O médico de família tem um papel fundamental na vida de cada paciente. Mas será que sabemos em concreto qual o seu papel?
A especialidade de Medicina Geral e Familiar (MGF) está orientada para os cuidados de saúde primários e tem como objetivo compreender a pessoa como um todo.
Ou seja, não trata apenas o doente e a sua saúde física. Procura também integrá-lo no contexto da sua vida, cultura, dos seus problemas, medos, inseguranças, necessidades e claro, da sua comunidade.
No fundo, o médico de família é o único que conhece realmente bem o seu doente e está disponível e acessível a qualquer um nos momentos de prevenção, diagnóstico e no tratamento da doença crónica, funcionando como um elo de ligação às outras especialidades.
Ser médico de família em Portugal exige trabalho árduo e dedicação
Qual é o papel do médico de família?
Se até há muitos anos o médico de família era apenas um médico generalista, isto é, alguém que cuidava das pessoas ao longo da sua vida, atualmente a Medicina Geral e Familiar está um pouco diferente.
A adquirição de novos conhecimentos bastante específicos que mais nenhum médico tem fez com que se fosse capaz de reconhecer a ciência em volta desta área, acabando por torná-la numa especialidade – uma área específica da medicina.
Na verdade, um médico de família é generalista e especialista. O que significa que o seu papel passa não só pela sua atividade assistencial diária, como também pelo estudo e aplicação de conhecimentos específicos focados em cada pessoa e na sua família e na relação com a comunidade e com o ambiente em que está inserido.
Assim, um médico de família segue famílias (como o nome indica) e pode ter pacientes de qualquer idade, desde crianças a idosos. Ora, para que tal seja possível é necessário existir uma preparação enorme e uma atualização contínua dos conhecimentos.
Trata-se de uma especialidade crucial na vida de qualquer paciente. Afinal, quando ficamos doentes por algum motivo ou quando a nossa condição de saúde piora drasticamente devido a uma doença mais complicada é ao médico de família que nos dirigimos. Isto porque não há ninguém que nos conheça melhor do que ele.
Para ter uma noção, apenas numa simples tarde de consultas o médico pode ter que lidar com situações bastante diferentes: desde uma dor de garganta, uma crise de ansiedade, uma dor de cabeça, um paciente com diabetes ou uma entorse no pé, os cenários podem ser distintos.
E para tal é crucial estar devidamente preparado para lidar com toda esta abrangência de cuidados – quer científica como tecnicamente.
Qual a formação necessária para se tornar num médico de família?
Para se tornar num médico de família no nosso país são necessários 6 anos a frequentar o curso de Medicina. Depois desses anos, há um ano comum de Internato Geral e após esse ano, cada médico escolhe a especialidade que pretende, sendo que essa implica mais 4 anos de formação.
Portanto, a única diferença relativamente a outras especialidades é que esta é a única que não é hospitalar. Ou seja, os médicos não trabalham nos hospitais, mas sim em centros de saúde.
De um modo geral, nos 3 primeiros anos do curso, os estudantes aprendem os conteúdos teóricos. Já no 4º e 5º ano, dá-se a prática clínica e cirúrgica que inclui estágios com a duração de um semestre cada. Relativamente ao 6º ano é aqui que os alunos começam a ter contacto com os doentes, passando os seus dias num Centro de Saúde ou num Hospital.
No final dos 6 anos é necessário realizar o exame de Acesso à Especialidade – visto por muitos como o um autêntico terror. Afinal, trata-se de um exame com 100 perguntas que tem como objetivo seriar os alunos para a escolha da especialidade, sendo que a melhor nota escolhe primeiro, e por aí em diante.
Importa referir que uma boa nota neste exame garante a especialidade que tanto ambicionam, assim como um bom local para a tirar. Depois de feito, a nota fica congelada durante um ano e só se efetua a escolha da especialidade um ano após a realização do exame.
Durante esse mesmo ano, todos os médicos ingressam no ano comum e no final, chega a altura da escolha da especialidade que, neste caso é Medicina Geral e Familiar.
Principais deveres do especialista em MGF
O médico de família tem como principal dever prevenir problemas de saúde através do acompanhamento do paciente ao longo da vida. Isto é, é ele quem acompanha a gravidez, observa os bebés e monitoriza as suas primeiras vacinas, trata das doenças mais comuns na infância, vigia a saúde na idade já adulta e cuida dos mais velhos.
Para além disto, ele deve ser o primeiro ponto de contacto do doente com o sistema nacional de saúde e tem como principais funções:
- Trabalhar com outros profissionais de saúde;
- Gerir a ligação com as outras especialidades;
- Usar de forma eficaz os recursos de saúde disponíveis;
- Coordenar a prestação de cuidados.
Na verdade, os seus deveres estão centrados nos cuidados de saúde do paciente, sendo que gerem e integram toda a informação acerca da pessoa, da sua família, do ambiente, das terapêuticas, dos exames complementares e ainda dos seus antecedentes familiares.
Para além disto, os médicos de família, tal como noutra especialidade qualquer, têm o dever de não partilhar qualquer tipo de informação sobre o historial clínico de cada paciente com outras pessoas (como familiares, por exemplo): é o chamado sigilo profissional médico definido no Artigo 139º do Estatuto da Ordem dos Médicos.
Existem dificuldades associadas a esta especialidade?
Ser médico de família é um privilégio enorme por permitir prestar cuidados de saúde acessíveis, equitativos e sustentáveis. Além disto, a responsabilidade associada à função é tamanha e deve ser valorizada.
Mas, por outro lado, existem outras questões que podem dificultar a vida destes profissionais. A verdade é que com a propagação dos seguros de saúde, muitas pessoas optam por visitar um médico de cada especialidade, deixando as consultas com o médico de família de parte.
Contudo, importa relembrar que o médico de família é o único a ter uma visão global do paciente, bem como o registo de todas as questões de saúde relacionadas. Falamos de medicação que já tomou, cirurgias que já realizou ou até as reações alérgicas.
Se o paciente andar a saltar de médico em médico e não visitar o seu médico de família, vai perder este tipo de acompanhamento completo e no dia em que decidir voltar é natural que o médico não saiba muito bem qual o seu historial, que doenças poderão ser ou não prevenidas, entre outras questões.
Por isso o melhor mesmo, é perder cerca de 15 minutos por ano para visitar o seu médico de família e o colocar a par do seu estado de saúde.