Nunca o mote “vá para fora, cá dentro” fez tanto sentido como nestes tempos. Por isso, os Lagos do Sabor, um tesouro escondido em Trás-os-Montes, são uma aventura à espera de acontecer.
São 70 quilómetros de lagos “ligados entre si por gargantas e penhascos, que formam um verdadeiro santuário da vida selvagem e oferecem aos visitantes um céu azul e um horizonte de cortar a respiração”, afirma a Associação de Municípios do Baixo Sabor, que une os concelhos de Alfândega da Fé, Macedo de Cavaleiros, Mogadouro e Torre de Moncorvo.
Mas não pense que foi por acaso. Na verdade, os lagos nasceram devido à construção da barragem do Baixo Sabor, que alterou o curso de água, mudando, por completo o cenário e tornando-o num local de visita obrigatório, numa tentativa de impulsionar também o turismo da região, beneficiando da proximidade com a região do Douro, que dispensa apresentações, e com o território espanhol.
Veja aqui como chegar rapidamente ao Sabor
A Barragem do Baixo Sabor começou a ser construída em 2008 e alterou de forma decisiva o cenário natural da região transmontana. Foi criada para ser uma alternativa à barragem prevista para Vila Nova de Foz Côa, salva pelas gravuras rupestres. Como tal, o plano B implicou a fundação de uma barragem mais a Norte, para o Sabor, também ele um rio que se junta ao Douro, que custou cerca de 450 milhões de euros e produz eletricidade para aproximadamente 300 mil pessoas.
Todavia, esta experiência turística ainda é partilhada por poucos e, por isso, se gosta de descobrir novos locais, este é, sem dúvida, um destino para conhecer.
A origem dos Lagos do Sabor
No que respeita a Trás-os-Montes, considerava-se haver alguma falta de diversidade das atividades culturais e de lazer e pouca divulgação da mesma, pelo que a região tem um grande potencial a atingir.
Como tal, a criação dos novos Lagos do Sabor e a instituição da Associação de Municípios do Baixo Sabor, com um forte pendor de coordenação e atuação intermunicipal, têm como grande objetivo ajuda a corrigir esta debilidade.
Os novos Lagos do Sabor constituem-se, assim, como uma oportunidade imperdível, enquanto agentes diferenciadores do território face à restante região. Além disso, estão muito próximos do vale do Douro e da foz do rio Sabor, por isso há muito para descobrir e aproveitar no próximo passeio por terras transmontanas.
A vida animal aqui tão perto
Se é amante de birdwatching é obrigatória uma visita às Lagoas do Sabor. Pode conviver com diversos animais, como o Grifo, Bufo-Real e Águia de Bonelli. Mas se desviar os olhos do céu para a terra, então, é bem possível que se cruze com uma lontra-europeia ou uma toupeira de água.
Tudo isto foi possível graças a uma ação de preservação de habitats prioritários, de algumas espécies com estatuto de conservação, bem como graças à criação de condições para o seu desenvolvimento, com benefícios para a biodiversidade da região. Afinal, o turismo não pode ser desenvolvido a qualquer custo.
Lagos do sabor: o rio selvagem
O Rio Sabor nasce na província de Zamora, em Espanha, entra em Portugal pela Serra de Montesinho, em Bragança, e segue pela margem direita do rio Douro. Com a construção da barragem, o Rio Sabor deixou de ser o “último rio selvagem” do país, visto que o seu curso foi interrompido.
Como consequência, apareceram os Lagos do Sabor, que são, na verdade, três: Lago de Cilhades, o maior de todos e cujo nome foi inspirado numa aldeia homónima, no concelho de Torre de Moncorvo agora submersa, Lago dos Santuários e Lago do Medal.
Além disso, com a subida do leito do rio, a Foz do Azibo – conhecida zona de praia fluvial – ficou maior e mais larga. Aliás, esta é mesmo uma excelente altura para conhecer a região e, assim, poder usufruir das praias da Foz do Sabor e da Foz do Azibo, que fazem as delícias de quem experimenta as águas locais.
Património histórico? Também existe
Sossego, natureza e património: quase parece a Santíssima Trindade dos destinos turísticos de sonho e, convenhamos, isto são opções que encontra em grande quantidade – e qualidade – por terras lusas.
Antes da construção da barragem, existia um santuário no local, que foi transferido para outro ponto da região. Sim, o edifício foi mesmo transportado, pedra a pedra, para o cimo do Monte da Parada, naquele que foi um trabalho exaustivo de equipas de restauradores. Esta ação era necessária, já que a igreja remonta ao século XVIII e foi mandada originalmente construir pela família dos Távoras. Assim, trata-se de um património que merece prevalecer e permanecer ao longo dos tempos.
Pode também visitar o Castelo de Mogadouro, com vista para esta nova paisagem, assim como ao monóptero de São Gonçalo, um monumento de inspiração barroca, considerado de interesse público, mas que infelizmente se tem vindo a degradar ao longo dos tempos.
O passeio por terras transmontanas continua pelas aldeias de Penas Róias ou de Azinhoso, cada uma com as suas particularidades e encantos.
A zona permanece ainda como que meio por explorar mas, no fundo, é isto que lhe confere tal beleza: a tranquilidade, a harmonia, a sensação de que vai mesmo ficar tudo bem.