Share the post "Lago de Resia: as águas que guardam uma torre e uma história"
Na verdade, este artigo poderia dar antes pelo nome de Curon Venosta, pequena vila da Itália, que faz fronteira com a Suíça e com a Áustria. Mas quis o destino, que o seu Lago de Resia se tornasse no seu principal símbolo. Muito por conta da torre sineira da igreja que se ergue, precisamente, nas águas deste lago.
Mas já lá vamos à história!… Para já, importa dizer que a vila de Curon Venosta fica no Tirol do Sul, na região italiana do Trentino-Alto Ádige e possui cerca de 2400 habitantes. A sua beleza e encanto são verdadeiramente comoventes. Como um postal ilustrado que, assim que vemos, queremos visitar e ficar a conhecer mais em detalhe…
O Lago de Resia e a sua torre
Como já antecipámos, atualmente, a torre sineira da igreja que se ergue nas águas do Lago Resia é o ex-líbris da vila, o verdadeiro símbolo local.
A torre e a respetiva igreja de Santa Caterina d’Alessandria remontam às origens do próprio vilarejo, datando dos princípios do século XIV, sendo que apenas viriam a ficar submersos em meados do século XX.
Foi, na realidade, entre os anos de 1949 e de 1950, com a criação de um lago artificial entre o lago de Curon e o lago de Resia, que não só a torre e a igreja, como parte da vila de Curon Venosta, ficaram totalmente submersas.
Hoje em dia, o Lago de Resia pode ser “aproveitado” tanto no verão, como no inverno. Uma vez que no verão pode receber praticantes de kite surf e no inverno, quando congelado, pode permitir o acesso a pé à torre sineira.
![Lago de resia congelado](https://assets.e-konomista.pt/uploads/2021/06/lago-gelo.jpg)
Mas vamos lá à história… O projeto da barragem
O projeto pode detrás da criação deste lago artificial foi da responsabilidade do engenheiro Josef Duile Curon e começou ainda em oitocentos. O seu propósito era baixar o nível da água do lago Curon (à época chamado Lago di Mezzo), de modo a que, assim, a vila de Curon Venosta pudesse ampliar o seu terreno agrícola.
Contudo, nem tudo decorreu como previsto e, devido ao rompimento da catarata do lago, as vilas de Burgusio, Clusio, Laudes e Glorenza ficaram submersas, dando-se então a suspensão das obras em curso.
Já sob o domínio do Império Austro-Húngaro, o projeto voltou a ganhar forma, desta feita com a finalidade de criar uma reserva para a produção de eletricidade. Todavia, é mais tarde, já em 1920, que o governo italiano retoma a empreitada, desta vez com o objetivo de aumentar o nível da água até 5 metros. Finalmente, em 1939, é decidida a construção de uma barragem.
No entanto, essa mesma decisão coincidiu com a eclosão da Segunda Guerra Mundial e, por isso, o projeto que parecia malfadado desde o princípio, acabou por ser novamente suspenso. Porém, anos mais tarde, em 1947, sempre foi contruída a barragem que acabou por submergir a 22 metros de profundidade 677 hectares de terreno, deixando aproximadamente 150 famílias desalojadas.
Os protestos e as reclamações da população, inclusive junto do Papa, não foram suficientes para impedir esta construção que mudou de forma profunda a história e a paisagem desta vila.
![vista sobre torre no lago resia](https://assets.e-konomista.pt/uploads/2021/06/torre-barco.jpg)
O simbolismo da torre da igreja
Assim, torna-se mais fácil perceber o simbolismo e o significado desta torre que, afinal, é o único vestígio visível na paisagem da vida e da história que existiu naquela vila, na velha Curon Venosta. Por isso mesmo, esta torre é tida como um monumento, protegido pelo Departamento de Belas-Artes local e exibido como o ex-líbris máximo da vila de Curon Venosta.
Há mais de 10 anos, foram mesmo levados a cabo trabalhos de reabilitação urbana na torre, de modo a reparar fissuras e a substituir o telhado medieval, de forma a preservar ao máximo o bom-estado deste elemento tão importante para os habitantes de Curon Venosta.
Se visitar o Lago de Resia, além de observar a torre, não deixe de aproveitar para fazer passeios e caminhadas ao ar livre e andar de bicicleta. Além disso, existe por lá o Museu Alta Val Venosta que reúne fotografias e objetos pertencentes aos agricultores locais e que ajudam a contar a história dos Lagos de Resia e Curon.
Curiosidades
O Lago de Ressia, a sua torre e a história por detrás deste lugar ganharam mais fama após a divulgação da série da Netflix intitulada, precisamente, “Curon”.
Mas, também, da publicação, em 2018, do romance “Resto qui” (Daqui não saio), de Marco Balzano, onde ele conta, precisamente, a história desta vila e das suas gentes, sujeitas aos terrores da guerra e do fascismo, e que tiveram de lidar com o desapego para com as suas terras, as suas casas, no para com tudo o que tinham e que lhes foi tirado.
A este propósito, vale ainda a pena lembrar que, também em Portugal, houve localidades que desapareceram, nomeadamente devido à construção de barragens. Eis alguns exemplos:
- Aldeia de Barca do Bispo submersa pelas águas da barragem da Bouçã;
- Foz do Dão (Óvoa, Santa Comba Dão) submersa pelas águas da barragem da Aguieira;
- Vilar da Amoreira, em Portela do Fojo (Pampilhosa da Serra), submersa em 1954 pelas águas da barragem do Cabril;
- Vilarinho das Furnas (Terras de Bouro) submersa em 1971 pelas águas da barragem de Vilarinho, mas ainda parcialmente visível quando o nível das águas está baixo;
- Parte da Aldeia da Luz (Mourão) submersa, em 2002, pelas águas da barragem do Alqueva.