Share the post "Granja: a praia aristocrática que vai mesmo querer conhecer"
A praia da Granja é uma das mais aristocráticas do país. Ou pelo menos foi, durante os seus tempos de glória.
Por ali passaram reis, rainhas, nobres, escritores e poetisas, uma tribo que fazia da época de verão um acontecimento social.
Atualmente, a Granja mantém-se como um dos mais apreciados areais da extensa costa marítima de Vila Nova de Gaia, relativamente longe das praias mais concorridas e ainda com uma certa panache que relembra glórias passadas.
É um belíssimo local para um passeio em família, onde se pode chegar de comboio e seguir os passos de gente tão marcante como Eça de Queiroz, Ramalho Ortigão ou Sophia de Mello Breyner Andersen.
Granja: uma praia histórica no Norte
As origens da Granja situam-se no século XVIII, com a construção de uma quinta, pertença dos frades crúzios do Mosteiro de Grijó, que a utilizavam para repouso ou convalescença durante a época de mais calor.
Mas é no século XIX que a Granja, tal como ficou famosa, começa a ganhar verdadeira forma. Em 1860, Frutuoso da Silva Ayres, um empreendedor, comprou a quinta, aforou e vendeu parte substancial dos terrenos, dando o pontapé de saída para a urbanização da praia.
O desenvolvimento foi rápido, tornando-se exponencial quando, em 1864, o comboio passou na Granja, onde foi construída uma estação. Foi ali que parou o rei D. Luis I, a caminho do Porto, onde se deslocou, em 1877, para inaugurar a Ponte D. Maria Pia.
É uma época de crescimento da estância balnear, onde uma vida social agitada e a frequência da alta sociedade de então leva a que a Granja passe a ser conhecida como o “bidé dos Marqueses”.
Surge um hotel (hoje um condomínio) para fazer face à procura, o edifício da Assembleia (outro condomínio atualmente) recebe as festas mais desejadas, no pinhal fazem-se jogos ao ar livre. O nome da Granja ganha peso e muitas personalidades da altura dão lá um ar da sua graça.
Ramalho Ortigão chama-lhe a “praia bijou”, Eça de Queiroz também por lá passa, já de olho na que seria a sua mulher, Emília de Castro Pamplona. Até na política do século XIX ganhou a praia lugar de destaque. Foi ali assinado o Pacto da Granja, através do qual dois partidos, Históricos e Reformistas, se fundem num só, o Partido Progressista.
Mais tarde, a Granja torna-se ainda o poiso favorito de um nomes maiores da literatura portuguesa, Sophia de Mello Breyner Andersen. Durante largos anos ali passou férias, ali namorou o futuro marido, Francisco Sousa Tavares, imortalizando a Granja no poema Casa Branca, a mesma onde a família veraneava.
Nas últimas décadas, a praia da Granja acabou por ser um pouco vítima do progresso. Cometeram-se algumas atrocidades (como a demolição da casa onde viveu até à morte a mulher de Eça de Queiroz) e surgiram algumas construções duvidosas. Mas o charme ainda se respira entre o arvoredo que teimosamente resiste.
O que visitar na Granja
Estação da Granja
Um dos cartões de visita para quem chega à Granja é, desde logo, a belíssima estação de comboios. Sucede à primitiva, construída ainda no século XIX, e é um extraordinário exemplo da arte que povoa parte significativa do espólio ferroviário nacional.
Concluída em 1914, esta estação conta com espetaculares painéis de azulejos da autoria de Licínio Pinto e Francisco Pereira, manufaturados em Aveiro, na Fábrica Fonte Nova, uma referência da cerâmica portuguesa.
Avenida Sacadura Cabral
Esta avenida é, muito provavelmente, a artéria que melhor guarda o espírito do que foi a Granja de antanho.
Parte dela começa no hotel, passa pelas históricas moradias onde foi assinado o Pacto da Granja, e desemboca na lembrança do que foi a Assembleia, não sem antes revelar uma espetacular moradia, hoje transformada em casa de repouso. Tudo protegido por um frondoso arvoredo. E sem trânsito.
Meia laranja
A meia laranja é um dos ex-libris da Granja. Trata-se de uma estrutura circular, que olha o mar de frente e que suporta parte substancial da marginal por onde diariamente passeiam centenas de pessoas.
A sua escadaria já foi alvo de milhares de fotos e, em dias de mar calmo, é um excelente lugar para relaxar.
Piscina da Granja
Foi, desde a sua construção, um dos grandes pólos de atração da praia. A piscina viu ali passar sucessivas gerações, não só de nativos da Granja, mas também de muitos gaienses.
Atualmente já não tem escorregas, nem pranchas, mas a sua proximidade ao mar faz dela um lugar a não perder. O bilhete diário custa entre 4 euros (crianças e seniores) e os 6 euros (adultos). Há ainda bilhetes de meio dia (3 e 4 euros) e bilhetes de fim de dia, entre as 17 e as 18h00 (2 euros).
Onde comer
Não faltam locais para comer na Granja e arredores. Mas o mais conhecido é, sem sombra de dúvida, a Barraquinha Nova.
Como o nome indica, sucede à histórica barraquinha de madeira que serviu sucessivas gerações de “granjolas” (eram assim conhecidos os frequentadores da praia) e foi inspiração para muitos escritos de Sophia, de quem se conta passava ali horas a fio a escrever. O menu é eclético e a preços simpáticos.
Como chegar
Para quem vem do Norte, o modo mais simples é mesmo o comboio, saindo na estação da Granja (pode ser apanhado nas estações de São Bento ou Campanhã).
Quem vem do Sul, seja no InterCidades, seja no Pendular, pode sair em Espinho e seguir rapidamente até à praia. Para quem chega de carro, a A29 é o caminho a seguir, tomando a saída 11, São Félix da Marinha (Norte)-Granja.