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É possível poupar quando se ganha pouco? Como fazer com que sobre dinheiro ao fim do mês? Conheça os conselhos de poupança de Pedro Andersson para que as suas finanças pessoais entrem no bom caminho.
O livro “Vença a crise com inteligência”, recentemente lançado, foi o ponto de partida para uma conversa onde o autor especialista em finanças pessoais partilhou ideias úteis e simples para lidar com a perda de rendimento. Mas também para fazer com que o orçamento familiar tenha margem para a poupança.
As consequências económicas da Covid-19 expuseram a forma pouco prudente como os portugueses lidam com as suas finanças pessoais. Poucas semanas após o início do confinamento, muitas famílias que tinham encerrados os negócios não tinham já como fazer face às despesas mensais.
“Todos temos de estar preparados para tudo”, sublinhou Pedro Andersson, lembrando que é em alturas como esta que se destaca a importância do fundo de emergência.
Orçamento mensal é ferramenta essencial
“A maior parte das pessoas não sabe ou não consegue gerir as suas finanças pessoais”, admitiu, argumentado que essa gestão – e a consequente necessidade de poupança – não dependem do rendimento. “Quer eu ganhe 500 euros, quer ganhe 5 mil há sempre uma forma inteligente de gerir as nossas finanças”, defendeu.
O desafio passa por “viver de acordo com as possibilidades”, ou seja, não procurar ter a vida que o salário não pode pagar.
Assim, e para perceber quanto se pode gastar, é necessário saber quanto se ganha e quanto se gasta. Mas mais do que isso: é preciso saber onde se gasta e escolher onde se quer gastar. “Há que gerir a vida financeira como se fosse uma empresa. Uma empresa que está a dar prejuízo está condenada à falência e por isso tenho de dar lucro todos os meses”, explicou.
E dar lucro significa fazer com que sobre dinheiro. Como é que isto é possível num contexto de crise? “Renegociar cada uma dessas despesas ou acabar com elas” é o ponto de partida para quem precisa urgentemente de poupar. Se a situação financeira é insustentável, pequenas coisas como acabar com a televisão por cabo, vender um dos carros ou levar marmita para o emprego são formas de cortar nas despesas.
Olhando bem para as despesas, há muito onde cortar.
Fundo de emergência: qual o valor ideal?
Voltando ao fundo de emergência. De uma forma geral, diz-se que deve ser suficiente para pagar todas as despesas de uma família durante seis meses. Pedro Andersson arredondou esse valor para cinco mil euros. Parece muito? “Tem de decidir que quer ter este objetivo e o prazo para o atingir”, aconselha, deixando duas dicas valiosas: este valor não deve estar misturado com a conta à ordem e deve ser reforçado, por exemplo, com metade dos subsídios de férias e de Natal e com reembolso IRS.
Outro dado importante é que este fundo de emergência não deve ser usado para pagar dívidas. Ou seja, primeiro deve pagar o que deve e só depois fazer esta poupança.
Mas será possível começar a construir este fundo numa altura como esta? “Metade dos portugueses está nas lonas e outra metade nunca poupou tanto como agora, porque não pode ir jantar fora, não vai passar férias ao estrangeiro ou está em teletrabalho. Aproveitem já para fazer esse fundo de emergência”, aconselhou.
Este fundo não deve ser colocado na conta à ordem normal, evitando assim a tentação de o gastar. Mas também não terá de ser num depósito a prazo. Pode abrir outra conta, de preferência sem comissões, e todos os meses, assim que recebe o salário, fazer transferência automática para essa conta.
Como conseguir poupar para um fundo de emergência?
Reduzir as despesas é fundamental não só para equilibrar o orçamento familiar, mas também para conseguir uma margem de poupança suficiente para criar o fundo de emergência.
Dá trabalho. Mas mexer em dinheiro dá-me um aumento de ordenado sem depender do patrão.
Renegociação e informação são determinantes neste processo. Pedro Andersson deixou dois conselhos a este propósito: saber mais do que as pessoas com quem se vai falar – no banco ou na seguradora, por exemplo – e analisar de três em três meses cada despesa.
Isto é, antes de renegociar informe-se sobre o que oferece a concorrência, para poder ter uma arma poderosa na renegociação.
Inércia é inimiga da poupança
Ficar parado e ser “fiel” a um determinado fornecedor não é uma boa opção. “Não quero dizer que vá mudar, mas fico com uma ferramenta na mão que é a negociação. Às vezes esta inércia só nos está a prejudicar e a pôr uma corda ao pescoço em termos financeiros. Se tenho uma gasolineira ao lado que tem combustível mais barato, porque vou sempre ao mesmo sítio só porque estou habituado?”.
Outra dica deixada pelo especialista em finanças pessoais foi “transformar cada pequeno ganho numa coisa visível”. Imagine, por exemplo, que consegue poupar 120 euros por ano se mudar para outra empresa de eletricidade. Pense que essa quantia representa metade do seguro do carro ou dois meses de despesas com luz.
Assim, e vendo “as poupanças de renegociação como uma forma de financiamento”, será mais fácil ter motivação para poupar e para renegociar.
Como fazer crescer o dinheiro?
Se já conseguiu atingir o valor do fundo de emergência deve manter os hábitos de poupança e poderá pensar em investir. Certificados de aforro e certificados do tesouro são opções aconselháveis, assim como fazer um PPR, mas não um qualquer.
O conselho de Pedro Andersson é que, ao subscrever um PPR não o faça para receber deduções fiscais no IRS. Isto porque, se o quiser resgatar antes da reforma, terá de devolver esses benefícios mais 10% por cada ano que passou.
Se quiser, pode fazer outro PPR para aproveitar os benefícios fiscais.
Quase todas as opções são válidas para aplicar a sua poupança, mas o especialista não aconselha depósitos a prazo, dado o fraco rendimento obtido.
Nas finanças pessoais há dezenas de coisas que dependem de nós.
Poupar para investir é uma forma de aumentar os seus rendimentos. Mas há mais e não se resumem a procurar um segundo emprego ou a fazer horas extraordinárias.
O conselho é que tente “descobrir formas de rentabilizar o seu talento e ganhar dinheiro nas horas vagas”. Pode ser a fazer doces ou salgados, a passear cães, a pintar ou fazer bijuterias. O importante é que use os seus conhecimentos para fazer algo que lhe traga mais algum dinheiro ao fim do mês.
Ou, em alternativa, investir algum dinheiro num curso ou numa formação que permita uma progressão na carreira ou, quem sabe, abrir um negócio.
Fundos de investimento são boa opção?
As opções para aplicar a poupança são várias, mas não há soluções ideais. Às dúvidas em relação aos fundos de investimento, Pedro Andersson respondeu de forma bastante clara e prática: “Tem de ter consciência de altos e baixos. Tem de saber que para ganhar algum dinheiro não pode resgatar se estiver a perder. O dinheiro aplicado em fundos de investimento e fundos PPR não pode ser dinheiro que vá fazer falta nos próximos meses ou anos”.
O dinheiro não é um bicho de sete cabeças. É o nosso melhor amigo para atingirmos os nossos sonhos das coisas que se podem comprar com dinheiro.
A sua experiência permite-lhe também olhar de outra forma para esta forma de investimento: “Os bancos pegam no meu dinheiro e vão pô-lo nos fundos de investimento para ganharem dinheiro e depois darem-me uma migalhinha daquilo que ganharam ele. Então começo eu a tentar ganhar dinheiro com o meu dinheiro”.
O conselho para quem não é especialista é que “nunca se meta em nada que não percebe”. E, quando optar por esta forma, comece com um valor pequeno, para perceber como funciona. Se resultar, invista mais. Quando estiver a ganhar dinheiro, e em vez de gastar, reinvista.
“Tempo e regularidade são o segredo para fazer crescer o nosso dinheiro, assim como não mexer no investimento”, concluiu.
Veja ou reveja na íntegra a conversa com Pedro Andersson, inserida no ciclo “Finanças (s)em Crise”.
Para ajudar a gerir as suas finanças neste contexto de pandemia, o Ekonomista criou ainda o Ebook Finanças (s)em Crise. Numa linguagem simples e descomplicada, vai encontrar toda a informação de que precisa para saber, por exemplo, onde e como cortar despesas ou como criar um fundo de emergência.
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