Escolher alguns dos mais marcantes livros escritos por mulheres não é tarefa fácil. Desde logo: a literatura tem género? Não, não tem. Começa-se como se começa. Uma folha em branco, ou um ecrã, um turbilhão de pensamentos que se materializam numa obra que, quem sabe, escala fronteiras, esbate diferenças, convida a pensar.
Não há literatura para mulheres, assim como não há para homens. Há livros bons e livros maus, ponto. Mas escrever é sempre uma aventura. Por isso, por que não começa a escrever um romance? Não interessa se ninguém vai ler e irá ficar escondido numa gaveta a ganhar pó ou numa pasta do computador.
Faça como estas mulheres que pela força da pena abalaram convenções e mudaram de facto o mundo onde se moveram e onde atualmente vivemos. Para se inspirar leia estes.
10 livros escritos por mulheres: quantos já leu?
Uma Vindicação pelos Direitos da Mulher (Mary Woolstonecraft, 1792)
Publicado ainda no século XVII, este livro bebe as influências de um tempo revolucionário em que os direitos humanos estiveram no centro das reivindicações. Woolstonecraft, independente e intelectualmente à frente do seu tempo, reclamou com esta obra os direitos devidos a um grupo social à data bastante secularizado, as mulheres. É considerado uma das fundadoras da teoria do feminismo, assumindo nesta obra a igualdade de género, mais de um século antes de os movimentos feministas eclodirem.
Um Quarto Só para Si (Virginia Woolf, 1929)
Talvez a obra mais vincadamente feminista de Virginia Woolf, estilhaçando a crença da altura de que as mulheres seriam escritoras menores e apontando, de forma clara e muito irónica, como a educação e a sociedade influenciaram a presença das mulheres na literatura. No seu entender, a liberdade intelectual depende também de coisas materiais. Daí a sua famosa afirmação “uma mulher, se quiser escrever literatura, precisa ter dinheiro e um quarto só para si”.
Os Monólogos da Vagina (Eve Ensler, 1996)
Uma peça de teatro já interpretada em todo o mundo, Os Monólogos da Vagina contam uma série de histórias que dançam entre o extravagante, o comovente, o luxurioso ou simplesmente humanas. Eve Ensler entrevistou dezenas de mulheres de diferentes idades e concluiu que o assunto continuava a ser um verdadeiro tabu. E achou por bem desconstruí-lo, concebendo um dos mais famosos livros escritos por mulheres.
O Segundo Sexo (Simone de Beauvoir, 1949)
É uma obra essencial do feminismo, mais de 70 anos passados sobre a sua publicação. Os temas que Beauvoir levanta nesta obra sobre a condição da mulher continuam pertinentes, revelando ainda os desequilíbrios de poder entre os sexos. Nas suas palavras, “ninguém nasce mulher: torna-se mulher. Nenhum destino biológico, psíquico, económico define a forma que a fêmea humana assume no seio da sociedade. É o conjunto da civilização que elabora esse produto intermediário entre o macho e o castrado, que qualificam de feminino”.
Orgulho e Preconceito (Jane Austen, 1813)
Trata-se de um dos livros mais famosos de uma das mais amadas escritoras de língua inglesa. Neste livro, Austen conta a história de Elizabeth Bennet, a segunda de cinco filhas de um proprietário rural, e como ela lida com questões como a educação, a cultura, a moral e o casamento na sociedade aristocrática britânica nos alvores do século XIX. Já foi inclusivamente adaptado ao cinema.
O Caderno Dourado (Doris Lessing, 1962)
A novela que deu a conhecer internacionalmente aquela que viria a ser Prémio Nobel da Literatura em 2007. Na obra, Doris Lessing aborda temas apenas sussurrados e nunca falados abertamente quando o tema eram as mulheres, seres humanos com desejo sexual, doenças mentais e que, sim, mensalmente ficam menstruadas. Toda esta visão é transmitida através dos olhos de Anna, uma escritora que tenta dar um sentido ao seu trabalho, anotando as suas experiências de vida em diferentes cadernos.
Antologia Poética (Natália Correia, 2002)
A mulher da língua de fogo, dotada de um incomum dote para a oratória, Natália Correia é um nome incontornável quando se fala de feminismo em Portugal. Desassombrada, nunca se tolheu perante quem a quis silenciar e protagonizou momentos ímpares da cultura, e política, contemporânea nacional. Esta antologia poética grava no tempo o génio de uma mulher.
Charneca em Flor (Florbela Espanca, 1931)
Publicado já após a sua morte, este é um dos livros mais famosos daquela que é talvez a mais atormentada e incompreendida poetisa portuguesa. No entanto, Charneca em Flor é muito provavelmente o livro onde reune algumas das mais felizes experiências da sua curta e atribulada vida. “Ser poeta é ser mais alto/É ser maior do que os homens/Morder como quem beija…” tornou-se um dos poemas mais famosos de Florbela e está nesta obra obrigatória.
Novas Cartas Portuguesas (Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa, 1972)
Este livro não é um romance, nem um ensaio. Também não é só um manifesto feminista, antes se assumindo como uma peça central do combate à ditadura de Marcelo Caetano, que vivia já ali o seu último estertor. O regime ainda esperneou o proibiu a obra, num processo que ganhou notoriedade internacional e onde as autoras ficaram conhecidas como “As Três Marias”.
Fanny Owen (Agustina Bessa-Luís, 1979)
É uma das obras maiores da escritora desaparecida em 2019, contando o relacionamento do rico e burguês José Augusto, apaixonado por uma mulher inglesa, a belíssima Fanny Owen. Tendo como fundo a cidade do Porto, e a decadência da burguesia local em meados do século XIX, Fanny Owen é um livro central na obra de Agustina Bessa-Luís e serviu como base ao argumento do filme Francisca, de Manoel de Oliveira.