Os ralis de hoje pouco têm que ver com os ralis do século XX, altura em que as máquinas eram preparadas sem a panóplia tecnológica que atualmente existe. Um bom exemplo de competitividade é o Ford Sierra RS500 Cosworth: uma máquina infernal.
O modelo apresentava-se com carroçaria de linhas direitas com enorme spoiler traseiro (whale tail), chassis muito equilibrado e um motor a jorrar potência por todos os “poros”. Era assim o Ford Sierra RS500 Cosworth, uma máquina que enfrentou muitos ralis e que fazia as delícias de pilotos e do muito público que afluía aos troços para ver e, principalmente, ouvir este potente carro.
O Ford Sierra RS Cosworth “nasce” da evolução do Ford Sierra Cosworth por dois motivos de razão. Em primeiro lugar porque a Ford Motorsport na Europa, no início dos anos 1980, queria voltar à ribalta e para isso precisava de ser competitiva. Em segundo lugar, a carreira comercial do Ford Sierra precisa de um empurrão.
Ora, o design do modelo, embora considerado futurista e bastante aerodinâmico, pecava por ser pouco consensual. Neste contexto, a Ford Motorsport eleva o Sierra a um novo patamar e aposta na produção de um vencedor para as corridas do Grupo A, na Europa.
Ford Sierra RS Cosworth apresentado em Genebra
O projeto definido por Stuart Turner, na primavera de 1983, foi apresentado no Salão Automóvel de Genebra em 1985 e lançado no mercado em julho do ano seguinte.
O modelo recebia o motor T88, conhecido como o bloco Pinto. Uma das versões deste motor, que recebeu o nome YAA, tinha cabeça nova, construída em alumínio, com duas árvores de cames e 16 válvulas.
Este motor debitava na versão comercial uma potência de 180 cv, enquanto as versões de competição chegavam aos 300 cv. Foi este motor que chamou a atenção da Ford. No entanto, para chegar à versão competitiva, a marca da oval azul teve de aceitar uma encomenda de 15.000 motores; enquanto que o projeto de competição de Stuart Turner apenas precisava de 5.000 motores.
Quanto aos restantes 10.000 motores, estes constituíram o motivo pelo qual a Ford escolheu desenvolver uma nova geração Sierra RS Cosworth, desta feita com quatro portas e tração às quatro rodas.
Versão de competição RS500 passou pelo crivo da Aston Martin Tickford
A versão Sierra RS Cosworth, ainda assim, foi alvo de mais atenção por parte da marca, que queria uma projeto sólido para competição. O passo seguinte surgiu da FIA que, ao permitir a homologação de versões designadas Evolution, com produção de 500 unidades do modelo comercial (de estrada), dava oportunidade a que as marcas fossem mais arrojadas no que ao desenvolvimento das especificações dos modelos de competição dizia respeito.
Com esta abertura da FIA surge, finalmente, o Ford Sierra RS500 Cosworth, variante que passou pelo crivo da Aston Martin Tickford, que deixou o modelo no ponto para a competição.
O Ford Sierra RS500 Cosworth foi anunciado em julho de 1987 e homologado no mês seguinte. As principais diferenças para a versão Cosworth de três portas consistiam no aperfeiçoamento do motor. Outras características do modelo eram:
- Motor de quatro cilindros em linha, com bloco mais espesso para reforçar a resistência;
- Potência da versão de estrada passou dos 205 cv para 225 cv;
- Potência em competição podia chegar aos 400 cv com utilização de turbo Garret T04, maior intercooler e sistema de indução novo;
- Segundo conjunto de quatro injetores de combustível “amarelos” Weber IW025 e um segundo trilho de combustível (não ativado na versão de estrada);
- Bomba de combustível aperfeiçoada;
- Sistema de refrigeração revisto.
Na estética, o RS500, também tinha algumas diferenças:
- Spoiler frontal e traseiro revistos, com objetivo de incrementarem a downforce do automóvel;
- Novas aberturas de ar (maiores) para travões e intercooler.
- Supressão dos faróis de nevoeiro, substituídos por redes de admissão para complementar a refrigeração;
- Suspensões desportivas rebaixadas;
- Jantes 16”;
- Decalques RS500;
- Instrumentação RS500 com escala completa – 300 km/h;
- Instrumentação adicional integrada na consola central;
- Pedais desportivos.
Com o Reino Unido a posicionar-se como mercado preferencial deste automóvel, todas as unidades produzidas tinham volante à direita.
Ford Sierra RS500 Cosworth: Sucesso nos ralis
O Ford Sierra RS500 Cosworth é um dos automóveis que deixou marca nos ralis de todo o mundo. O seu palmarés é grande e a Ford pode orgulhar-se de ter produzido um verdadeiro campeão.
Pilotos como Jimmy McRae, Stig Blomqvist, Carlos Sainz e Ari Vatanen levaram o nome do Sierra RS500 Cosworth aos lugares cimeiros dos pódios. As máquinas, com mecânicas a condizer em potência, por vezes não cumpriam com o esperado. Isto é, tanta potência em pisos muito escorregadios levava a que, por vezes, em vez de acabarem na linha de meta, terminavam as provas mais cedo devido a despiste.
Mas, por exemplo, nas mãos do então jovem piloto Didier Auriol, em asfalto, o Ford Sierra RS500 Cosworth, era uma máquina infernal e um sério competidor.
Sucesso em Portugal com a equipa Diabolique
Em Portugal, com a equipa Diabolique (Team Diabolique Motorsport), o Ford Sierra, na versão Cosworth 4×4, brilhou nos ralis com a dupla Joaquim Santos/Miguel Oliveira, que nos anos 80 e 90 conquistaram diversos títulos, não só ao volante desta máquina, mas também de outras como Ford Escort RS 1800, 2000 e Ford RS 200.
Este último (Ford RS200), era uma máquina brutal, com potência, em competição, a oscilar entre os 350 cv e os 450 cv. Desta forma mostrava-se, por vezes, inguiável.
Aliás, um dos episódios mais dramáticos com este carro de competição aconteceu numa classificativa do Rally de Portugal, em 1986, na passagem pela Lagoa Azul (Sintra), quando o Ford RS 200 pilotado por Joaquim Santos (recentemente falecido) sai de estrada, irrompendo pelo público, provocando três mortos e mais de três dezenas de feridos.
O Team Diabolique Motorsport surgiu em 1978, fruto do empreendedorismo de Miguel de Oliveira, verdadeiro apaixonado pelos automóveis e pela competição e também corredor, que patrocinou a sua equipa com a marca de perfume ‘Diabolique’.
A equipa Diabolique extinguiu-se em 1991, tendo deixado muitas saudades nos aficionados pela competição, principalmente, aos entusiastas dos ralis.