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Com o encerramento das escolas, a 16 de março, cerca de dois milhões de crianças e jovens em idade escolar passaram a ter aulas a distância. O recurso a plataformas e ferramentas digitais impôs-se, mas apesar de ainda não estar ao alcance da totalidade, essa não terá sido o fator de maior impacto da pandemia no sistema de ensino português.
O confinamento veio impor outras dificuldades aos alunos e às respetivas famílias. Fechados em casa, muitas vezes com mais do que um filho em idade escolar e pré-escolar, aos pais é exigida a capacidade de gerir tempo e espaço para o trabalho remoto e o apoio às atividades escolares.
De acordo com as conclusões do primeiro estudo realizado pelo Observatório das Políticas de Educação e Formação, que contou com 1.200 respostas, nomeadamente, de pais e encarregados de educação, até 28 de março, três semanas depois da suspensão das aulas, a maioria dos alunos (64,7%) queria “voltar à escola logo que possível”.
Por sua vez, os resultados inquérito realizado a alunos com menos de 16 anos, que reune 453 respostas, mostra que 25% não consegue realizar os trabalhos de casa.
Saiba mais sobre o impacto da pandemia no sistema de ensino português.
COvid-19: qual o impacto da pandemia no ensino?
Desde o fecho das escolas devido ao surto de coronavírus, foram grandes as alterações no sistema de ensino nacional, com especial impacto, para alunos e famílias.
Seguem-se alguns dados.
O impacto da pandemia para os pais e encarregados de educação
De acordo com os primeiros resultados globais do inquérito realizado pelo Observatório das Políticas de Educação e Formação, entre as alterações registadas durante as três semanas após o encerramento das escolas, alguns dos fatores mais relevantes no impacto da COVID-19 no sistema de ensino refletem-se no comportamento e dificuldades de aprendizagem.
- Comportamento: Ainda que a maioria dos pais tenha declarado que as mudanças provocadas pelo confinamento não afetaram psicologicamente as crianças e os jovens, quase metade (40%) afirmou ter notado diferenças nos filhos: 19,9% refere um aumento dos níveis de ansiedade, 18,9% admite que os filhos estão mais agitados e os restantes 6,9% apontam uma maior apatia. Estas alterações são mais evidentes para pais com mais do que um filho;
- Vontade de regressar à escola: 64,7% dos alunos manifestaram expressamente aos pais o desejo de regressar à escola logo que possível.
- Qualidade do ensino não presencial: De acordo com os resultados do primeiro inquérito, 11,3% dos pais assinala que escola da(o) sua/seu filha(o)/educanda(o) não desenvolveu atividades de ensino não presencial. Metade dos pais está moderadamente satisfeita com a solução encontrada pelas escolas para o efeito;
- Envolvimento nas tarefas: 41% dos pais declara que a realização de tarefas escolares do(a) seu/sua educando(a) se alterou desde que as escolas encerraram, obrigando-os a envolverem-se substancialmente mais na educação dos filhos. Porém, cerca de uma terça parte dos inquiridos afirmou ter mantido o nível de envolvimento que tinha antes de as escolas fecharem. Interessa dizer que 60% dos respondentes se encontra a desenvolver a sua atividade profissional em teletrabalho, a partir de casa.
- Medidas: A maioria das pessoas inquiridas (67%), pais/encarregados de educação, professores e por aquelas que não são nem pais, nem professores, considera que as escolas foram encerradas no momento certo, sendo que 60% das mesmas é de opinião que, em geral, os responsáveis pelas instituições de ensino responderam positivamente à situação criada pela pandemia.
O impacto da pandemia para os alunos
Apresentam-se alguns dos resultados parciais do inquérito, relativos às perceções e opiniões de alunos relativamente aos efeitos da pandemia no sistema de ensino nacional.
Os resultados incidem sobre uma sub amostra composta por alunos com menos de 16 anos, cujos pais se disponibilizaram para o efeito, quase exclusivamente da escola pública (97,6%) e apresenta 453 respostas de, pelo menos, 63 concelhos de norte a sul de Portugal.
No total, os estudantes do 5º ano de escolaridade (crianças de 10-11 anos) representam a maior fatia de respostas (21% do total), enquanto que os alunos do 8º ano são os menos representados (com 9% do total de respostas).
- Ansiedade: Entre os resultados, um dos fatores mais relevantes vai para a preocupação ou ansiedade relativamente ao surto da COVID-19, manifestada por mais de 80% dos inquiridos, sendo que se destacam os alunos do 9º ano com uma preocupação que vai além dos 90%. Este fator interfere, inevitavelmente, com a capacidade e motivação para o estudo;
- Relação com a escola: A grande maioria (três quartos dos inquiridos) deseja regressar à escola e diz preferir estudar lá. Porém, regista-se uma tendência que diferencia os alunos do 2º e do 3º ciclos dos alunos do secundário. No primeiro grupo a grande maioria manifesta preferência por ter aulas na escola, enquanto que no segundo grupo essa preferência é mais baixa (dois terços). Para os resultados parecem contribuir alguns fatores diferenciadores, nomeadamente:
“i) o papel da escola nas dinâmicas de convivialidade; ii) a capacidade de autonomia de trabalho dos alunos. São os alunos mais novos que, tendencialmente, sentem mais falta da escola. Os mais velhos, por sua vez, referem a “facilidade de gestão do tempo/ritmo de trabalho”; um “espaço de trabalho mais confortável”; e o facto de poderem “evitar a disciplina da escola/sala de aula” entre as razões para preferirem as aulas em casa.
- Uso de tecnologia: Um dos elementos que assume maior destaque neste estudo tem que ver com o número de plataformas/instrumentos usados para o estudo em casa. Ainda que, de certa forma, faça sentido numa geração digital, acaba por ser impressionante pelo facto de ser frequente o uso de várias na mesma turma.
- Realização de tarefas: Uma grande percentagem dos alunos (75,1%) declaram conseguir realizar todos os trabalhos enviados pelos professores desde que a escola encerrou, ainda que por vezes precisem de ajuda. Uma ajuda que recai, sobretudo, na mãe. Reconhecem ainda que trabalham mais em contexto de sala de aula. Relativamente aos que dizem não conseguir fazer os trabalhos de casa (25%), a “falta de tempo” (42,1%); “dificuldade em perceber o que é pedido pelos professores” (33,7%); e “ausência de apoio/ajuda suficiente” (24,2%) estão entre os motivos apresentados.
A par das dificuldades inerentes ao isolamento, num contexto familiar onde o teletrabalho tem de se conjugar com o ensino, um outro fator que assume destaque é a atividade física, a qual nalguns casos ficou (muito) comprometida. Este aspeto também contribui para a agitação e redução da capacidade de trabalho.
No que respeita à avaliação, essa desperta, ainda, algumas dúvidas. Para já, sabe-se que as escolas vão permanecer fechadas e não serão realizadas provas de aferição.
reforço do ensino a distância
O terceiro período traz o #EstudoEmCasa, uma nova telescola, com uma grelha de conteúdos para diferentes níveis de ensino, transmitidos pela RTP Memória.
Paralelamente, a RTP 2 transmite conteúdos para as crianças da Educação Pré-escolar (dos 3 aos 6 anos). Tais novidades poderão trazer novos resultados no que respeita ao ensino a distância.
O inquérito nacional sobre o impacto da pandemia no sistema de ensino é da responsabilidade do Observatório de Políticas de Educação e Formação (OP. Edu), entidade que resulta de um protocolo assinado entre o Centro de Estudos Interdisciplinares em Educação e Desenvolvimento (CeiED), da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, e o Centro de Estudos Sociais (CES), da Universidade de Coimbra, e nasce da confluência de vontades e de competências, para uma observação sistemática da realidade do setor da Educação e Formação.