltam, o bom e o mau da fita não podiam ser mais diferentes. Richard Strickland, interpretado por Michael Shannon, é o responsável pela captura do humanóide. Homem de família, que põe o trabalho à frente de tudo. Um vilão muito característico, com taras e manias muito pessoais.
Para variar, vemos em The Shape of Water, Doug Jones interpreta mais um “monstro” de Del Toro. Também não comunica por palavras, o que muito provavelmente lhe dificultou o trabalho, e que depende muito da equipa de efeitos especiais. Parece-me que Del Toro, no que toca ao seu monstro, evitou usar o CGI e preferiu os ditos pratical effects, com toda a sua mestria.
A construção da relação entre Elisa e o humanóide pareceu um pouco apressada e não dá tempo a quem vê o filme de se importar com aquele casal. Queremos que o homem aquático seja salvo e que ninguém lhe faça mal, e que Elisa preencha o vazio que existe na sua vida, e em duas horas não seria difícil mostrar melhor o desenvolvimento da relação entre os dois. The Shape of Water é um filme bonito, com bons efeitos especiais e cenas bastante personalizadas, mas a história de amor não chega ao coração do espectador. Del Toro cai no erro de caracterizar quase todas as personagens que aparecem, perdendo tempo e tirando o foco das suas personagens principais.
Quero muito que Del Toro continue a inventar os seus universos de fantasia, porque ele é muito bom naquilo que inventa e que escreve. Mas este filme não está tão bom como a sua obra-prima, Pan’s Labyrinth…
Estrelas: ***
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