Janeiro de 1968. O Ford Escort chega aos concessionários. Em Portugal viviam-se ainda os anos da ditadura. O 25 de Abril de 1974 só chegaria 6 anos mais tarde. A juventude da época ouvia com fervor Bob Dylan.
Entretanto, 1968 ficaria marcado pela exoneração de Oliveira Salazar, a entrega do Governo a Marcelo Caetano e pela crise académica de Coimbra, com os alunos a fazerem greve aos exames e manifestações na rua.
No mundo as convulsões sociais multiplicavam-se. Na França os estudantes bloqueavam o Boulevard de St. Germain, em Paris, a guerra do Vietname era uma realidade e a Guerra Colonial continuava a abalar a sociedade portuguesa.
É num panorama de pré-transformação social que o pequeno familiar Ford Escort, fabricado pela Ford Europa (1968 a 2000), chega ao mercado.
Seis gerações de bons serviços
A apresentação do Ford Escort – Ford Escort 1100 L Mark – teve lugar no final de 1967, no Reino Unido e na Irlanda, e estreou em janeiro de 1968 no Salão Automóvel de Bruxelas.
O novo modelo substituiu o também bem sucedido Ford Anglia e, na Europa, foi apresentado como o primeiro automóvel de passageiros a ser desenvolvido pela Ford Europa.
A produção do modelo teve início na fábrica de Halewood, na Inglaterra, no final de 1967 e, para os mercados com volante à esquerda, durante setembro de 1968, na fábrica da Ford, em Genk. As seis gerações do modelo estão assim distribuídas:
O modelo apresentava-se num estilo contemporâneo de acordo com a linha de design da época. Inicialmente tinha duas portas. Faróis dianteiros redondos e tapetes de borracha, definiam o modelo De Luxe. O modelo Super recebia faróis dianteiros retangulares, tapetes, isqueiro e medidor da temperatura de água.
A tração era traseira e recebia caixa manual de quatro velocidades, ou transmissão automática de três velocidades.
O motor era o Kent Crossflow nas versões 1.1 L e 1.3 L. Um motor mais performante equipava o modelo 1300 GT. Este recebia carburador Weber e suspensão melhorada. Esta versão apresentava instrumentação adicional com um tacómetro, indicador de carga da bateria e medidor de pressão de óleo.
Para os ralis e corridas a marca disponibilizava o Escort Twin Cam – Grupo 2 de ralis. O motor tinha uma cabeça de árvore de cames dupla de oito válvulas fabricada pela Lotus instalada num bloco 1.5 L. O Mark I Escort tornou-se num dos carros de maior sucesso dos ralis de todos os tempos.
Esta é considerada a versão mais quadrada do Mark II e surgiu em janeiro de 1975, com os primeiros modelos a saírem da linha de produção em dezembro de 1974. O modelo, ao contrário do Mark I construído pela Ford na Grã-Bretanha, foi desenvolvido em conjunto entre a Ford do Reino Unido e a Ford da Alemanha.
Com o primeiro modelo partilhava os componentes mecânicos, chassis melhorado, e estrutura central. A suspensão traseira ainda usava molas de lâmina, embora alguns modelos seus contemporâneos fossem equipados com molas helicoidais.
Aos modelos L e GL (2 e 4 portas) juntavam-se os modelos Sport, RS México e RS2000 e o Ghia (também com 2 e 4 portas), este dirigido ao mercado de luxo.
O motor 1.6 L (1598 cc) que debitava 84 cv era usado na versão 1.6 Ghia (1975).
Em 1978 o modelo recebia um facelift com os modelos L a receberem faróis quadrados, até então, exclusivos para as variantes GL e Ghia. Entretanto, entre 1979 e 1980 a marca lançava uma edição especial do Escort com os nomes: Linnet, Harrier e Goldcrest.
Lançado em setembro de 1980, o carro tinha o nome de código “Erika”, mas devido ao sucesso prevaleceu o nome Escort. Este foi o segundo modelo da Ford Europa a receber tração dianteira e a ter a responsabilidade de catapultar as vendas. Em 1982 ultrapassou o Ford Cortina no que diz respeito a unidades vendidas posicionando-se como o mais vendido na Grã-Bretanha. Posição que manteve durante oito anos.
Utilizando a plataforma melhorada do modelo Mark II o Escort da 3.ª geração apresentava um design completamente novo e foi concebido como um veículo de alta eficiência que concorreu no mercado com os também bem sucedidos Volkswagen Golf e Honda Civic. O modelo da oval azul recebia a nova linguagem de estilo com grelha do radiador em forma de veneziana em cor preta, os faróis traseiros listrados e aerodinâmica denominada Aeroback (registo da Ford), sistema que seria mais tarde aplicado e desenvolovido nos modelos Sierra e Scorpio, por reduzir significativamente o coeficiente de resistência aerodinâmico do carro.
Outras mudanças adotadas nesta geração do Escort foram a tração dianteira, a nova carroçaria hatchback e os também novos motores CVH, com eixo de comando de válvulas. A suspensão era independente e o peso do conjunto era 75 kg mais leve do que o modelo da geração anterior.
O Escort Mark III foi eleito Carro do Ano em 1981, tendo lutado com concorrentes como Fiat Panda e Austin Metro. O modelo estava disponível nas versões L, GL, Ghia e XR3, em modelos de 3 e 5 portas.
Entretanto, entre 1982 e 1986 o modelo sofreu alguns melhoramentos como a introdução (meados de 1982) da caixa manual de cinco velocidades; e de motor diesel (agosto de 1983), nas versões de equipamento L e GL.
O sucesso do Escort Mark III levou a que o carroçador Karmann desenvolve-se uma versão cabriolet, que surgiu em 1983, no mesmo ano em que a Ford dá início à carrinha de cinco portas. O Ford Escort Cabriolet estava disponível nas versões XR3i e Ghia, que mais tarde acabou por ser suspensa.
O ano de 1981 marca ainda a comercialização da Van Escort. Um carro comercial de duas portas vendido pela primeira vez em fevereiro daquele ano. Com algumas mudanças na estrutura da carroçaria e na suspensão traseira a van surgia como um escape para as empresas que necessitavam de um veículo adequado à cidade para fazer a entrega de objetos de médio porte, e também para a deslocação de profissionais de diversos setores económicos. A oferta de motores em 1984 incluía diesel e gasolina.
A 4.ª geração do Escort, que internamente era conhecida pelo nome de código “Erika-86” surge no mercado em 1986, com algumas alterações. No entanto, no mundo automóvel ficou conhecido como Mark IV, sendo reconhecido como uma versão atualizada do modelo da geração anterior e, seguindo a linha de estilo implementada nos modelo Scorpio e Granada III, com secção frontal com design liso e faróis traseiros estriados.
O habitáculo também foi alvo de atualização apresentado novos forros nos painéis das portas, novo tablier e painel de instrumentos e adoção de novos recursos como conjunto de travões antibloqueio e para-brisas aquecido. Ainda ao nível mecânico introdução de motor CVH de 1.4 litros e uma nova versão do 1.3 litros que se juntaram ao 1.1 litros já existente.
Devido ao sucesso do modelo a Ford apostou na desmultiplicação de versões e em 1987, introdução o modelo com nível de equipamento LX que se situava entre os modelos L e GL.
O ano de 1989 marca a chegada de novas mudanças na linha de motores, com chegada do bloco 1.8 litros diesel e com os modelos 1.1 litros e 1.3 litros a serem atualizados com a versão de motores redesenhada HCS. Os modelos designados “L” passam a receber vidros coloridos e teto de abrir de série.
A 4.ª geração do Escort continua a ser um sucesso e a receber ciclicamente atualização de equipamentos. Foi o que aconteceu em 1990, dois anos antes da chegada da 5.ª geração, com todos os modelos a receberem equipamento melhorado, principalmente as versões mais populares (exceto os básicos), que passam a receber teto de abrir de série e a versão GL passa a ser equipada com vidros e espelhos elétricos. Rádio com leitor de cassetes e caixa de 5 velocidades passam também a fazer parte do equipamento de série assim como, os conversores catalíticos e injeção de combustível de ponto central que passam a ser disponibilizados nos motores 1.4 e 1.6 CVH.
Setembro de 1990 marca o arranque da 5.ª geração do Ford Escort modelo que até então somava êxito atrás de êxito. Modelo que se tornou um ícone no seio de produtos da marca norte-americana e que na Europa era um dos mais bem aceites. A 5.ª geração apresentou-se com carroçaria completamente nova, suspensão traseira simplificada com barra de torção. As primeira unidades desta geração transitaram da geração anterior mas não agradaram e foram alvo de duras críticas por parte da imprensa especializada.
Então, no início de 1992 a Ford lança um motor Zetec de 16 válvulas completamente novo. Este passa a estar disponível na versão XR3i em duas variantes que utilizavam o bloco 1.8 litros Zetec. Paralelamente a Ford apresenta o RS2000 com motor de 16 válvulas (1991).
A par da revolução mecânica os modelos Escort passam a receber equipamentos como direção hidráulica, vidros elétricos, travões antibloqueio eletrónico e ar condicionado.
Exteriormente o Escort recebia nova grelha frontal, capot com novo desenho e os modelos cabriolet e hatchback tinham nova seção traseira. Chegava também , em 1992 um novo motor 1.6 litros Zetec de 16 válvulas com injeção de combustível que passava a ser padrão em toda a linha de automóveis da Ford equipados com motor a gasolina. O RS2000 recebe também tração às quatro rodas e pela primeira vez o Escort recebe travões de disco nas quatro rodas, de série, nos modelos RS2000 e XR3i.
Em 1993 são introduzidos os motores 1.3 litros e 1.4 litros CFi a gasolina e 1.8 litros diesel.
A segurança dos modelos começa a ser cada vez mais uma realidade e a Ford, em 1993, aprimora os padrões de qualidade neste capítulo. O resultado da decisão é que os Escort passam a apresentar barras de impacto lateral, habitáculo reforçado, zonas de deformação e pré-tensores dos cintos de segurança dianteiros e, em 1994, surgem os airbags para passageiro, que se junta ao já presente airbag para o condutor. Estes itens passam a integrar o equipamento de série dos modelos.
A produção da 5.ª geração termina em 1995, embora surjam unidades Escort, Escort L, Ghia e Si em 1996 e 1997.
Revisto em 1995 o Ford Escort surge na 6.ª geração em Janeiro. Novas ópticas, capot , para-choques dianteiro e traseiro, espelhos retrovisores laterais com novo desenho, puxadores de portas marcavam o exterior, onde ainda se destacava a mudança do logotipo da Ford
na seção traseira, mudando da direita para o centro da mala.
Os engenheiros da marca da oval azul dedicaram especial ao habitáculo que na geração anterior acabou por não agradar a cem por cento devido à utilização de alguns plásticos de qualidade inferior. Por isso o automóvel apresentava agora painel de instrumentos
totalmente novo, bem como molduras nas portas de qualidade.
Nas mecânicas, os motores que equipavam as versões de entrada na gama, foram revistos,
caso do 1.3 L que recebeu a atualização da família de motores Kent; enquanto o 1.4L CVH foi substituído pelo bloco CVH-PTE. O motor 1.8 litros diesel, já com provas dadas, continua a ser utilizado. Também as suspensões são totalmente revistas de forma a tornar a condução mais agradável.
Os modelos RS2000 são suspensos em 1996 sendo os últimos Escort a usar a sigla RS
até que esta reaparece em 2002, no Focus RS. Em 1997 a sigla GTi acaba, na Europa, com o último Escort.
A passagem do Ford Escort a clássico dá-se em 1998 quando a marca anuncia a introdução
de um carro totalmente novo: o Focus. Este substituiu o Escort numa altura em que o
modelo cumpria 30 anos de bons e relevantes serviços. Nesse ano a linha de produtos
Escort é reduzida a duas edições Flight e Finesse e vendida apenas por mais dois anos, em paralelo com o Focus.
Ford Escort RS1600: o primeiro de uma linhagem vincadamente desportiva
A garra da Ford no desporto com o Escort começa em 1970, com o modelo RS1600. Tratava-se de um três portas, hatckback, equipado com motor 1.6 litros, desenvolvido pela Cosworth. À época foi o primeiro automóvel de estrada a receber cabeça de quatro válvulas por cilindro.
Este foi o primeiro de um ciclo que se desenvolve há 51 anos e que conhece evolução sobre evolução do mítico modelo Escort.
Após o RS1600 surgiram o RS2000 (1973); Escort RS1800 (1975); Escort RS Mexico (1975); Escort RS2000 (1976); Escort RS1700T (1980); Escort RS 1600i (1982); Escort RS Turbo (1984); Ford RS200 (1984); Escort RSTurbo (1986); Escort RS2000 (1991); Escort RS Cosworth (1992) e Escort RS2000 (1993).
A linhagem RS, a mais desportiva da Ford, e com grande palmarés desportivo, integra ainda nos seus mais de 50 anos de atividade modelos RS Capri, Sierra, Fiesta e Focus. Todos embrulhados em carroçarias com caráter vincadamente desportivo, a que estão associados habitáculos desenhados para os apreciadores de carros de competição e motores de elevada performance.
Ford Escort: uma lenda nos ralis
Da legião de modelos Escort que receberam a sigla RS o Ford Escort RS 1800 Mk II foi um dos maiores protagonistas, tendo marcado os ralis por onde passou.
Foi também o modelo responsável por dar tantas alegrias à Ford e aos pilotos que o conduziram como Björn Waldegard, Ari Vatanen, Hannu Mikkola ou Joaquim Santos.
A história dos ralis está marcada por milhares de nomes e de marcas, quer sejam pilotos, co-pilotos, mecânicos, diretores de equipas e, pelas mais diversas marcas e modelos de automóveis. Mas poucos são lembrados como o Ford Escort.
O modelo galvanizava os troços por onde passava. O som rouco do motor ecoava à distância e, claramente, distinguia-se dos demais. O bailado nas estradas poeirentas, com pedras a saltar por todos os lados, encantava quem assistia nas bermas à passagem dos Escort, nas provas de rali dos anos 1970/1980 do século passado.