O pequeno coupé Honda CRX, assim chamado na Europa (no Japão quando surgiu em 1983 era denominado Honda Ballade Sports CRX), foi o modelo que impulsionou o ramo desportivo da Honda.
Muito compacto (carroçaria hatchback), leve (peso inferior a uma tonelada), configuração de habitáculo 2+2 (sendo que os lugares traseiros eram simbólicos, isto é, muito exíguos) design inequivocamente coupé (duas portas), o modelo rapidamente conquistou os condutores mais jovens e os apaixonados pela velocidade.
Embora com curto trajeto comercial, apenas 8 anos, marcou uma geração e ainda hoje está no top dos clássicos desportivos compactos mais procurados, tendo ainda conquistado a posição de ícone no seio da marca nipónica.
Além de ser rápido e, a dado momento, estar equipado com motor VTEC (1990), que na altura veio expressar o potencial desportivo da Honda, o também conhecido Civic CRX, revelou-se no percurso comercial (1.ª geração 1983-1987; 2.ª geração 1987-1991) um automóvel fiável, que não exigia grande manutenção e uma silhueta que ainda hoje faz virar cabeças.
Primeira geração com grande sucesso nos EUA
O Honda CRX é colocado no mercado numa altura em que se registava uma crise económica mundial, que se fez sentir muito no setor dos combustíveis. As marcas tiveram de se adaptar e fazer algumas concessões ao nível do peso dos carros e motorizações, de modo a torná-los mais leves, por forma aos motores serem mais económicos/eficientes.
É neste contexto que a Honda inicia a comercialização do CRX, cuja primeira geração registou assinalável sucesso nos Estados Unidos da América (EUA) onde foi muito procurado, precisamente pela economia de combustível.
O modelo, além do Japão, foi também comercializado na Europa, como Honda Civic CRX, com motores 1.3 e 1.5 litros e, mais tarde, com bloco 1.6 litros que disponibilizava expressivos 130 cv (tração dianteira), colocando-o na lista de “desejos” de potenciais compradores.
A popularidade do modelo, que em alguns mercados surgiu ainda em 1992, com a designação CRX del Sol, foi conseguida graças à economia de combustível, condução ágil e superior performance.
Segunda geração: motores para todos os gostos
A segunda geração do pequeno desportivo da Honda surgiu em 1987, com importante upgrade no que se referia a motorizações. A Honda trabalhou de modo a proporcionar em cada mercado onde estava presente a presença do modelo com motores adequados à realidade e às preferências dos consumidores.
No Japão apenas disponibilizou dois blocos: 1.5 litros, equipado com carburador, mais tarde com injeção, e um outro 1.6 litros com 135 cv.
Aos EUA fez chegar o CRX com motor 1.5 litros com 68 cv, um bloco que apostava na economia do combustível. De seguida, disponibilizou também um bloco 1.6 litros com dois níveis de potência, 68 e 108 cv.
Por seu lado o mercado europeu foi bafejado com dois motores. Um bloco 1.4 litros, alimentado por carburador, e outro 1.6 litros com 130 cv, mas que quando equipado com catalisador expressava apenas 122 cv.
Antes de terminar a carreira comercial do CRX, em 1991, a Honda pegou na “varinha mágica” e “apimentou” ainda mais a performance do modelo. Adicionou o motor que viria a fazer diferença e que foi um dos primeiros a nível mundial equipado com sistema variável de abertura de válvulas (VTEC), com uma potência específica de cerca de 100 cv/l.
Alguns números do Honda CRX de 1988
- Motor: 1.6i – 4 cilindros em linha, atmosférico a gasolina
- Cilindrada: 1.590 cm3;
- Potência: 131 cv às 6800 rpm
- Binário: 143 Nm/5.700 rpm
- Tração: dianteira;
- Caixa de velocidades: caixa manual de 5 velocidades + marcha atrás;
- Velocidade máxima: 212 km/h;
- 0-100 km/h: 7,5 segundos;
- Peso: 899 kg;
- Pneus: 185/60/14;
- Travões: discos ventilados (frente); discos (traseira);
- Consumo combinado: 6,7 l/100 km;
- Autonomia: 671 km;
- Depósito: 45 litros.
Alguns números do Honda CRX de 1992
- Motor: 1.6i VTEC – 4 cilindros em linha, atmosférico a gasolina
- Cilindrada: 1.590 cm3;
- Potência: 131 cv às 7.600 rpm
- Binário: 144 Nm/7.100 rpm
- Tração: dianteira;
- Caixa de velocidades: caixa manual de 5 velocidades + marcha atrás;
- Velocidade máxima: 222 km/h;
- 0-100 km/h: 7,2 segundos;
- Peso: 1.010 kg;
- Pneus: 195/60/15;
- Travões: discos ventilados (frente); discos (traseira);
- Consumo combinado: 7,3 l/100 km;
- Autonomia: 616 km;
- Depósito: 45 litros.
Pequenas mordomias no meio de muita simplicidade
Para tornar o automóvel o mais leve possível, de modo a incrementar a condução desportiva e a agilidade em estrada, a Honda equipou o CRX com o mínimo de equipamento indispensável à sua utilização diária.
Mesmo assim, este desportivo recebia a possibilidade de instalação do ar-condicionado, teto de abrir elétrico, vidros e espelhos retrovisores elétricos, bancos desportivos (tipo bacquet) forrados a pele, barra estabilizadora no eixo traseiro e suspensões independentes às quatro rodas. Podia ainda surgir com direção de cremalheira e pinhão e travões de disco às 4 rodas, sendo os da frente ventilados, de forma a incrementar a performance na travagem.
O rádio estava na lista de opcionais. A verdadeira música vinha lá da frente…
Honda CRX del Sol: a mudança do design
Com um total de 171.393 unidades comercializadas do CRX, entre 1988 e 1991, a marca nipónica, arrisca ainda, em 1992, uma terceira geração do modelo baseado no Civic da altura, mas que em alguns mercados surgiu como Honda CRX del Sol.
Tratava-se de um modelo com carroçaria Targa (teto rígido com abertura elétrica) que não conseguiu conquistar tantos adeptos como o modelo da geração anterior.
Esta terceira geração revelou-se diferente do que seria a esperada evolução do CRX, com a Honda a apresentar um design menos consensual.
Honda CR-Z: fórmula híbrida não foi suficiente
Se o Honda CRX del Sol não convenceu os fãs da marca, o modelo que se seguiu poderia vingar no design, mas na motorização não satisfez completamente. Trata-se do Honda CR-Z, que poderia ter sido o sucessor do CRX. Isso não aconteceu. O CR-Z, embora na forma mostre traços do CRX, não convenceu com a motorização híbrida (sistema IMA – Integrated Motor Assist).
O pequeno coupé híbrido da Honda ainda foi apontado como o sucessor do CRX. Mas uma das comparações que se fazia na época entre os dois automóveis, era que o segundo não tinha a “chama” do primeiro. Faltava “garra” e, principalmente, a “sonoridade” do vibrante motor VTEC.
Ainda não se tinha despertado para uma verdadeira consciência ambiental, embora a Honda já desse passos seguros nesse caminho com o modelo Insight. Recorde-se que o propósito que esteve na génese do CR-Z, o de ser um modelo desportivo focado numa imagem ambiental, é válido e foi proposto pelo então presidente da Honda, Takeo Fukui.
Sistema elétrico IMA com caixa de 6 velocidades
Este modelo apresentado no Salão Automóvel de Detroit, em 2010, recebia uma versão do sistema elétrico IMA, que associava o motor de combustão 1.5 i-VTEC atmosférico, com potência de 113 cv, a um motor elétrico de 10 kW (14 cv), produzindo um total de 123 cv.
Os modelos que chegaram à Europa estavam equipados com caixa manual de seis velocidades. Escolha pouco usual para um modelo híbrido e que anunciava condução desportiva.
Apesar de ter sido bem recebido, e de ser elogiado pela estética e envolvimento tecnológico, e de alguma forma ser visto como o sucessor do CRX, não chegou a vingar perante a superior potência do lendário modelo que com o seu motor 1.6 litros VTEC anunciava 150 cv de potência, perante os mais económicos 123 cv do CR-Z.
Em 2013 a Honda ainda procedeu à introdução de melhorias no CR-Z, nomeadamente com o apuro do motor 1.5 litros e do sistema elétrico, passando o pequeno desportivo a anunciar 137 cv às 6.600 rpm, um acréscimo de 13 cv em relação à versão de 2010, e a introdução de botão Plus Sport (S+), que aumentava o binário elétrico em aceleração até ao máximo de dez segundos.
As alterações não foram suficientes para tornar o CR-Z no tão esperado sucessor do Honda CRX. Aliás, a Honda para assinalar o final da produção do CRX fechou este ciclo com o lançamento da série especial CRX Montegi, que recebeu motor com 170 cv e habitáculo forrado a pele creme, dois elementos distintivos deste modelo.
Honda Remix: tentativa de recrear o CRX
Os fãs do CRX e da comunidade Honda mundial ainda não perderam a esperança que a marca nipónica venha a lançar um sucessor daquele lendário modelo.
A Honda lá vai mostrando alguns estudos. O Honda Remix, um concept que revelou em 2016, no Salão Automóvel de Los Angeles, bem poderia assumir esse papel. Mas não passou de um estudo, deixando todos à espera.
Num mundo cada vez mais virado para a sustentabilidade ambiental, com o segmento dos SUV a dominar em toda a linha, e com o abraçar do novo paradigma de eletrificação automóvel, a chegada de um sucessor do CRX estará mais longe. Ou não!…