A atividade de fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) continua a ser uma chave-mestra para as empresas que procuram acelerar o seu crescimento. Em Portugal, a atividade mantém-se muito exposta ao investimento estrangeiro, sendo que os setores tecnológico, financeiro e o do imobiliário e construção lideram as operações, ainda que o PRR possa trazer oportunidades para outros setores, como o energético (incluindo as energias renováveis), o farmacêutico ou as infraestruturas.
E se os últimos dois anos foram bastante desafiantes para a Indústria nacional, exigindo um esforço significativo para garantir a resiliência das operações, as Tecnológicas encararam este período de disrupção como uma oportunidade de crescimento, muito devido, diga-se também, à sua extraordinária capacidade de reação e rapidez na redefinição de estratégias.
Todavia, importa sublinhar que este tipo de análise setorial não deve ser estanque, pois em jogo estão também as agendas políticas, as corporativas e as próprias dinâmicas de um mercado global. E já aprendemos a lição de que tudo o que é dado como certo hoje, pode rapidamente mudar amanhã. Quem não se recorda das previsões que, no início de 2020, apontavam para um grande crescimento e consolidação da economia nacional? A realidade, contudo, veio a revelar-se bem diferente.
Ainda assim, não esqueçamos que o mercado movimenta-se fazendo uma análise bastante racional do contexto e uma gestão controlada das oportunidades e dos riscos.
No caso particular das Tecnológicas, é certo que acabaram por beneficiar de uma aceleração dos processos tecnológicos induzidos pela pandemia e, claro, do papel importante que assumem na transição digital do tecido empresarial nacional. Mas aqui chegadas, e a braços com um novo contexto de incerteza, estas empresas continuam a olhar para o futuro e a contemplar a atividade de M&A como uma uma opção estratégica para acelerar o crescimento, criar valor e beneficiar todos os seus stakeholders. Aliás, os players do setor estão bastante otimistas em relação ao que ainda aí vem.
O Futuro das M&A nas Tecnológicas e num novo ambiente geopolítico
Disrupção, ajuste e aceleração tem sido o racional da gestão de crises da História do Ocidente. Após uma pandemia e uma guerra às portas da Europa, que se antevê curta, o mercado já antecipa o cenário do pós-guerra e as relações que se vão estabelecer no novo ambiente geopolítico.
Neste contexto, acredita-se que as fusões e aquisições serão, cada vez mais, uma força motriz dos negócios. A nível global, a atividade de M&A continua a ser impulsionada pela disponibilidade para o investimento em capital privado e em capital de risco. A nível nacional, embora as M&A tenham recuado em 2021, acredita-se que as decisões de investimento que foram adiadas vão dar um novo fôlego ao setor, até porque os consultores, gestores e líderes empresariais sabem que as empresas precisam de se tornar cada vez mais fortes para terem um crescimento sustentado e absorverem eventuais novos choques.
Tech Academy: o que dizem os especialistas?
Foi precisamente para debater este assunto que a Tech Academy promoveu no dia 28 de junho uma sessão presencial na UPTEC, no Porto.
Pedro Brás Silva, responsável pelos setores de Tecnologia, Media e Telecomunicações dentro da divisão de Financial Advisory da Deloitte Portugal, António Teixeira, CEO da PONTUAL – Software Solutions e Board Member da AETICE, e Jorge Menezes, consultor de gestão na Diretiva, foram os oradores convidados, sendo que a moderação do debate ficou a cargo Miguel Pinto, Diretor Editorial do Ekonomista.
Apesar do recuo no volume de transações em relação a 2020, não se deixaram de fazer grandes negócios em 2021. Jorge Menezes recorda um exemplo paradigmático: a venda da empresa portuguesa Primavera BSS à Oakley Capital Investments, um fundo de capital de risco que possui mais de 4 mil milhões de euros de ativos sob gestão.
M&A: desafios e oportunidades
Apesar de em Portugal a atividade de M&A estar muito exposta ao IDE, Pedro Brás Silva refere que o mercado interno também tem dado provas da sua capacidade de investimento, revelando que o Norte da Europa e o Reino Unido são destinos preferenciais.
Questionado sobre quais são as principais preocupações de quem compra e que riscos tem de mitigar, refere que há que conhecer muito bem o ativo, identificar as sinergias e garantir que existe uma equipa de gestão capaz de otimizar o processo de transição.
E do lado de quem vende? Como é que se identifica o momento certo? A este respeito, os oradores são unânimes: o momento certo é quando um empresário sente que já tem um crescimento estruturado, mas não consegue fazer mais sozinho.
A operação de fusão pode, neste cenário, fazer sentido para alavancar o negócio, sublinha António Teixeira. A empresa pode não precisar de capital financeiro, mas de talento ou de outros modelos de gestão mais personalizados.
Em causa está também a capacidade futura de gerar negócio, razão pela qual fatores como o ARR (Accounting Rate of Return), o MBS e o custo de aquisição de clientes são tidos em conta. Em todas as operações, contudo, o EBIDTA continua a ser um fator muito relevante.
A outro nível, há também que considerar os desafios culturais que uma operação de M&A pode pressupor: conhecer as várias dimensões do mercado-alvo, a cultura empresarial e as idiossincrasias do customer e user experience é um fator diferenciador para a concretização de negócios.
Após uma sessão de Q&A para colmatar as dúvidas da audiência de empresári@s presente, os especialistas deixaram uma nota para o futuro: a lógica de mercado vai continuar a ser de crescimento e é preciso ter confiança e a coragem para aproveitar todo o potencial do cenário de reconstrução que se avizinha.