A história da Lancia começa em Turim, no ano 1906, quando foi fundada por Vicenzo Lancia, engenheiro e entusiasta de automóveis. Lancia fundou a sua própria marca juntamente com Claudio Fogolin, piloto que correra para Fiat, marca à qual Vicenzo também esteve ligado, como piloto de testes e de competição.
O primeiro carro produzido pela Lancia foi apresentado em 1919, no Salão de Turim. O modelo Tipo 51/12 HP era direcionado para as corridas, a paixão dos fundadores da marca. Com motor de 2,5 litros, atingia cerca de 90 km/h. O Tipo 51/12 HP foi designado mais tarde por Alfa. Esta característica de letras do alfabeto grego como designação dos carros da Lancia chegou com Giovanni, irmão de Vicenzo e professor de literatura e estudioso na área das línguas clássicas.
Desde então, estas denominações clássicas acompanharam a marca até aos últimos modelos. O Lancia Tipo51/12 HP permitiu à Lancia ganhar estatuto e conquistar o seu posicionamento no meio automóvel italiano. O Lancia Alfa deu lugar ao DiAlfa e, em 1909, a marca apresentou o Beta (um Lancia Alfa com motor de 3,1 litros). O primeiro Gamma foi apresentado um ano depois. O famoso Lancia Delta surgiu pela primeira vez em 1911. Baseava-se no modelo Gamma (originalmente Lancia 20 HP), construído com duas variantes de chassis, com a mais curta a pensar na competição e concebida para dois ou três lugares.
Seguindo o hábito de renomear os automóveis com letras gregas, a Lancia lançou o Theta em 1913 e o Kappa em 1919. O primeiro tinha motor V12 e seguiram-se as variantes DiKappa e TriKappa, com motor de 8 cilindros.
À semelhança de percursos de outras marcas europeias, a história da Lancia foi marcada pela Grande Guerra. A insígnia, que tem hoje 113 anos, passou pelas duas guerras mundiais, sobrevivendo a construir material bélico.
Depois deste período, o construtor lançou modelos como o Lambda, com motor V4, o Augusta, mais familiar, e o belo Aprilia. O Lancia Aprilia surgiu em 1937 e coincidiu com a morte de Vicenzo Lancia, devido a um ataque cardíaco, aos 56 anos. Na recuperação da segunda Guerra Mundial, a Lancia apresentou, em 1950, o Aurelia. Com a inovação como uma das bandeiras da Lancia, o Aurelia foi o primeiro carro com motor V6 de produção em série. Teve carroçarias de quatro portas e duas portas, esta com configurações coupe e cabrio. Ainda hoje faz rodar cabeças à sua passagem, embora não seja o único clássico Lancia a consegui-lo.
A marca prosseguiu com o Flavia e o Fluvia, este com a carroçaria coupe a revelar-se um caso sério de sucesso entre os clássicos de hoje em dia. O estilo coupé, a agilidade e eficácia dinâmica do Fluvia tornam-no um carro apetecível pelos amantes de clássicos e da competição automóvel.
Nas mãos da Fiat
Apesar de tentar oferecer automóveis com tecnologia inovadora e mais distintos que a concorrência, a história da Lancia também foi marcada por dificuldades financeiras. Em 1969, Gianni Lancia, filho de Vicenzo, vendeu a marca que o seu pai fundou à casa onde se tinha revelado, originalmente, como piloto de testes: Fiat. De volta às origens, a Lancia prosseguiu a par e passo com a Fabrica Italiana de Automóveis de Turim (FIAT), tirando partido das partilhas dentro da marca.
Uma destas vantagens acabou por revelar-se no Lancia Stratos, um carro construído a pensar na competição e que viria a tornar-se um dos melhores carros de ralis de sempre. O Lancia Stratos estava equipado com motor Ferrari V6 2.4, de 190 cavalos de potência, o mesmo propulsor do Ferrari Dino.
Depois de atingir o sucesso no mundo da competição na década de 1970, a marca continuou a carreira com um dos modelos que é, para muitos, “O” Lancia. A letra Delta voltava a integrar as nomenclaturas da marca e foi dos carros de maior sucesso na história da Lancia.
Na Fiat nasceu, na Fiat morreu
A era mais moderna da Lancia não foi propriamente sinónimo de sucesso. Nos últimos anos de vida, Sergio Marchionne, o CEO que esteve à frente da FCA (Fiat Chrysler Automobiles), impôs à Lancia uma partilha de projetos nos quais a marca não se reconhecia, pelo menos em termos mais tradicionais.
Foram usados modelos americanos para tentar recuperar e manter a marca italiana mas com os quais os clientes europeus não se identificavam. O Chrysler 300C serviu para recuperar o Thema, assim como o Lancia Voyager foi decalcado do monovolume americano. Independentemente da qualidade dos automóveis, e mesmo com uma abordagem que os colocava ao mais alto nível em termos de equipamento, os Lancia “made in USA” não convenceram os clientes europeus.
A última geração do Delta, apesar de (r)evolucionária, conquistou novos clientes mas não os suficientes. Além disso, o carro perdera a ligação mítica ao desporto automóvel. No limite, todos os carros poderiam cometer esse “sacrilégio” da evolução, menos o Delta. Os fãs da marca e dos ralis, envolvidos por uma história de encantar, chamada Delta Integrale, sentiam que a ligação ao desporto motorizado era obrigatória num Delta. O Delta é uma parte bem viva da história da Lancia e foi vítima do seu próprio sucesso.
A FCA nunca demonstrou muita vontade em recuperar a marca italiana e Marchionne chegou a assumir publicamente que preferia concentrar-se na Fiat e na Alfa Romeo. O último Lancia a ser produzido foi o Ypsílon e dedicado apenas ao mercado italiano.
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