Share the post "Porsche Carrera GT: a prova de que há males que vêm por bem"
No dealbar do século XX para XXI viveram-se momentos conturbados na competição desportiva. O Porsche Carrera GT é produto de um destes processos.
Foi pensado inicialmente para ser um carro de corridas, mas acabou, no entanto, por ser o último “verdadeiro estradista”, onde mostra a essência do desportivo que é.
O Porsche Carrera GT, tal como o seu predecessor o Porsche 959, foi pensado para as corridas, nomeadamente Le Mans, mas as consequentes alterações aos regulamentos desportivos em 1999, acabam por ditar o fim prematuro da sua participação nas provas desportivas, tal como aconteceu com o 959 com a extinção do Grupo B nos ralis nos anos 80.
A Porsche agarrou no 959 para ralis, meteu-lhe piscas, adicinou luzes, dois toques de beleza no interior, duas matrículas, e pediu a homologação para circular na estrada.
O que aconteceu a um e outro foi um renascimento com outro “aspeto” e verem o seu sucesso crescer enquanto automóveis de estrada, graças à incrível capacidade de adaptação dos engenheiros desta casa de Estugarda.
Contudo, com o Porsche Carrega GT, a história foi ligeiramente diferente, até porque este carro foi desenvolvido a partir de um motor já existente, e não de uma carroçaria preparada para corridas.
Porsche Carreta GT: Como nasceu o super desportivo puro que marca uma era
A Porsche não tem sido a construtora com a maior sorte do mundo sempre que se tentou aventurar nas competições desportivas, (felizmente), salvo a excepçã ao campeonato mundial de resistência, onde por várias vezes se sagrou campeã na famosa prova das 24 horas de Le Mans.
O motor V10 que equipa o Porsche Carrera GT foi inicialmente desenvolvido pela Porsche para equipar os carros da Footwork, equipa de Fórmula 1 que participou nos campeonato mundial entre 1991 e 1996.
A equipa com sede em Milton Keynes pediu posteriormente à Porsche para desenvolver um motor V10 para substituir o V12, um motor mais leve, mas igualmente potente.
No entanto, e sem que nada o fizesse antever, a Footwork abandonou a parceria com as Porsche e assinou contrato com a Honda, que iria fornecer motores V10 na temporada de 1995.
No entanto, em 1995 os regulamentos da Fórmula 1 mudaram, e apesar de ainda não existir uma limitação quanto aos cilindros, existia uma limitação em relação à cilindrada: 3000 centímetros cúbicos era o máximo que cada motor podia ter.
Ou seja, este V10 da Porsche com 5.5L não podia ser mais usado na Fórmula 1 e ficou “arrumado” numa garagem durante 5 anos.
Ora 5 anos mais tarde, a Porsche recuperou este motor para utilizar num protótipo para correr nas 24h de Le Mans, o 9R3, que seria o sucessor do 911 GT1. Mas, em 1999, os regulamentos voltaram a mudar, e os carros do campeonato mundial de resistência passaram a ser equipados com motores V12. Mais uma vez, a Porsche não ia conseguir dar uso ao seu motor.
De um motor V10 nasceu história automóvel
A Porsche aproveitou o sucesso que fez com o Porsche Cayenne, o SUV da marca que mais do que duplicou as vendas da Porsche, e investiu algum dinheiro no desenvolvimento de um super-carro.
Os engenheiros fizeram mãos à obra, e do motor “que estava lá para um canto” foi desenvolvida uma carroçaria que lhe assentasse como uma luva.
O Porsche Carrera GT é construído com materiais leves mas resistentes, como fibra de carbono (estrutura da carroçaria); alumínio no chassis; embraiagem em compósito à base de cerâmica e discos de travão construídos com base em compósito de carbono.
O motor V10 de 5.7 litros e 612 cv de potência está colocado logo atrás do condutor. Este sente tudo o que se passa, mesmo quando toca suavemente no pedal do acelerador.
Até no simples pisar se sentem as rotações do pujante motor a pedir sempre mais e mais aceleração. Não que falte agilidade ao conjunto chassis/mecânica, mas em alturas de excessos, o melhor é mesmo ter reflexos de piloto para que tudo corra bem. Afinal o Porsche Carrera GT é um super desportivo e requer “mãos” fortes.
E os números que o acompanham não desmentem. Com apenas 1.380 kg de peso, o superdesportivo cumpre os 0-100 km/h em 3,6 segundos e os 200 km/h são atingidos antes de cumpridos os 10 segundos.
A velocidade máxima anunciada é de 330 km/h. Para que o conjunto mantenha a compostura, o Carrera GT revela uma direcção extremamente precisa e um conjunto de travões de topo capaz de aguentar as mais exigentes travagens.
Apenas 1270 exemplares foram construídos do Porsche Carrera GT entre 2003 e 2006. Uma produção curta para automóvel tão grande em expressão visual e sensorial.
Após 13 anos do final da produção, este Porsche continua a cativar milhares de fãs em todo o mundo e não se pense que está esquecido. Longe disso. A história do modelo continua.
Ainda recentemente (2016) a Michelin em parceria com a marca alemã desenvolveu um novo conjunto pneus para este super desportivo.
Um sinal de que a história ainda não acabou, felizmente!
Gemballa Mirage GT: o outro lado do Porsche Carrera GT
O Porsche Carrera GT, para muitos apaixonados da marca alemã, é um super desportivo perfeito. Olhá-lo é um prazer. Vê-lo em estrada, ou ouvir o troar do motor, é um prazer ainda maior. Mas houve ainda quem achasse que conseguia melhorar tamanha proeza.
E foi para todos os que acham que o Porsche Carrera GT podia ser que nasceu o Gemballa Mirage GT.
Fruto da sofisticação do conhecido preparador, o Gemballa Mirage GT surge em 2007, precisamente no ano em que o Carreta GT “saiu de cena”. Modelo que acrescenta aquela “pitada de excentricidade” que, para alguns, podia faltar ao Carrera GT.
A “cirurgia” da Gemballa operada no Carrera GT incidiu na aerodinâmica, chassis e claro, no já excelente motor, elevando as capacidades a um nível superior.
As anunciadas 25 unidades do Gemballa Mirage GT recebem o mesmo motor V10 de 5.7 litros aspirado do Carrera GT só que com potência “puxada” dos 612 cv para mais expressivos 670 cv, às 8.000 rpm. O binário sobe dos 590 Nm para os 630 Nm.
A pensar no fantástico som do bloco V10, o preparador efetuou alguns ajustes no sistema de escape original, trocando-o por um outro em aço inoxidável, com duas saídas duplas que reforçam o troar da mecânica.
As medições realizadas após as alterações efetuadas anunciam que o Gemballa Mirage GT cumpre os 0-100 km/h em 3,7 segundos (menos 0,2 segundos que o Carrera GT) e que a velocidade máxima sobe dos 330 km/h para 335 km/h.
Para conseguir estes valores o Gemballa Mirage GT socorre-se de asa traseira fixa, novos para-choques dianteiros e traseiros. Regista-se ainda alteração no capot dianteiro com saída de ar e nas suspensões com têm ajustes independentes para compressão e descompressão.
Para eventuais interessados, todos os Gemballa Mirage GT foram vendidos, feliz, ou infelizmente.
Se quiser comprar um Porsche Carrera GT nos dias de hoje, terá que desenbolsar mais de 1 milhão de euros por uma unidade já com algum uso.
Na história automóvel, o Porsche Carreta GT fica como um dos últimos analógicos, equipado com motor aspirado e onde a simplicidade é a base do sucesso, quer no que diz respeito ao design, ou ao habitáculo, algo espartano e despido de alguns dos itens de conforto.
Em suma, um carro de condução pura, amado por todos, e com uma receita que dificilmente voltaremos a ver nas estradas.