Pagar em dinheiro, com cartão, por transferência e até usando o telefone. O gesto é automático, rotineiro e, se paramos para pensar, geralmente é porque nos esquecemos de um código ou porque estamos a escolher um dos vários meios de pagamento ao nosso dispor.
Seja para pagar um café, a mensalidade do ginásio ou até aquelas férias há muito desejadas, todos usamos, várias vezes ao dia, diferentes sistemas de pagamento. E, se multiplicarmos este ato habitual pelo número de dias do ano e pelo número de habitantes do país, os números são astronómicos.
Estas contas são feitas anualmente pelo Banco de Portugal e divulgadas no Relatório de Sistemas de Pagamento. Partilhamos consigo alguns dados mais relevantes e outras curiosidades.
Afinal, quanto gastamos e como pagamos?
Os dados são relativos a 2018 e permitem ter uma noção dos valores movimentados anualmente.
Como é que o Banco de Portugal chega a estes números? A instituição gere o SICOI (Sistema de Compensação Interbancária), o sistema de pagamentos de retalho, que é o mais utilizado, representando 95% do número de pagamentos efetuados e 79% do valor total.
É neste sistema que são processados e compensados os pagamentos de retalho efetuados através de cheques, efeitos comerciais, débitos diretos, transferências a crédito, transferências imediatas e cartões bancários.
O SICOI cresceu, tal como vinha a acontecer nos últimos anos. Segundo o Banco de Portugal, as operações aumentaram 7,6% em número e 7,3% em valor. Ao longo do ano de 2018 foram processadas 2,7 mil milhões de operações, no valor de 491,5 mil milhões de euros.
Ainda segundo os dados do Banco de Portugal, e no que respeita a sistemas de pagamentos de grande montante, registou-se igualmente um crescimento. Estes pagamentos utilizam o TARGET2, que é a principal plataforma europeia.
Esta plataforma para pagamentos com valores elevados é utilizada tanto por bancos centrais (como o Banco de Portugal) como por bancos comerciais e processa pagamentos em euros em tempo real.
Representa 5% do total de pagamentos, o equivalente a 2,2 milhões de operações, no valor de 1,7 biliões de euros, ou seja, 9,4 vezes o PIB nacional. O número de operações liquidadas cresceu 13,2% em relação a 2017, mantendo uma tendência que já vem desde 2016. No entanto, o valor diminuiu cerca de 11,2%.
Meios de pagamento preferidos dos portugueses
Analisados os dados mais abrangentes, e recorrendo à informação do Banco de Portugal, podemos agora olhar mais detalhadamente para as transações efetuadas e perceber que meios de pagamento usam preferencialmente os portugueses.
Olhando então para as operações a retalho, é possível verificar que os meios de pagamento eletrónicos (cartões de pagamento, as transferências a crédito e os débitos diretos) são os mais utilizados. Representam 98,9% do volume global das operações e de 81,6% do seu valor.
E, entre estes, os cartões são os preferidos dos portugueses, valendo 86,6% dos pagamentos de retalho.
Segundo o Banco de Portugal, esta preponderância tem uma explicação: o elevado número de cartões e de terminais que os aceitam. No final de 2018, existiam em Portugal 23,6 milhões de cartões de pagamento ativos, sendo que 38% estavam preparados para compras com contactless.
Mais de 23 milhões de cartões num universo de cerca de 10 milhões de habitantes é um valor elevado, fazendo com que Portugal seja, entre os países da União Europeia, o quarto país com maior número de cartões per capita.
Menos caixas e mais cartões
Os dados do Banco de Portugal revelam também que se manteve a tendência de crescimento dos cartões com função de débito e de crédito.
Assim, em 2018, existiam 21,8 milhões de cartões de débito, mais 4,1% do que em 2017, e 8,5 milhões de cartões de crédito, um aumento de 2,3% em relação ao ano anterior.
No final de 2018 Portugal tinha 349 mil terminais de pagamento automático (TPA) e 14 mil caixas automáticos. Os terminais para pagamento cresceram 8,7% e quase três quartos (74%) tinham tecnologia contactless ativa.
Já as caixas multibanco tiveram um decréscimo de 2,3%, o que pode ser explicado com o encerramento de algumas agências bancárias ou com as preocupações relacionadas com a segurança e assaltos, que levaram a que algumas fossem retiradas.
Recorde-se que, em 2017, Portugal era o segundo país da UE com maior número de caixas automáticos por milhão de habitantes.
Se há menos caixas levantamos mais dinheiro de cada vez? Não necessariamente. O ano de 2018 registou um crescimento muito ligeiro nos levantamentos com cartão (1% em número e 2,5% em valor).
Ora, segundo o Banco de Portugal, isto mostra que há “uma crescente substituição de levantamentos por compras com cartão” e os dados comprovam-no.
Durante 2018, e em comparação com o ano anterior, as compras com cartão cresceram 12% em número e 10% em valor. Estes pagamentos foram sobretudo feitos em terminais TPA tradicionais, já que as compras online pagas com cartão foram apenas 3,8% do número e 5,7% do valor total das compras.
Os portugueses estão ainda pouco recetivos ao sistema contactless. Apesar de ter crescido bastante (157% em número e 170% em valor), este sistema representou apenas 3,6% do número e 1,5% do valor total.
Ainda assim, este meio de pagamento sem recurso ao pin do cartão, e que se destina geralmente a pagamentos inferiores a 20€, foi usado em 42,7 milhões de operações, no valor de 599,2 milhões de euros.
Os dados do Banco de Portugal mostram também que foi usado, maioritariamente, em Lisboa e no Porto. 77% das compras pagas por contactless foram feitas no comércio a retalho. Seguiram-se a restauração, em quantidade (16,3%), e o alojamento, no que diz respeito ao valor (13,8%).
Os débitos diretos, que são um dos meios de pagamento mais usados para pagar contas da eletricidade ou da água ou mensalidades, também estão em crescimento. Em 2018 foram compensados 180,2 milhões de instruções de débito direto, no valor de 26 mil milhões de euros.
Menos cheques
O ano de 2018 confirmou também o que já percebemos no nosso dia-a-dia. Lembra-se quando foi a última vez que usou cheques?
No entanto, este meio ainda foi usado para efetuar 120 mil pagamentos por dia. Os dados do Banco de Portugal revelam também que diminuiu o número de cheques devolvidos e o número de utilizadores de cheques que oferecem risco (designados como LUR).
E os motivos para a recusa de um cheque não são surpreendentes: 65,5% do total de cheques devolvidos foram recusados por “insuficiência de provisão”. No final de 2018 existiam 15 427 entidades na lista de LUR, o que representa menos 10,6% do que no ano anterior. Foram incluídos 9143 nomes de entidades na LUR e removidos 10 979.
Já no que respeita a transferências imediatas, o Banco de Portugal revela que foram processadas 752,9 mil operações, no valor global de 648,5 milhões de euros. Foram processadas 243 mil operações de grande montante, no valor de 105,1 mil milhões de euros.
Os dados mostram que o número de operações diminuiu 4,3%, mas os montantes processados aumentaram 2,8%. As transferências a crédito representaram 51% do número e 63% do valor das transferências processadas.
No final de 2018 ficaram disponíveis soluções de pagamentos imediatos assentes em cartões de pagamento (por exemplo, o MB Way).
Até ao final do ano, o SICOI registou 750 mil transferências imediatas, no valor global de 648,5 milhões de euros. Em média, foram realizadas 7170 operações por dia. O valor médio de cada transferência foi de 800 euros.
Multibanco de dia, internet à noite
O Banco de Portugal realizou um inquérito sobre meios de pagamento no retalho em Portugal, inquirindo 36 consumidores.
Embora a amostra seja pequena, vale a pena conhecer alguns dados:
- 95% dos pagamentos foram efetuados presencialmente;
- estes pagamentos ocorreram maioritariamente entre as 6h00 e as 18h00;
- 73% dos pagamentos presenciais foram efetuados em numerário e 21% com cartão de débito;
- os pagamentos em canais digitais (usando a internet ou o telemóvel) representaram 4% da quantidade e a 14% do valor e foram realizados, sobretudo, entre as 18h00 e a 24h00;
- mais de metade dos pagamentos digitais foi realizada através de transferências a crédito;
- 59% dos pagamentos presenciais com numerário 58% das operações presenciais com cartão de débito e 36% dos pagamentos digitais com transferências a crédito foram feitos em menos de um minuto;
- 65% dos pagamentos efetuados presencialmente tinham um valor inferior a 10€;
- 44% dos pagamentos digitais tiveram um valor superior a 30€;
- o valor médio por pagamento presencial variou entre os 13 e os 18€ nas várias regiões de Portugal;
- o valor médio por pagamento através da internet ou do telemóvel ficou entre os 25€ (na região autónoma da Madeira) e os 90€ (na zona centro);
- as despesas com alimentação e higiene pessoal representaram 73% da quantidade de pagamentos presenciais e 46% do respetivo valor;
- as despesas relacionadas com o lar equivaleram a 46% da quantidade e a 38% do valor dos pagamentos por canais digitais.