Luís Seco
Luís Seco
13 Mar, 2017 - 10:37

Fotografar a viagem vs desfrutar da viagem

Luís Seco

O constante fotografar de todos os momentos intensificou-se há uns anos quando o digital tornou completamente gratuita qualquer fotografia… ou milhares delas.

Fotografar a viagem vs desfrutar da viagem

Nos dias que correm, seja com uma máquina fotográfica de topo ou com um mero telemóvel, todas as pessoas que viajam registam o que lhes acontece, o que vêem, o que comem, a sua própria imagem nos lugares por onde passam.

Seja porque gostam de fotografar e de fotografia, porque querem mais tarde recordar aqueles momentos ou porque pretendem partilhá-los com os seus amigos nas redes sociais.

Este fator levou a que viajantes ou turistas nem sequer pensem duas vezes antes de carregar mais uma vez no botão e conseguir mais uma imagem. Quantas vezes se vêem pessoas a fazer uma longa caminhada até a um local com que sonharam durante anos e, num minuto, tiram umas quantas fotografias e passam adiante?

Quantas vezes nós próprios nem sequer chegámos a rever as que tirámos, deixando-as perdidas para sempre em discos rígidos ou numa cloud?

Fotografar ou desfrutar?

A realidade é que existem estudos que mostram que tirar fotografias afeta a nossa capacidade de recordar detalhes mais tarde. Não só em relação a viagens, pois claro.

O mesmo acontece com o tempo que passamos com os nossos filhos ou num concerto dos nossos ídolos onde há tantos anos queríamos estar. As memórias que guardamos acabam por ser numa perspetiva de terceira pessoa, o que nos deixa ligações emocionais menos fortes. E a vida é feita de emoções!

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Passar demasiado tempo a tentar tirar a fotografia perfeita acaba por nos deixar uma memória algo artificial. Porque perdemos a oportunidade de nos ligarmos de uma forma ainda mais íntima com a pessoa que nos acompanha na viagem ou, por exemplo, de desfrutarmos do desejo intenso de provar a comida suculenta que está na nossa frente e cujo cheiro nos atrai irresistivelmente.

Além do mais, a viagem não foi somente feita dos melhores momentos. Os menos bons também existiram e fazem parte da sua história.

O objetivo principal de uma viagem é, afinal, descontrair e rejuvenescer. Divertirmo-nos e vivenciarmos novas experiências. Resumindo, vivermos. Quando “lá” estamos. Naquele instante! De preferência, partilhando-o com a pessoa que está connosco, ao invés de a ignorarmos enquanto passamos todo o tempo a “registá-lo”.

Quer isto dizer que devemos parar de tirar fotografias? Claro que não! Mas podemos (e devemos) dosear a quantidade e escolher as alturas certas para o fazermos.

A mais importante razão para ser mais comedido em relação ao número de fotos que tira é que vai acabar por observar melhor todo o ambiente que o rodeia e aprender a escolher as cenas que quer imortalizar. Neste caso, como em muitos outros, menos é melhor. Seja seletivo. Absorva primeiro todo o ambiente. Deixe espaço às emoções.

Não se esqueça também de que cada minuto que passa a tentar aperfeiçoar as suas fotografias em lugares icónicos concorridos, existe provavelmente uma fila de outros viajantes à espera da sua própria oportunidade para estar naquele local…

Quanto às selfies… Não é à toa que muitos museus e outros espaços culturais baniram os selfie sticks… Mais uma vez, seja razoável. O mesmo se pode dizer relativamente ao vídeos. Pense bem. Quantas vezes já esteve em frente ao seu computador ou telemóvel a rever todos os pequenos filmes que gravou em viagem?

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Caso queira mesmo partilhar os seus momentos em viagem com todos os seus amigos nas redes sociais, opte por fazê-lo e, pelo menos até regressar, esqueça os “Gostos” e as partilhas. Desligue-se também da internet e aproveite ao máximo algo a que não tem acesso todos os dias.

O melhor que tem realmente a fazer para desfrutar ao máximo da viagem é tirar a fotografia e pousar a câmara. A menos que seja profissional ou um apaixonado fotógrafo amador a quem o prazer de partir esteja, parcialmente, na antecipação do ato de fotografar.

Outra coisa que se vê muitas pessoas a fazer em viagem é a rever as suas próprias fotografias logo ali na rua ou cada vez que se sentam num banco de jardim, num relvado ou numa cadeira de esplanada. Esqueça! Vai ter o resto da vida para as analisar já em casa.

Uma alternativa excelente para as memórias não se dissiparem com o tempo é manter uma agenda de viagem, escrita no fim de cada dia. Assim, irá registar apenas aquilo que o seu cérebro considera memorável. Quando já estiver de volta a casa, ilustre a sua agenda imprimindo algumas das fotografias que tirou. Escolha a sua preferida e imprima-a num formato suficientemente grande para decorar uma parede da sua casa.

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