Com certeza já ouviu um ou outro amigo afirmar que “Portugal é o país das rotundas” e o seu grau de dúvida, se existiu, dificilmente foi elevado. No entanto, embora tenhamos procurado incessantemente, não conseguimos descobrir um número exato de rotundas no nosso país. Ainda assim, enquanto incidíamos na história das rotundas, descobrimos algumas curiosidades.
Sabia que, apesar de se poder atribuir a invenção das mesmas aos norte-americanos, estes não as usam com regularidade? É verdade, porque nos anos 60 e 70 os ingleses é que recriaram algo que não era eficaz e, nos anos 90, foram os franceses os que mais aproveitaram a evolução trazida pelos seus eternos rivais. Mas lembramos: estas e mais curiosidades foram descobertas com um único intuito: conhecer a história das rotundas. Mais concretamente, porque e como foram criadas.
História das rotundas: as interseções circulares
Foi na década de 1790, em plena revolução industrial, quando um engenheiro franco-americano, Pierre L’enfant, propôs um número de interseções circulares em Washington, incluindo o famoso Dupond Circle.
No entanto, embora pouco se saiba sobre as regras de circulação destes protótipos e o porquê desta invenção – até porque foram construídas numa altura em que a utilização de carros era ainda bastante reduzida – só em 1905 é que esta ideia foi novamente levada a cabo. Um empreendedor norte-americano, William Eno, decidiu criar o Columbus Circle em Nova Iorque, aquela que é considerada a primeira interseção circular da era automóvel. O objetivo era simples: diminuir os engarrafamentos.
Durante essa década, também em França, essencialmente em Paris, a ideia crescia e o número destes protótipos de rotundas aumentava. Porém, ao contrário daquilo que acontece atualmente, com a existência de vários tamanhos e formatos diferentes, as interseções circulares eram por norma sempre extremamente largas e com as entradas para as mesmas a apresentarem ângulos bastante apertados, dificultando a vida a quem queria iniciar a circulação.
História das rotundas: um primeiro “facelift”
No mundo automóvel, costuma-se dizer que, quando há uma remodelação de um carro, ainda que o mesmo continue a produção, há um facelift. Foi o que aconteceu com as interseções circulares que, nos anos 30 do século XIX, passaram a chamar-se rotaries (rotários). A razão é simples. Poucos anos antes, em 1929, havia sido inventado o sistema automático dos semáforos e era necessário recriar algo que começava a ser menos prático.
Entre as novidades, destaca-se a criação de ilhas separadoras nas entradas e saídas das mesmas, para distinguir os dois tipos de intervenientes e evitar acidentes, e a apresentação de um grau mais aberto, facilitando a entrada e saída das mesmas e, também, uma regra que em muito se assemelha às atuais praças: tinha prioridade quem queria iniciar a circulação nas rotaries, o que inevitavelmente causava bastante tráfego e acidentes.
A queda de produção e finalmente a primeira rotunda
Dado o número de acidentes e a fraca evolução das interseções circulares para as rotaries, a meados do século XIX, os norte-americanos começaram a diminuir e a remover estes protótipos das rotundas. No entanto, do outro lado do Atlântico, em 1966, os britânicos decidiram pegar naquilo que os seus antigos colonos haviam inventado e recriar, construindo as primeiras rotundas modernas. Embora mantivessem essencialmente o mesmo estilo de formatos, optaram por criar uma regra nova: quem fosse a entrar teria de ceder passagem.
Os resultados mostravam claramente que esse, sim, era o caminho certo a seguir: o número de acidentes diminuiu em 40% e a capacidade do número de automóveis em circulação nas rotundas aumentou em 10%. A ideia começou a expandir rapidamente para o resto da Europa e do Mundo, embora mais rapidamente nos países ocidentais do que nos orientais.
Embora em Portugal se tenha a noção de que se vive no país das rotundas, não se conseguiu apurar um número oficial das mesmas e o jornal norte-americano “Financial Times” destaca a França como o país mais “construtor”. Segundo o periódico, na década de 90, os franceses construíam cerca de 1.000 rotundas por ano.
Rotundas: o próximo passo
Entretanto, também na década de 1990, mas desta vez na Holanda, deu-se o passo seguinte na evolução: as turbo-rotundas. Resumidamente, estas permitem que quem entre numa rotunda vá imediatamente até ao ponto de saída da mesma sem ter de se cruzar com quem circula. Em Portugal, o Marquês de Pombal, em Lisboa, tem uma construção semelhante, mas não igual, e desde 2012 que está programada a construção de uma turbo-rotunda junto à Estação de Coimbra-B, estagnada desde a mesma altura.
No entanto, e apesar de já se ter passado mais de um século desde a invenção das mesmas na era automóvel e já depois de quatro versões diferentes (interseções circulares, rotaries, rotundas e turbo-rotundas), em Portugal, desde a introdução das novas regras rodoviárias, foram multados mais de 3.000 condutores em rotundas.