Share the post "Publicar fotografias dos filhos nas redes sociais: sim ou não?"
É um tema que gera discussão: há pessoas a favor e pessoas contra a partilha de fotografias dos filhos nas redes sociais. E o leitor, em que fica?
Sim ou não a fotografias dos filhos nas redes sociais?
Existe um termo especificamente criado para designar a atividade de se colocar fotografias dos filhos nas redes sociais – “sharenting”. A verdade é que muitas pessoas não cedem à tentação de partilhar aspetos da sua vida pessoal nas redes sociais. Muitas outras, no entanto, além de partilharem as suas vidas, partilham as dos seus descendentes. E em relação a esta prática, há argumentos contra e a favor.
Privacidade e partilha de conteúdo pessoal nas redes sociais
Para a geração anterior, que ainda experienciou um mundo sem Internet, a ausência de privacidade no mundo virtual pode ter causado alguma estranheza, mas as novas gerações já nasceram no paradigma de que é normal partilhar a vida pessoal nas redes sociais – basta verificar o enorme grau de adesão dos mais jovens ao Instagram.
No entanto, muitas questões éticas se levantam quando a partilha transcende a esfera individual e passa a abranger outras pessoas – os filhos. Especialmente quando essas pessoas não estão em idade de se pronunciar a favor ou contra a exposição pública da sua imagem.
Argumentos a favor e contra a publicação de fotografias dos filhos nas redes sociais
Para sempre um tema delicado e suscetível de ser debatido até à exaustão, a partilha de fotografias dos filhos nas redes sociais está longe de ser consensual entre os pais. Vamos apresentar os principais argumentos, favoráveis e desfavoráveis, para que o leitor possa formar a sua própria opinião sobre este assunto.
Onde reside o perigo?
Num mundo ideal, as pessoas poderão, com base nas suas boas intenções, pensar que não existe qualquer perigo no facto de se publicar fotografias dos filhos nas redes sociais. Outras poderão pensar que só existem perigos à espreita se forem publicadas fotografias dos filhos nas redes sociais. Aqui entre nós, dizemos que nenhuma das afirmações é 100% verdadeira.
Por um lado, a partilha de fotografias das crianças permite a qualquer pessoa que as veja identificá-las visualmente, tornando-se muito mais fácil uma abordagem indesejada, por exemplo, na rua. A fotografia por si pode não ser um problema, no entanto, a rede social permite inferir que a mãe se chama “Isabel”, o pai “João” e o tio “Alexandre”. Se se dirigir a uma criança pequena e lhe disser que veio da casa do tio “Alexandre” e que a mãe pediu para a ir buscar, é provável que ela vá consigo sem oferecer resistências.
Por outro lado, este tipo de abordagem pode acontecer mesmo que fotografias da criança não tenham sido partilhadas. E de facto, a maioria dos estudos confirma que os crimes contra crianças são praticados por pessoas próximas da família.
Onde estão os limites entre a vida do pai e da mãe e a vida da criança?
As crianças poderão ser suas descendentes, mas não são sua propriedade. Tendo isso em conta, será correto partilhar a sua imagem sem que elas possam autorizar ou pronunciar-se a favor ou contra? É natural que os pais se sintam tentados a partilhar com o mundo a alegria de serem pais. Mas os cuidados que temos na exposição pública de imagens de pessoas adultas (normalmente pedimos autorização a amigos e familiares para publicar) acabamos por não ter com as crianças. Porquê?
Ponha-se no lugar deles e imagine que alguém publicava imagens suas, a toda a hora, sem a sua autorização. Como se sentiria? A resposta a esta questão pode ajudá-lo a posicionar-se face a este tema.
Presentes na rede desde o primeiro dia
Para muitos seres humanos nascidos hoje, a sua presença online inicia-se logo no dia do seu nascimento, ou mesmo ainda na barriga da mãe – são muitos os pais que têm o desejo de partilhar com o mundo esse grande acontecimento das suas vidas.
Por mais irresistível que seja, no entanto, pense se o seu filho gostará de ver, anos mais tarde, aquela fotografia exposta. Pense em todas as situações que podem acontecer no futuro e que podem trazer sofrimento à criança, associadas àquela imagem. Para dar apenas dois exemplos: a separação ou a morte dos pais.
Mas nem tudo é mau: talvez a maior vantagem de publicar fotografias dos filhos nas redes sociais resida na facilidade com que podemos partilhar as fotografias dos filhos nas redes sociais, tornando-as acessíveis, quase em tempo real, para o círculo de familiares e amigos, que muitas vezes se encontram longe, e assim se sentem mais próximos. Mas há outros factores a ter em conta antes de tomar a sua decisão.
A presença online é permanente
A primeira coisa que um pai ou uma mãe deve ter bem em conta é o futuro – as fotografias dos filhos nas redes sociais, uma vez publicadas, poderão ser depois muito difíceis de apagar. E que a probabilidade de um dia mais tarde os filhos desejarem remover a informação que deles consta online é alta.
Mas a partilha deste tipo de informação por parte dos pais pode afetar as crianças à medida que elas crescem, no sentido em que poderão sentir algum desconforto ou mesmo constrangimento por verem fotos suas publicadas sem a sua autorização no domínio da esfera pública.
Usurpação das fotografias por parte de terceiros
O “morphing” é um dos perigos a que se está sujeito quando a imagem é partilhada online. O termo reporta à prática de copiar fotos tiradas da Internet e fazer uma montagem fotográfica com uma foto de índole pornográfica.
Poderá estar a divulgar mais informação pessoal além da fotografia em si
Outro fator que deverá ter em conta é que nesta era digital todos os ficheiros têm metadados associados, o que pode significar que junto com a imagem que publicamos poderão estar certos dados pessoais que julgamos não existirem, como a data em que a fotografia foi tirada, ou o local. Isto pode significar um sem número de perigos.
Poderá passar uma imagem falsa de como é a vida da criança
A não ser que exista uma estratégia comercial inerente ao facto de se publicar fotos de crianças nas redes sociais, o que desde logo é eticamente questionável, muitas vezes estamos a passar uma imagem distorcida daquilo que é a realidade. Isto leva a que o desejo que os pais têm de que os filhos sejam “reais” perante o mundo acabe por não acontecer. Isto porque no fundo ninguém é real nas redes sociais, por muito inocente que uma determinada fotografia o seja.
A “culpa” é da forma como as pessoas vêem e interpretam a informação nas redes sociais. Por exemplo, se tirou uma fotografia ao seu filho no berço para com o intuito de mostrar o seu sorriso, muitas pessoas poderão reparar noutros elementos que nem imagina que lá estão a ser comunicados, como um brinquedo inapropriado para idade. Acontece que esse brinquedo não é seu, é do seu filho mais velho, e isso poderá suscitar uma interpretação completamente alheada daquilo que eram os seus intentos ao publicar a fotografia.
Muitos destes aspetos negativos seriam facilmente evitáveis ou pelo menos minimizados se todas as pessoas fossem cuidadosas e perdessem algum tempo a assegurar que estão a tomar todas as precauções no que toca às definições nas redes sociais. Mas a verdade é que na ânsia de partilhar a melhor foto, este aspeto acaba por passar despercebido.
Muitas vezes desejamos partilhar momentos importantes que envolvem os nossos filhos, mas lançamos aqui uma sugestão: reflita sobre as implicações antes de tomar essa decisão. Cada pai antecipa o que será melhor para o seu filho mas nem sempre as consequências de uma ação são previsíveis. Atenda a todos os prós e contras e tome a sua decisão em consciência!