A Ford Transit é um daqueles modelos que toda a gente já se habituou a ver rolar estrada fora. Surgiu no ano em que os Beatles lançavam o álbum “Rubber Soul”, Winston Churchill falecia em Londres aos 90 anos e Nat King Cole aos 45 anos, era vítima de cancro no pulmão. E ao mercado europeu chegava um modelo que revolucionou o segmento dos veículos comerciais ligeiros.
Desde 1965, a Ford Transit mantém intocável a preferência por parte dos diversos atores nas economias europeias, no que respeita ao transporte de mercadorias, ou que necessitam de modelo equilibrado e fiável para cumprir tarefas como ambulância, veículo de transporte de elementos policiais, minibus ou autocaravana.
É ainda solução para o desempenho de atividades em negócios específicos, ação que a marca americana mantém junto dos seus clientes a partir das atuais Transit chassis cabina e cabina dupla.
Ford Transit: o início de uma história de sucesso
Desde 1965 foram criadas oito gerações da Transit. Antes de ser conhecido pelo nome que hoje está enraizado no nosso subconsciente, o veículo comercial ligeiro foi produzido entre 1953 e 1965, na Alemanha, com os nomes Ford FK1000 e Ford Transit 1250. Só no final da produção em 1961 foi decidida a designação Taunus Transit.
Nesta fase só era comercializada na Europa Ocidental e na Austrália. No entanto, no final do século XX, a Ford Transit era vendida em quase todo o mundo. A exceção era a América do Norte.
O Ford FK 1000, Taunus Transit, foi produzido entre 1953 e 1965 na fábrica da Ford em Köln-Niehl, na Alemanha, e na fábrica de montagem localizada na Azambuja (Portugal), nos anos de 1964 a 1966.
A Ford Taunus Transit surgiu em várias versões: Taunus 12M, Taunus 15M, Taunus 17M e FK1000/1250. Além do novo nome, não conheceu grande evolução no início. O modelo 1250 estava equipado com motor a gasolina de 1.5 litros, e os motores de 1.2 litros estavam disponíveis apenas nas versões 1000 Combi e Van.
Abril de 1962 e setembro de 1963 marcaram momentos de evolução da Ford Taunus, que surgia com capacidade de carga de 800 kg e motor mais económico, substituindo os modelos 1000 e 1250.
Mais tarde, em 1964, a marca decide modernizar a Ford Taunus Transit pela última vez. O modelo manteve-se até dezembro de 1965, com o último modelo Ford Taunus Transit 1000 a deixar a fábrica de Colónia, na Alemanha.
Nesse mesmo mês tinham início as vendas da primeira geração (1965-1978) da Ford Transit.
Oito gerações desde 1965
Disponível em várias configurações de carroçaria a Ford Transit é um dos mais populares veículos comerciais ligeiros, quer como furgão de carga, quer como veículo de transporte de passageiros.
É o terceiro modelo mais vendido no mundo, com mais de 8 milhões de unidades transacionadas. Mas vejamos a evolução, geração a geração, do veículo comercial ligeiro que oferece generoso espaço, aliado a conforto, versatilidade, facilidade de utilização e economia de utilização.
Ford Transit MK1 (1965-78)
A primeira Transit saiu da linha de produção de Langley, em Berkshire (Inglaterra) no dia 9 de agosto.
No mesmo ano em Portugal (fábrica de montagem na Azambuja) tem início a produção do furgão, que se manteve até março de 2000.
O primeiro formato da Transit mantém-se inalterado até 1972, ano em que sofre a primeira evolução de design com a introdução de nova grelha frontal. Três anos mais tarde passa a ser equipada com travões de disco dianteiros servo-assistidos.
Deste modo, é o primeiro veículo comercial a disponibilizar este tipo de equipamento de segurança, que foi adotado nas versões curtas em 1975 e, nas carroçarias mais longas, um ano mais tarde.
O ano de 1978 (março) marca nova evolução de design da Ford Transit. A nova alteração do estilo do veículo comercial é mais apelativo, com seção frontal harmoniosa a integrar grelha que une as duas ópticas num design que transmite agradabilidade.
A ampla gama de versões da carroçaria e os motores a gasolina, extraordinariamente bem-sucedidos, transformaram a Ford Transit num dos modelos mais vendidos da Europa.
Ford Transit MK2 (1978-86)
A segunda geração carateriza-se não só pela frente modificada e preparada para receber os motores de nova geração, mas também por apresentar um design e estilo dos carros de passageiros da Ford – faróis quadrados e grelha dianteira em preto.
O habitáculo também foi alvo de modificações com o painel de instrumentos a apresentar novo desenho. No todo, estava mais civilizada e recebia alguns dos equipamentos oriundos dos modelos Ford Taunus e Cortina.
No ano de 1982 surge no mercado alemão uma versão 4×4, uma aposta do revendedor alemão da Ford na cidade de Estugarda. Abertura a novos mercados, nomeadamente ao off-road.
Em 1984 a par de nova atualização de estilo, a Transit passa a receber novo motor diesel 2.5 Di, que utilizava bomba de injeção rotativa. A adoção deste bloco motriz traduziu-se em maior economia de combustível, na ordem dos 24%, nas versões de chassis curto e de cerca de 20% nas versões de carroçaria longa.
O sucesso do modelo cresceu de tal forma que no dia 25 de julho de 1985 a produção da Ford Transit atingia os 2 milhões de unidades.
Nesta altura a Ford disponibilizava a Transit em versões de carroçaria que iam do tradicional furgão, táxi, pequeno bus e caravana.
Ford Transit MK3 (1986-91)
Nesta altura a diversidade de modelos Ford Transit era tão grande que, em diversos mercados, as gerações não coincidem. No Reino Unido os modelos MK3 surgem como sendo da segunda geração, enquanto no mercado alemão o modelo MK3 foi comercializado como sendo a quarta geração Ford Transit.
Seguindo os anos de produção, a verdade é que a Ford Transit MK3 estreou-se em janeiro de 1986. Distinguiu-se dos demais modelos do segmento pela estrutura da nova carroçaria, com para-brisa e capot dianteiro a terem uma inclinação praticamente no mesmo ângulo.
O espaço de carga era maior. A carroçaria apresentava ar mais moderno, as suspensões dianteiras são independentes (tipo MacPherson) e a direção, mais confortável, de pinhão e cremalheira, nas versões curtas.
O reforço da segurança passa pela introdução de fechaduras de alta segurança nas portas e na ignição. Acrescenta ainda um feito. No ano de 1991 a Transit é o primeiro veículo comercial do seu segmento a superar com êxito um crash-test a 48 km/h.
Às tradicionais opções de carroçaria, a Ford acrescentou o modelo Transit Country 4×4, com suspensão mais elevada e tração às quatro rodas.
A oferta de motorizações dividida entre gasolina e diesel continuava a apostar na fácil manutenção e economia de utilização, indicadores indispensáveis ao sucesso da Transit.
Ford Transit MK4 (1991-94)
A quarta geração da Ford Transit, devido ao seu curto espaço temporal, é considerada por alguns como resultando num facelift da terceira geração.
As mudanças incluíam novos faróis dianteiros, redondos, grelha do radiador alterada e a cor da carroçaria.
Na carroçaria as alterações são de pormenor. No entanto, a nível da suspensão são adotados novos amortecedores, o eixo de tração é alvo de melhoramentos e as jantes passam a ser de 15 polegadas.
No que se refere a motorizações, estreia o motor turbo-diesel derivado do bloco 2.5 Di, mas com adoção, pela primeira vez num veículo deste segmento, de sistema de gestão eletrónica. Esta mudança permitirá que os blocos motrizes atinjam os 100 cv de potência.
Ford Transit MK5 (1994-2000)
A quinta geração da Transit surge em 1994 com alterações que se fazem sentir na frente de forma inovadora. Nova grelha de radiador, mais redonda, e faróis também em forma circular, com indicadores luminosos de direção.
As mudanças incidiram também no habitáculo, com painel de instrumentos totalmente novo, adoção de ar condicionado, vidros nas portas de acionamento elétrico, fecho central de portas; vidros retrovisores exteriores elétricos e airbag para passageiros.
Surge também novo motor a gasolina de 2.0 litros com 114 cv.
Em 1995 a Ford atinge novo e significativo número de unidades vendidas: 3 milhões. Paralelamente, reforça a segurança do modelo com introdução de cintos de segurança de três pontos e diagonais no banco central dianteiro.
Ford Transit MK6 (2000-06)
Julho de 2000 marca o arranque da sexta geração da Transit. Trata-se de um projeto novo que recebe influência do novo estilo da Ford “New Edge”, derivando diretamente do que se encontra em outros modelos como Ford Focus e Ford Ka.
O modelo foi bem aceite e conquista os prestigiados prémios “International Van of the Year 2001”, “Arctic Van Test” (Lapónia) e “Parcel Van of the Year” (Alemanha).
Nesta geração a Ford disponibiliza a Transit com opção de tração dianteira (FWD) e tração traseira (RWD). O modelo recebia ainda motor diesel Duratorq turbo usado nos automóveis Ford Mondeo 2000 e Jaguar X-Type. Nos blocos a gasolina destacava-se o motor 2.3 litros, que atingia velocidade máxima de 150 km/h.
Em 2002 surge pela primeira vez o motor diesel common-rail com capacidade 2.0 litros e 92 cv. Em opção passa a ser disponibilizada a montagem de transmissão automática Durashift EST.
Entretanto, o mercado exige e a Ford lança uma nova variante da Transit: a Connect. O modelo surge em 2003 e fica disponível para empresas e particulares. Nesse mesmo ano a Transit Connect é escolhida “International Van of The Year 2003” e recebe prémios similares em sete países.
Em 2005, o 40.º aniversário da Transit, fica marcado pela produção da unidade 5.000.000, em 9 de agosto e introdução, em toda a gama, do controlo de estabilidade eletrónico. Uma melhoria significativa no campo da segurança do popular modelo.
Ford Transit MK7 (2007-12)
O ano de 2007 começou bem para a Transit com o anúncio de “International Van of The Year 2007”. Neste ano a Ford produz a Sport Van, uma unidade caraterizada por receber jantes de liga leve de 16 polegadas, cintos de segurança “Le Mans” e motor de 130 cv.
Ao princípio esta seria uma série limitada, mas o interesse de clientes e público em geral levou a que a marca norte-americana produzisse em massa o modelo.
No final de 2007, um novo motor diesel de 140 cv passa a ser montado nas versões com tração dianteira, juntamente com uma transmissão manual de 6 velocidades VMT6. Uma caixa de seis velocidades foi introduzida em 2008 nos modelos equipados com motor de 115 cv.
Para comemorar o prémio recebido em 2007 a Ford decidiu pela produção da Transit XXL, com maior distância entre eixos (até 7,40 metros), e equipada com motor diesel 2.2 TDCI que debitava 130 cv.
Nesta fase a Ford disponibilizava um bloco a gasolina de 2.3 litros que debitava 146 cv, bloco diesel 2.2 litros com potências entre os 85 cv e os 144 cv e um segundo bloco diesel 2.4 litros com potências entre os 100 cv e os 140 cv. Um terceiro motor diesel 3.2 litros debitava 200 cv.
No ano de 2012 nova expansão da oferta do modelo com o lançamento da Transit Custom que, curiosamente, foi o primeiro veículo do seu segmento a receber, por parte do Euro NCAP, organização independente de avaliação de desempenho e segurança automóvel, a classificação de 5 estrelas.
Ford Transit MK8 (2013-18)
A 8.ª geração da Transit é apresentada em 2013 e, mais uma vez, introduz um conjunto de novidades no segmento. Design mais musculado e novos motores diesel Ford EcoBlue com capacidade de 2.0 litros TDCI com potências entre os 105 cv e os 170 cv.
As unidades motrizes diesel oferecem em média um desempenho 20% superior, quando comparadas com as unidades que vieram substituir, e reduzem em cerca de 55% as emissões de gases poluentes. Respondem assim às exigentes normas de emissões Euro 6 LDT III.
Paralelamente o modelo é disponibilizado com diversos tipos de tração e com múltiplas configurações de carroçaria respondendo deste modo, as exigências do mercado.
Passados 57 anos sobre o seu lançamento o veículo comercial ligeiro continua a ser distinguido, nomeadamente a Transit Connect, em 2014, com o prémio “International Van of the Year”; enquanto a Transit e a Transit Connect, conquistam o “Arctic Van Test 2014”.
Até à atualidade a Ford Transit vai somando adeptos. A última atualização – facelift – teve lugar em 2019 e o modelo foi designado Ford Transit 2019.
Adaptação à nova realidade elétrica
O sucesso da Ford Transit faz-se muito também, por via da constante atualização que o modelo recebeu ao longo dos seus 57 anos de produção, mas igualmente, por saber adaptar-se ao novo paradigma da eletrificação automóvel.
A par destas exigências estão a sustentabilidade e rentabilidade dos negócios pelo que a Ford, entendendo as necessidades dos clientes, e potenciais clientes, apostou na adoção da tecnologia mild-hybrid (mHEV) nos modelos Transit tornando-os mais eficazes.
As melhorias passam pela redução até 8% nas emissões de CO2 na gama de motores (EcoBoost, EcoBlue mHEV e Plug-In Hybrid) que equipam o modelo, oferecendo melhor rendimento e performance.
A par destas melhorias reforça o conforto e o bem-estar a bordo dos modelos Transit. A digitalização também já chegou a esta gama da Ford, que oferece diversas soluções de conectividade, nomeadamente ligação 4G e hotspot Wifi, devido ao avançado sistema de Ford Sync 3.
Da estrada para as pistas
A Ford Transit não é só sinónimo de trabalho. Passa também pela diversão e até pela competição em pista.
Pelo facto de querer celebrar as conquistas como marca líder na Europa na venda de veículos comerciais ligeiros, a Ford deu dar largas à imaginação e criou os primeiros veículos comerciais com “sangue na guelra”. Isto é, com potência a condizer para poderem brilhar também nas pistas.
O primeiro ato deste capítulo é a transformação de um modelo comercial Transit no que a marca denominou “Ford Transit SuperVan”. Uma Ford com caraterísticas muito especiais e com aspeto agressivo apesar de manter todo o design que lhe conhecemos.
O veículo surgiu em 1967 e estava equipado com potente motor V8 de 5.4 litros, com super-compressor – conhecido nos Estados Unidos da América como ‘blower’. O conjunto debitava 558 cv e era igual aos blocos motrizes que equipavam, na altura, o desportivo Ford GT40 que dominou, à época, as 24 Horas de Le Mans (anos 60).
Ao longo dos anos registou-se a construção de três modelos diferentes Ford Transit Supervan e um quarto designado Ford Transit Worl Rally Car, associado à competição WRC.
A Ford Transit veículo comercial mais vendido na Europa foi vencedora do prémio “International Van of the Year” em 2001 e 2007 e, nas versões mais curtas designadas Transit Custom e Transit Connect, também foi distinguida com o mesmo prémio nos anos de 2013 e 2014. Mais recentemente o EuroNCAP atribuiu à Transit um prémio de ouro pelas suas atuais tecnologias de segurança ativa. Já a Transit Custom recebeu o prémio prata.