Share the post "A inflação baixa o salário e coloca famílias em risco: entenda por quê"
Que a inflação baixa o salário já todos perceberam. Resta entender ao certo o(s) porquê(s). O tema tem estado na ordem do dia e até já foi alvo de parcos e polémicos apoios do Estado aos contribuintes e pensionistas, numa tentativa de minimizar o impacto na vida das famílias portuguesas.
Porém, uma recuperação da crise imposta pela COVID-19 interrompida por uma ainda pior provocada pela guerra na Ucrânia, têm vindo a empurrar Portugal, bem como outros países da Europa, para um misto de dificuldades que há muito não eram sentidas.
No que diz respeito ao trabalho, os ordenados não acompanham as necessidades. Apesar dos leves aumentos na Função Pública e mais expressivos no setor privado, o preço dos bens e serviços disparam constantemente, o que acaba por demonstrar uma realidade preocupante.
Os efeitos são sentidos, sobretudo por quem recebe o salário mínimo e pelos pensionistas. O país, que já vira as dificuldades dos mais carenciados agravarem-se durante os dois anos de pandemia, está a braços com a inflação mais elevada desde 1992.
O cálculo é referido no Relatório do Conselho das Finanças Públicas (CFP) de atualização das perspectivas económicas e orçamentais 2022-2026, onde é salientada, precisamente, a perda de poder de compra como a mais “evidente” consequência da inflação.
Consequência simples e óbvia para quem recebe pouco todos os meses: a inflação baixa o salário.
A inflação baixa o salário: porquê?
A explicação acaba por ser simples. Se os salários se mantêm baixos perante uma inflação que não para de aumentar, o que se ganha hoje e que ontem dava – em alguns casos à justa – para pagar as contas e (sobre)viver – atualmente é insuficiente mesmo para o essencial.
Preços mais altos com salários iguais
Os consumidores veem a capacidade de aquisição – de produtos e/ou serviços -diminuir devido ao aumento dos preços. Mesmo para quem há cerca de um ano conseguia acabar o mês a amealhar, mesmo que pouco, atualmente não o consegue fazer, de todo. Se entretanto os portugueses não virem os seus rendimentos nominais atualizados em proporção equivalente ao custo de vida, serão cada vez mais aqueles que se verão obrigados a pedir ajuda ou a procurar outras alternativas, como emigrar.
O Conselho das Finanças Públicas (CFP) alertava aquando da publicação do Relatório, que “ao longo do ano de 2022 este efeito é de grande importância. No limite, para um consumidor que não viu os seus rendimentos atualizados, a perda de rendimento real é aproximadamente equivalente à variação do índice de preços no consumidor, que se prevê seja no ano de 2022 de 7,7%, ou seja, sensivelmente o mesmo que prescindir de um vencimento para quem aufere catorze meses de ordenado”, pode ler-se.
Taxa de juro e inflação
Também no Relatório do CFP é destacado o facto de a retração do consumo ser também explicada “pelo aumento das taxas de juro determinado pelo Banco Central Europeu”, considerando que muitas famílias portuguesas têm, sobretudo, créditos à habitação com a taxa variável, o que faz com que sintam o forte impacto dos aumentos.
Juros de contas a prazo e aplicações sem aumentos
Um dos outros pontos na ordem do dia nos últimos tempos relaciona-se com o facto de o aumento das taxas de juro não se refletir nos depósitos a prazo ou aplicações financeiras, pelo menos em Portugal.
Ainda de acordo com o Conselho das Finanças Públicas (CFP), um dos efeitos provocados pela inflação é a “perda de valor de um montante em dívida ou de ativos financeiros, como depósitos bancários, que se encontrem definidos em termos nominais”. Tal efeito só seria compensado por um aumento das taxas de juro nominais em completo acordo com a taxa de inflação, o que não se verifica atualmente. Isso afeta diversas aplicações de poupança das famílias, nomeadamente depósitos bancários ou aplicações em títulos de dívida pública.
Em suma
Por todos os aspetos apresentados, relacionados (mais ou menos) coma crise que se vive na Europa, a inflação baixa o salário, efetivamente. Reduzir o consumo de bens não essenciais e renegociar condições de crédito com o banco, são algumas das soluções a considerar, ainda que para muitos estejam longe de ser suficientes.
Para quem se vê obrigado a gastar mais, ganhar mais seria o ideal.