É um assunto que causa alguma confusão, perceber onde começam e acabam as diferenças para aqueles que obtiveram o grau de licenciatura antes e depois de 2006.
Especialmente se tivermos em conta estudantes que tenham conhecido as duas realidades, ou seja, que tiraram uma licenciatura pré e pós-Bolonha, e mais tarde quiseram prosseguir estudos.
Mas não só a nível do ensino se verificam dificuldades no ajuste: muitas vezes, candidatos a emprego que frequentaram licenciaturas pré-Bolonha são colocados de parte em detrimento de quem frequentou uma licenciatura pós-Bolonha. Isto por causa das equivalências.
De que forma é que um licenciado pré-Bolonha se pode fazer equivaler a um licenciado pós-Bolonha, ou sequer se se devia fazer essa equivalência, continua a ser um debate em cima da mesa.
Por outro lado, parece unânime por parte do sistema de ensino considerar que ambas as licenciaturas equivalem uma à outra, ou seja a de três anos corresponde à de cinco e vice-versa, apesar de uma ter sido mais condensada no tempo do que a outra.
Isto leva naturalmente a que quem tenha realizado uma licenciatura em mais anos se sinta prejudicado em relação a quem tirou em apenas três, pois “perdeu” mais tempo até poder transitar para o mercado de trabalho. Além disso, provavelmente ainda vai ter de frequentar um mestrado de dois anos para poder estar no mesmo patamar do que um estudante pós-Bolonha, perante o mercado de trabalho.
O que distingue licenciatura pré e pós-Bolonha em Portugal?
A licenciatura pré Bolonha em Portugal consistia num curso superior com uma duração normal de cinco anos – embora houvesse exceções – casos em que a duração poderia ser de quatro, seis ou sete anos.
A licenciatura pré-Bolonha corresponde ao período desde que existiram licenciaturas em Portugal, até 2006.
A licenciatura pós-Bolonha foi instituída em Portugal em 2006, e corresponde ao primeiro grau do ensino superior, com uma duração de três ou, em casos excecionais, quatro anos.
Uma vez terminada a licenciatura pós-Bolonha, tornou-se uma situação normal os estudantes prosseguirem estudos para uma próxima etapa: o mestrado. De tal forma que as universidades adotaram o conceito de “mestrado integrado”, criando-se assim uma estrutura no ensino que integra licenciatura e mestrado.
Em alternativa, os estudantes podem optar por fazer uma pós-graduação, em vez de um mestrado. A pós-graduação tem duração inferior – um ano letivo, e consiste numa especialização numa determinada área.
Por exemplo, um estudante licenciado em enfermagem poderá enveredar por área específica, se optar por tirar uma pós-graduação em enfermagem comunitária, médico-cirúrgica ou reabilitação.
Comparando com o mestrado, a pós-graduação caracteriza-se por uma abordagem essencialmente prática.
De acordo com o Processo de Bolonha, os cursos estão organizados em três ciclos:
- 1º Ciclo – Licenciatura
- 2º Ciclo – Mestrado
- 3º Ciclo – Doutoramento
Uma licenciatura pré-Bolonha tem equivalência a uma licenciatura pós-Bolonha?
Aqui reside o ponto mais sensível desta distinção entre estas duas situações. As universidades consideram normalmente que quem concluiu o seu curso de licenciatura antes de 2006 tem de frequentar um curso de mestrado para que haja essa equivalência.
Porque razão Portugal adotou o processo de Bolonha?
A adoção do processo de Bolonha teve o objetivo de se fazer corresponder o ensino superior de vários países europeus, de forma a torná-lo mais coerente, compatível, competitivo e atrativo para estudantes europeus e de países terceiros, promovendo a coesão europeia através do conhecimento, da mobilidade e da empregabilidade dos seus diplomados.
Sistema Europeu de Transferência de Créditos
O Sistema Europeu de Transferência de Créditos é o instrumento criado pelo processo de Bolonha para uniformizar as Instituições do Ensino Superior no contexto europeu e facilitar o percurso dos estudantes no seu período de estudos fora de Portugal.
Permite ainda medir e comparar resultados académicos e transferi-los de uma instituição para outra. Os créditos são proporcionais ao trabalho total do estudante e não ao número de horas de aulas.
Cada ano letivo de qualquer plano de estudos corresponde a um total de 60 créditos. Sendo assim:
- 30 créditos equivalem, regra geral, a 1 semestre;
- 60 créditos representam o volume académico de 1 ano de estudos.
Os créditos representam, de 1 a 60, o volume de trabalho do estudante, e reflete a parte que cada unidade de curso representa em relação ao total de trabalho necessário para concluir um ano de estudos completo. Estamos a falar de elementos como as próprias aulas, os trabalhos práticos, seminários, preparação de relatórios, pesquisa bibliográfica, trabalho individual e exames ou outros.
Para chegar ao fim da licenciatura, o estudante poderá contabilizar o seu objetivo em créditos: deverá concluir entre 180 a 240 créditos.
Para se obter um mestrado, são necessários 90 a 120 créditos, mesmo para quem fez licenciatura pré-Bolonha.
Licenciatura pré e pós-Bolonha no mercado de trabalho – quem sai prejudicado?
Por vezes surgem diferenças na forma de como é encarada a questão da licenciatura pré e pós-Bolonha por parte das empresas, nomeadamente durante o processo de recrutamento.
Isto porque existe alguma confusão na equivalência entre uma e outra: são conhecidos vários casos em que empresas excluíram pessoas licenciadas no pós-Bolonha e que não tinha mestrado, ou seja, há uma clara discriminação relativamente às licenciaturas realizadas em 3 anos, sugerindo uma valorização maior por parte dos recrutadores em relação às licenciaturas pré-Bolonha (com duração de 4 ou 5 anos).
A confusão tem origem no facto de antigamente quem tirasse um curso superior com a duração de 3 anos, era considerado bacharel e não licenciado.