Há um nome, e um segredo, um pouco escondido no que diz respeito à fotografia em Portugal. Pelo menos para o comum cidadão, ligar a Golegã aos primórdios desta arte no nosso país pode até parecer algo insólito.
No entanto, é por esta cidade ribatejana que passa parte significativa da memória fotográfica portuguesa.
Na segunda metade do século XIX, a fotografia começava a arrastar cada vez mais entusiastas. Era uma forma de começar a documentar paisagens, artes e ofícios, rostos.
Portugal não passou ao lado desta corrente. E Carlos Relvas, filho dileto da Golegã, um dos dos seus maiores entusiastas.
Estúdio de Carlos Relvas na Golegã
Filho de um rico abastado proprietário da Beira Interior que se instalara com sucesso no Ribatejo, Carlos Relvas nasceu no Palácio do Outeiro, em plena vila da Golegã, em Novembro de 1838. Em 1853, ainda muito novo, casou-se com Margarida Mendes de Azevedo, filha dos viscondes de Podentes.
Dessa união nascem cinco filhos. Um deles, José Relvas, virá a distinguir-se na contestação ao regime monárquico, proclamando a República da varanda da Câmara de Lisboa.
Homem eclético, Relvas interessou-se sobretudo pela fotografia, produzindo uma obra de grande envergadura, onde se destaca também a magnífica casa-estúdio que construiu no jardim da sua residência do Outeiro.
Mas além de fotógrafo, foi ainda político e lavrador, criador de cavalos e cavaleiro, inventor, e até músico.
Claro que no Ribatejo de antanho, os cavalos e os touros andam lado a lado e Relvas é elogiado pela sua arte como cavaleiro e toureiro amador, obtendo assinalável êxito nas lides tauromáquicas. Chega mesmo a ter uma praça de touros na Golegã.
Paixão da fotografia
Relvas começou a interessar-se pela fotografia no início dos anos 60 do século XIX. Fascinado pela nova arte, adquire livros e revistas da especialidade, mantendo-se a par da sua evolução.
Compra também as suas primeiras máquinas e instala um pequeno atelier fotográfico no jardim da sua propriedade.
Foi um grande retratista, fotografando no seu estúdio toda a sociedade portuguesa, desde camponeses e mendigos até à aristocracia. Mas fotografou também monumentos e paisagens, onde o seu contributo é admirável.
Carlos Relvas morre a 23 de Janeiro de 1894, vítima de uma septicemia contraída após um acidente de cavalo nas ruas da Golegã. Desaparecia assim um dos nossos maiores fotógrafos de sempre. No entanto, o espólio que deixou é intemporal. Veja aqui a última exposição online.
Golegã: nos domínios do cavalo
A Casa Estúdio de Carlos Relvas fica bem próxima do centro da Golegã, uma cidade que, no entanto, conta com muitos outros pontos de interesse.
A vila ribatejana fica na lezíria e é atravessada pelos rios Tejo e Almonda. A Natureza é uma das suas grandes mais valias, mas há muito para ver e fazer neste destino.
Assim, a Golegã é conhecida pelo seu património histórico, social, patrimonial e artístico. Há belos exemplares de arquitetura religiosa como a Igreja Matriz (dos séculos XV e XVI), a Igreja de Nossa Senhora dos Anjos e a Capela de Santo António. Associadas à tradição senhorial e à criação de cavalos, há ainda várias Quintas, como a da Cardiga.
Também de visita obrigatória é o Museu de Pintura e Escultura Martins Correia, popular pela sua coleção de arte moderna. Para os amantes da Natureza, há a Reserva Natural do Paúl do Boquilobo, com 529 hectares, e a maior colónia de garças da Península Ibérica.
Principais pontos de interesse
Igreja Matriz da Golegã
Esta igreja foi construída na primeira metade do século XVI. Apresenta-se em estilo manuelino com um pórtico monumental de arcos policêntricos representando a Cruz de Cristo.
As paredes junto do altar estão revestidas com bonitos azulejos azuis. É um dos edifícios mais importantes da vila, pelo que não pode deixar de ficar a conhecê-lo.
Reserva Natural do Paúl do Boquilobo
Na junção entre os rios Tejo e Almonda, fica esta reserva composta por maciços de salgueiros e freixos. Esta é a única área protegida portuguesa integrada na Rede Mundial de Reservas da Biosfera da UNESCO.
É particularmente agradável visitar este espaço entre os meses de março e julho, quando a Reserva fica coberta de verde.
Além da colónia de garças, já referida, há muitas outras espécies a habitar esta Reserva, tais como anatídeos, galeirões, limícolas, o Zorro-comum, o Coelheiro, a Piadeira, ou peixes como o Ruivaco, a Boga-portuguesa, ou mesmo outras espécies como a lontra, o Toirão, o Rato de Cabrera, entre tantas outras.
É possível aceder ao espaço através do caminho da Quinta do Paul ou pela Estrada da Golegã em direção à Azinhaga (2km). O passeio pela Reserva estende-se por cerca de 4kms e pode demorar cerca de 3 horas.
Feira do Cavalo
A Feira Nacional do Cavalo e a Feira Internacional do Cavalo Lusitano, integradas na Feira de São Martinho, são um dos grandes atrativos da Golegã. Não perca os desfiles e todas as atividades ligadas à atividade equestre.
Onde dormir?
A Golegã consta com uma vasta oferta hoteleira, com algumas unidades de turismo rural a proporcionarem momentos de descanso absolutamente deliciosos. No caso, a escolha recaiu sobre as magníficas Casas da Piedade.
Trata-se de um projecto de turismo que nasceu da recuperação das antigas casas dos trabalhadores da Quinta da Brôa. Aliás, esta quinta merece também uma visita cuidada, em especial a estupenda coleção de carruagens e caleches.