É inegável e ainda bem visível a ligação histórica e a presença dos Ingleses em Portugal.
Há, por exemplo, registos históricos que indicam que os primeiros contactos destes dois povos datam de 1147, quando os cruzados ingleses que se dirigiam à Terra Santa tiveram de esperar 11 dias, no Porto, pelas forças comandadas pelo conde de Areschot e por Cristiano de Gistell. O rei Afonso Henriques, sabendo da passagem da armada por Portugal, procurou estabelecer um acordo com os seus chefes, convencendo-os a ajudar na conquista de Lisboa aos mouros.
Sabe-se também que, desde a Idade Média, o Porto estabeleceu importantes relações comerciais com a Inglaterra, nomeadamente com o comércio de panos, vinho, madeira, pele e pescado.
E claro que nesta equação sobre Ingleses em Portugal não podia deixar de entrar o Vinho do Porto. É no séc. XVII que se assiste à expansão do comércio do Vinho do Porto devido, essencialmente, ao aumento das importações inglesas.
Nos séculos seguintes, várias são as figuras inglesas que marcam presença e se fixam no Porto, desde negociantes, artistas, arquitetos, etc. A título de exemplo, o mais tarde conhecido por Barão de Forrester, José James Forrester, estabeleceu-se no Porto, em 1831, e dedicou-se ao comércio, tornando-se um dos principais negociantes de vinho, a quem a região do Douro mais ficou a dever.
Há ainda episódios marcantes da história de Portugal, e em particular do Porto, em que os ingleses foram forças aliadas, como foi o caso das Invasões Francesas e do famoso Cerco do Porto.
Seria impossível em tão poucos parágrafos ilustrar as figuras e factos que denunciam a ilustre presença dos ingleses em Portugal, por isso, optamos por apresentar algumas curiosidades e sugerir um roteiro que denota a presença dos ingleses no Porto.
Marcos da presença dos ingleses em Portugal: roteiro pelo Porto
So, let’s start our sightseeing tour!
Rua Nova dos Ingleses
Fonte da imagem: Centro Português de Fotografia – Rua Nova dos Ingleses (1834) [no Porto (Reprodução de gravura)]
Atualmente extinta, a Rua Nova dos Ingleses converteu-se, desde 1883, em Rua do Infante D. Henrique. No entanto, a Rua Nova dos Ingleses foi muito importante, principalmente na vida dos comerciantes de Vinho do Porto, tendo nos séculos XVIII e XIX sido o centro de uma das áreas residenciais e comerciais mais importantes, e onde muitas empresas britânicas tinham o seu escritório.
Feitoria Inglesa
Precisamente num dos extremos da antiga Rua Nova dos Ingleses fica a Feitoria Inglesa, instituição que foi Câmara de Comércio e que hoje é um clube privado de exportadores de Vinho do Porto. Um belo local para passear, dada a sua proximidade do Centro Histórico do Porto, Ribeira e margens do rio Douro.
Este clube conserva ainda tradições seculares muito curiosas, como pode ler-se na Wikipédia, a propósito da Feitoria Inglesa:
“Este edifício é um excelente testemunho da Aliança Luso-Britânica e do peso da comunidade britânica na cidade, grandemente empenhada no comércio do Vinho do Porto. (…)
Das tradições seculares da Feitoria Inglesa salientam-se algumas que fazem parte do seu plano anual de atividades e que são marcantes na vida da associação:
- Wednesday Lunches: nos quais os membros e os seus convidados se juntam à mesa para um almoço. Os aperitivos começam a ser servidos às 13 horas na Drawing Room, onde normalmente está exposto o jornal The Times do mesmo dia do século anterior;
- Treasurer’s Dinner: realiza-se na terceira ou quarta sexta-feira de novembro e para o qual são convidados os membros da associação. O tesoureiro convida também uma figura que se tenha destacado na sua vida pessoal ou profissional para fazer um discurso na altura em que se apreciam os vintages;
- Christmas Party: realiza-se na noite do último sábado antes do Natal e conta com a presença dos membros da Feitoria e amigos. É comum juntarem-se cerca de duzentas pessoas. A festa só termina no início da manhã do dia seguinte, após ser servido um pequeno-almoço;
- Os vintages servidos nos almoços e jantares oficiais da Feitoria são selecionados pelo tesoureiro entre as cerca de quinze mil garrafas guardadas na cave do edifício, com referências que incluem os anos clássicos dos séculos XX e XXI;
- No hall de entrada, logo após a galeria exterior, estão colocados retratos com os nomes dos tesoureiros desde 1811. Aí podem encontrar-se os nomes das mais influentes famílias de origem britânica ligadas ao setor do vinho do Porto, perpetuados nas atuais marcas de vinho do Porto: Churchill’s, Cockburn, Croft, Delaforce, Fladgate, Forrester, Graham, Guimaraens, Robertson, Roope, Sandeman, Symington, Taylor e Warre.”
Vinhos do Porto e Douro, caves e famílias inglesas
Como citamos anteriormente, ao longo dos séculos XV a XVIII, foram muitos os ingleses que se instalaram no Douro Vinhateiro tendo em vista a produção de vinho do Porto, como se verifica pelos nomes das principais caves: Taylor’s, Kopke, Graham’s, Cockburn’s, Sandeman, Offley, Churchill’s…
Antigo Clube dos Ingleses
Fonte da imagem: Wikipedia
Atualmente na mão do Estado, este edifício acolhe uma organização de caráter social e de beneficência, mas aqui esteve o Clube Inglês do Porto.
Este espaço, que conserva características da típica moradia nobre setecentista, ficou igualmente conhecido por ter acolhido, no seu jardim, durante o Cerco do Porto, tropas liberais, devido à sua localização: vistas privilegiadas sobre o rio Douro e de Vila Nova de Gaia.
Cemitério dos Ingleses
A construção deste cemitério deve-se ao cônsul John Whitehead. Apresenta marcas da época romântica e acolhe muitas das conhecidas famílias estrangeiras ligadas ao comércio do Vinho do Porto. Nele podem ser vistos, por exemplo, mausoléus de Eduardo Moser, do cônsul John Whitehead, de Feuherheard, Kebe, Jebb e Brindle e as estelas do barão de Forrester e da família Katzenstein.
Casa Tait
Este é um espaço digno de visita, bem como toda a sua envolvente, situado junto dos jardins do antigo Palácio de Cristal, do belíssimo Museu Romântico e com umas vistas maravilhosas sobre o rio Douro. Aqui podem ver-se exposições temporárias, sendo os jardins de livre acesso.
A Casa Tait conserva ainda características das famílias inglesas que a habitaram, tendo sido comprada, em 1900, por William Tait, um negociante de Vinho do Porto, rico e que se dedicou ao estudo da fauna e da flora.
Mais tarde, a propriedade passou para Muriel Tait, que a vendeu à Câmara Municipal do Porto, com a condição de ser transformada num espaço verde público.
Palácio de Cristal
Não existe atualmente o original “Palácio de Cristal”, porque foi demolido em 1951 para dar lugar ao Pavilhão dos Desportos, hoje Pavilhão Rosa Mota.
O original e bonito Palácio de Cristal foi inaugurado em 1865. Da autoria do arquiteto inglês Thomas Dillen Jones, foi construído em granito, ferro e vidro, tendo o Crystal Palace londrino por modelo. Media 150 metros de comprimento por 72 metros de largura e era dividido em três naves.
Conserva ainda um agradável jardim, onde se realizam inúmeros eventos, como a feira do livro do Porto, concertos, etc. e possui umas vistas privilegiadas sobre o rio Douro.
Praia dos Ingleses
A Praia dos Ingleses, na Foz do Douro, era especialmente frequentada por cidadãos britânicos, no século XIX, como aliás o próprio nome sugere. Foram também os ingleses que introduziram a moda dos passeios à beira-mar no verão.
Não só a praia dos ingleses, mas toda a Foz do Douro, é um belo local de passeio junto ao mar. A Foz do Douro é também pontuada por elementos arquitetónicos de clara influência inglesa.
E, por hoje, termina o nosso roteiro pelo Porto. São inúmeras as evidências da presença dos Ingleses em Portugal, mas acreditamos que os exemplos acima são um bom começo para encontramos um roteiro nacional. Quer deixar-nos as suas dicas sobre outras marcas da presença dos ingleses em Portugal? Uma sugestão de um outro roteiro?
Até breve e… hope you’ve enjoyed our sightseeing tour!
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