Não é só de salários desiguais que se fala quando se discute a igualdade de género nas sociedades modernas.
Um pouco por todo o mundo, o imposto rosa é uma realidade bem presente no dia a dia das mulheres, colocando-as em clara desvantagem no que ao consumo diz respeito.
Chama-se imposto rosa à diferença de preços entre produtos equivalentes para mulheres e homens (ou para meninos e meninas).
Do inglês Pink Tax, o termo designa o montante adicional que é cobrado às consumidoras em alguns produtos simplesmente porque se destinam ao público feminino, enquanto os equivalentes do público masculino são mais baratos.
“Imposto rosa”. Quando o mercado dita as regras
O imposto rosa não é uma formalidade, ou seja, as marcas não admitem abertamente que cobram mais às mulheres do que aos homens por produtos semelhantes. E certamente que nem todas as marcas o farão, pelo que não podemos falar numa existência oficial e deliberada desta desigualdade.
No entanto, ela existe. Mas como é que se tornou possível? A resposta reside, em grande medida, nas “leis do mercado”, ou seja, nas regras que são ditadas pela procura e pela oferta, mas não só.
Há um conjunto de outras razões que podem influenciar esta diferença de preços, como por exemplo as questões culturais, a fidelidade à marca e o “valor” que o consumidor lhe atribui (e que é distinto do preço). Mas para além destes, há fatores mais tangíveis que devem igualmente entrar na equação, como os custos com os materiais, embalagem e marketing dos produtos ou serviços.
Ainda assim, a cultura continua a ser um elemento preponderante. Não é por acaso que o público feminino consome mais produtos de beleza e cosmética, como cremes e maquilhagem, ou mesmo roupas, numa cultura que ensina desde cedo que a beleza é essencial.
Esta cultura de embelezamento feminino transformou as mulheres em consumidoras mais ávidas (e, em certas situações, mais inevitáveis) do que os homens. Basta pensar no seu círculo de amigos: quem ficaria mais preocupado por sair de casa sem ter hidratado o rosto com creme? As mulheres ou os homens?
A transformação do público feminino num grupo consumidor muito forte levou a que as marcas se aproveitassem da inevitabilidade desse consumo. Se um homem pode recusar comprar um creme hidratante por achar caro, uma mulher pode ceder mais facilmente a um preço elevado em função da “promessa” da marca.
Tem a ver com os valores de cada um e a importância que aprendemos a dar-lhes. Podemos, por isso, arriscar dizer que o mercado educou o público feminino para a inevitabilidade do consumo de alguns produtos e depois tirou partido disso aumentando o preço desses produtos.
Onde é que se sente mais o imposto rosa?
Nem todos os produtos refletem o imposto rosa e, com o recente avanço dos movimentos feministas, até o conceito do que é “produto de homem” e “produto de mulher” tem sofrido alterações. Ainda assim, há produtos que dificilmente se descolam do género, e é exatamente nesses que vemos as maiores discrepâncias.
As mulheres podem pagar entre 7% a 13% mais do que os homens por produtos equivalentes.
Fonte: Departamento de Análise do Consumo de Nova Iorque
Um estudo levado a cabo pelo Departamento de Análise do Consumo de Nova Iorque (DCA) analisou 794 produtos, de cinco indústrias distintas, nas suas versões para um público feminino e para um público masculino. Das 35 categorias de produtos observadas, as mulheres pagavam mais do que os homens em 30 categorias.
O DCA, conclui ainda que os produtos dirigidos às mulheres custam em média mais 7 por cento do que produtos semelhantes para homens. Nomeadamente:
- 7 por cento mais em brinquedos e acessórios;
- 4 por cento mais em roupa para criança;
- 8 por cento mais em roupa para adulto;
- 13 por cento mais em produtos de cuidado pessoal;
- e 8 por cento mais em produtos para cuidados de saúde/público sénior.
Tendo por base estes números, o “custo do imposto rosa” pode variar entre 7 e 13 por cento consoante a indústria em questão. A diferença maior é sentida nos produtos de cuidado pessoal que custam em média mais 13 por cento na versão feminina.
Como fugir ao imposto rosa?
Dadas as necessidades particulares do público feminino, existem produtos em que não há volta a dar, como por exemplo os pensos higiénicos ou os tampões. No entanto, há produtos em que o imposto rosa pode ser evitado.
Nos champôs, por exemplo, não há aroma que justifique a diferença de preço. Se as vantagens prometidas na embalagem são semelhantes, pode sempre optar pela versão mais barata. O mesmo para cremes, gel de banho e até lâminas.
Pela mesma lógica, se lhe perguntarem o género numa simulação de seguro, exija saber porquê: não faz sentido que ser homem ou mulher tenha impacto no prémio. O mesmo para os créditos e até para alguns empregos.
A verdade é que o imposto rosa não é fácil de contornar, mas está a ser ativamente combatido por uma sociedade civil cada vez mais atenta e crítica. Se, em algum momento, notar que está a ser vítima do imposto rosa, procure o produto equivalente para homem e leve-o: pode não mudar o mundo, mas consegue ter impacto no sistema.
Artigo originalmente publicado em julho de 2019. Última atualização em março de 2024.