O Ford Capri é um automóvel com símbolo americano, mas com alma muito europeia é o que lhe damos a conhecer hoje.
Considerado, atualmente, um clássico, é um automóvel com carisma (de estilo fastback) que se distinguia pela diferenciação estética, capot longo e uma silhueta que sublinhava imagem desportiva.
Foi apresentado a 24 de janeiro de 1969, no Salão de Bruxelas, na Bélgica. Quando chegou ao mercado europeu, atraiu, desde logo, jovens clientes que asseguraram o seu sucesso comercial. Nos dois primeiros anos de produção, por exemplo, atingiu os 400 mil exemplares.
Ford Capri: como tudo começou
O Ford Capri começou por surgir com a designação de “Projeto Colt”, em Inglaterra, como resposta ao icónico Mustang que colecionava sucessos por terras do Tio Sam.
Surge, então, em contraponto a este, principalmente porque o Mustang era conhecido pelos potentes motores, consumos altos e preço elevado, aspetos pouco compatíveis com o mercado europeu. Assim, a Ford quis entrar neste competitivo mercado com um produto que, de alguma forma atraísse, desde logo, pela jovialidade, irreverência, e economia.
Após diversos estudos realizados pelo atelier de design da marca no Reino Unido e de um investimento de cerca de 20 milhões de libras, em 1967, o “Projeto Colt”, que viria a dar à luz o Capri, ganha forma.
No mesmo ano, a designação do projeto ,“Colt” (nome então registado pela Mitsubishi), dá lugar a Capri. Esta tem origem na ilha situada ao largo de Itália e que, curiosamente, a marca americana já tinha utilizado num outro modelo, que teve fraca expressão: o Ford Consul Capri.
Para o sucesso do Capri, que a Ford Motor Company, construiu entre 1968 e 1986, muito contribuiu o engenheiro norte-americano que o desenhou e, que curiosamente, também tinha assinado o Mustang: Philip T. Clark.
Recorde-se que o Ford Capri é produzido durante 17 anos, dos quais resultou a venda de 1,9 milhões de unidades. Este foi um sucesso à época que não foi registado só na Europa. Multiplicou-se, também, em países como Estados Unidos da América, Nova Zelândia e Japão.
Desenvolvimento teve por base o Ford Cortina
O Ford Capri tem por base a estrutura técnica de um outro modelo da marca: o Cortina. A tração traseira e os motores 1.6 litros estavam associados a caixa manual de quatro velocidades. As prestações oficiais anunciadas pela marca norte-americana davam conta que o sprint 0-100 km/h cumpria-se em 16 segundos e a velocidade máxima era de 155 km/h.
Mais tarde, a Ford atualiza esta informação para: 0-100 km/h em 11,9 segundos e velocidade máxima de 170 km/h. Estes são números bem mais interessantes para quem procurava no Capri um coupé desportivo com prestações superiores.
O habitáculo apresentava conforto e espaço q.b., volante de três raios a sublinhar o design desportivo do coupé e um painel de instrumentos com manómetros circulares, onde não faltava o imprescindível conta-rotações, colocado à direita do conta quilómetros.
Sucesso comercial dita entrada nas pistas
O sucesso comercial que granjeou nos mercados europeus rapidamente se transpôs para as pistas, devido à boa performance dos motores oriundos de outros modelos que a Ford comercializava, como por exemplo o bloco 1.3 litros do Escort MKl; 2.0 do Corsair ou o 1.6 do Cortina. Destes modelos, além dos motores, eram utilizadas também as transmissões.
O aspeto desportivo e mais raçudo do Capri foi elevado com a produção de apenas 100 unidades de RS 1300 com motorização Cosworth, que debitava 435 cv de potência.
Como principais caraterísticas, os modelos mais potentes tinham bossa no capot, e diferenciavam-se ainda das outras versões por terem faróis com dupla óptica. Também no plano cromático, a Ford pintava o modelo em tom bicolor usando o preto baço no capot, o que dava um aspeto bem irreverente ao Capri.
Sucesso na competição
Nos anos 70 o departamento de competição da Ford era muito ativo. O programa Escort (da primeira geração) dava os primeiros passos e fazia sucesso nos ralis, mas a Ford queria marcar presença nas pistas e entrar nos campeonatos de turismo na Europa, muito populares na altura, que atraiam milhares aos circuitos.
Eram veículos com publicidade e visibilidade privilegiada, devido ao acompanhamento que a imprensa escrita, radiofónica e TV davam às competições.
Entrava, deste modo, o Capri nas pistas e em 1972 consegue os 8.º e 10.º lugares nas sempre competitivas 24 Horas de Le Mans. Nas 24 Horas de Spa-Francorchamps, conhecida pela dureza e competitividade, alcançam os três lugares do pódio frente a rivais como BMW, Alfa Romeo e Chevrolet Camaro.
Ford Capri RS: um colosso em pista
Os desafios em pista eram superados com galhardia e o Capri durante dois anos bateu-se com os mais diferentes adversários. Os lugares nos pódio sucediam-se no Campeonato Europeu de Turismo mas, em 1973, o Capri RS 2600 baqueia e cede posição ao novo BMW 3.0 CSL, que arrebatava os louros da vitória para a marca alemã.
Contudo, a Ford não atira a toalha ao chão e reinventa-se com o Capri RS 3100. Equipa quatro desportivos com potentes motores Cosworth: bloco V6 de 3,4 litros e 420 cv. A velocidade máxima anunciada é de 270 km/h e conta com uma aerodinâmica reforçada com spoilers dianteiro e traseiro.
Assim voltavam as vitórias. Um dos pilotos que correu nas pistas europeias com o Ford Capri foi o promissor Nicki Lauda, que tão bem conhecemos dos campeonatos mundiais de Fórmula 1.
Versão radical do Ford Capri: Grupo 5
Ainda no campo desportivo não podemos deixar de salientar o modelo construído pela Zakspeed Ford Capri, que estreou em 1981. Tratava-se de um Grupo 5 versão do Capri MKIII preparado para participar no Deutsche Rennsport Meisterschaft, que foi conduzido pelos conhecidos pilotos Klaus Ludwig e Jochen Mass.
Na sua estrutura, muito pouco do Capri original existia no Zakspeed Ford Capri, apenas o tejadilho, pilares e algumas partes da seção traseira. Tudo o resto foi trabalhado no sentido de dotar o Ford Capri para ser um ganhador em pista.
A carroçaria era construída em perfis de alumínio para garantir a leveza do conjunto. O motor turbo Cosworth disponibilizava 530 cv às 9.200 rpm com carga de 1,4 bar. 1,6 bar estavam disponíveis por períodos curtos e davam 70 cv adicionais ao motor.
No ano de estreia, 1981, o Zakspeed Ford Capri, participou em 14 corridas, obteve 9 vitórias e 12 pole positions.
Ford Capri produzido também em Portugal
Em Portugal, à semelhança de outros mercados, o sucesso do Ford Capri expressa-se nas 4.310 unidades comercializadas, com os primeiros 115 exemplares a serem importados de Inglaterra em 1969.
Em 1970 iniciava-se a produção do modelo norte-americano com alma europeia na Fábrica da Ford, na Azambuja. O Ford Capri foi produzido até 1976, último ano da comercialização, em Portugal.
O Ford Capri em Portugal só foi comercializado com motores de origem britânica: Capri 1300, 1600, 1600GT e 3000GT.
Primeiro facelift em 1973
No primeiro facelift realizado no Capri, em 1973, e que em Portugal deu origem ao Capríssimo, o modelo recebeu árvore de cames à cabeça (motores ‘Pinto’ substituíram o conhecido motor Essex, nos modelos 1600, 1600GT, 2000GT e 3000GT).
O Capri MKII que entra no mercado em 1974 integra no seu portfólio a versão 2600 RS Injection, que passa a ser o topo da gama do modelo que conheceu três gerações MKI, MKII e MKIII.
A produção do Ford Capri terminou em dezembro de 1986, não sem que em 1971, tenha também conhecido uma versão cabriolet, The Crayford Capri, de que apenas foram construídas 30 unidades.
Este é, sem dúvida, um modelo que deixou saudades a muitos condutores e que ainda hoje satisfará o ego de quem possuir um na sua garagem.
Ford Capri: as datas
- 1969-1974: Ford Capri Mk I;
- 1970-1973: Perena Capri (versão modificada do Capri 3000 GT com motor V8);
- 1974-1978: Ford Capri Mk II (reconhecido pelos faróis rectângulares Hella H4);
- 1978-1986: Ford Capri Mk III
A designação Capri noutros modelos Ford
A marca norte-americana da oval azul utilizou o nome Capri noutros modelos:
- 1961-1964: Ford Consul Capri – coupé, produzido pela Ford no Reino Unido;
- 1969-1986: Ford Capri coupé, produzido pela Ford Europe;
- 1989-1994: Ford Capri cabriolet, produzido pela Ford Motor Company na Austrália.