A mediação de conflitos na escola é uma necessidade cada vez mais premente. Este tipo de atuação responde a uma realidade existente em muitas escolas portuguesas, mas não só.
Conhecer os tipos de conflitos, os possíveis envolvidos e que medidas adotar, é fundamental para evitar, nalguns casos, graves consequências.
Apresentamos-lhe tudo o que precisa sobre mediação de conflitos, para saber como e quando agir.
CONFLITOS NA ESCOLA: SITUAÇÕES E VITIMAS
Tipos de conflitos na escolas
Antes de mais, é importante perceber que tipos de conflitos existem em contexto escolar. E nem todos são negativos.
Conflitos Funcionais
Os chamados conflitos funcionais são produtivos. Eles quebram o equilíbrio da concordância e tiram os participantes de uma zona de conforto que os impede de evoluir.
Este tipo de conflito pode surgir, por exemplo, durante uma aula, quando um aluno levanta objeções pertinentes sobre um assunto abordado. O questionamento pode gerar um debate de ideias, o qual, por sua vez, dá lugar à aquisição de conhecimentos por parte de toda a turma. Trata-se, pois, de um tipo de conflito cujo resultado é positivo.
Conflitos Disfuncionais
Os conflitos disfuncionais são sempre negativos. São situações que incomodam, atrapalham, causam mal-estar e hostilidade.
Ocorrem quando, por exemplo, quando um aluno exerce bullying com o outro; há um confronto entre pais/encarregados de educação e professores devido ao desagrado relativamente às notas do filho/educando ou quando professores ou outros elementos discutem entre si por assuntos alheios à escola.
Neste tipo de situações, é importante que a escola tenha a capacidade para fazer a mediação e resolver os ditos conflitos.
Quem pode estar envolvido
Qualquer pessoa que integre a instituição de ensino pode estar envolvida num conflito. No entanto, alguns ganham maior destaque.
Alunos
Os conflitos mais frequentes acontecem entre alunos. Por vezes, zangas e discussões pontuais, brincadeiras que acabam mal ou, em muitos casos relacionados com a prática de bullying, a qual pode ser prolongada.
Alunos e professores
Têm registando um aumento nos últimos anos, os conflitos entre alunos e professores. Com alguma frequência, chegam-nos situações de confronto entre as duas partes, nomeadamente, através da comunicação social.
Se, em alguns casos, o problema é resolvido no momento, pacificamente, em situações mais graves a consequência mais habitual passa por medidas aplicadas ao aluno, como a expulsão da sala ou mesmo da escola, com a notificação aos pais/encarregados de educação e/ou encaminhamento para apoio psicológico.
Quando são os professores os autores de ações que coloquem em causa a integridade do aluno, os mesmos podem, igualmente, incorrer em “castigos” que chegam ao impedimento do exercício de funções.
Professores
São mais comuns do que possam parecer. Entre os professores, colegas de trabalho, há sempre o risco de divergências em algum momento, tanto por motivos internos quanto externos à escola. Os conflitos entre pares podem causar mau-estar ou intrigas. Ainda que raramente conduzam à violência física, podem passar pela violência psicológica.
Pais e professores
A relação nunca foi perfeita e qualquer escola conhece, mais ou menos, esta realidade. Os conflitos têm lugar em reuniões e também virtualmente, através das redes sociais ou e-mail.
Instituições e professores precisam de estar preparados para fazer a mediação de conflitos na escola, de modo a “cortarem” o mais cedo possível “o mal pela raíz”, assim como, sempre que se justifique, tomarem as medidas adequadas para a eficaz resolução dos problemas.
Comportamentos comuns
Quais os comportamentos apresentados pelos envolvidos em situações de conflito na escola? Há alguns muito comuns aos quais pode estar atento.
Competição
Este tipo de comportamento aponta a busca da própria satisfação. O indivíduo esforça-se para convencer as partes de que o seu ponto de vista é o certo, e todos os outros são errados. Para o efeito, pode valer-se de recursos como pressão, poder e influência para alcançar esse objetivo.
Esquivo
É o comportamento de evitar o confronto. Neste tipo de comportamento, a pessoa não aceita a verdade do outro, nem argumenta em sua própria defesa. Isto pode acontecer quando o indivíduo não acredita que vencerá o debate ou quando acha que a discussão não vale a pena. É um comportamento muito comum.
Acomodação
Num comportamento de acomodação a pessoa desiste de defender o seu ponto de vista e aceita o do outro. Geralmente, esse comportamento manifesta-se quando o assunto não tem muita relevância ou quando se quer conquistar a outra parte.
Compromisso
O compromisso visa procurar um “meio-termo”, de alguém que tenta satisfazer-se parcialmente a si mesmo e ao outro, dividindo assim a razão ou a culpa.
Colaboração
Neste tipo de comportamento as partes buscam um entendimento, ainda que seja algo diferente de “compromisso”. Nestes casos, os participantes do conflito não tentam obter uma satisfação parcial para ambos, mas sim uma satisfação plena, na qual as expectativas são partilhadas e os ganhos são absolutos para os dois lados.
COMO FAZER A MEDIAÇÃO DE CONFLITOS NA ESCOLA
Modelos de mediação
A mediação caracteriza-se por princípios como a confidencialidade, a imparcialidade e o voluntariado. Entre os diferentes modelos existentes, podem destacar-se dois: o modelo de solução de problemas e modelo comunicacional.
- Modelo de solução de problemas: normalmente associado à escola de negociação de Harvard, este modelo é conhecido por ser um método de resolução de conflitos alternativo, conduzido por um mediador imparcial que conduz o processo em busca de um acordo de aceitação mútua. Os alunos mediadores são imparciais na gestão dos conflitos escolares, procurando que ambas as partes envolvidas no conflito percebam onde erraram, de modo a que o conflito seja eliminado.
- Modelo comunicacional: denominado de circular-narrativo, tem na comunicação a ferramenta de atuação. O diálogo é entendido como forma de gerar soluções satisfatórias para os implicados.
Agentes de mediação
Para encontrar uma solução, é importante que a escola aplique modelos e selecione agentes – a quem terá de dar formação – para fazer a mediação dos conflitos sempre que eles acontecem.
Estudante mediador
Nesse tipo de mediação, o próprio aluno é o agente responsável pela mediação dos conflitos na escola. Ele precisa ser treinado para isso. O foco do treinamento é desenvolver a habilidade de comunicação para intervir em situações conflitantes envolvendo outros alunos. Os mediadores podem tanto ter a mesma idade dos envolvidos quanto idade superior a deles. Cabe à escola escolher qual a melhor alternativa.
Professor mediador
Essa forma de mediação incute a responsabilidade de intervenção aos professores da escola. Pode incluir também outros colaboradores da própria instituição de ensino. A escola seleciona os profissionais que considera terem perfil para a tarefa e forma-os para o efeito.
Mediação em rede
Na mediação em rede as intervenções são feitas por uma comissão constituída pela escola que pode incluir alunos e colaboradores internos, mas também profissionais externos à instituição, os quais devem atuar em estreita colaboração para a resolução dos conflitos.
Implementados os meios, há que fazer também uma constante supervisão e comunicação entre os agentes mediadores, efetuar as (re)adaptações necessárias a cada contexto e, assim, garantir uma real eficácia da mediação de conflitos na escola.