Os primeiros telemóveis inteligentes que apareceram no mercado tinham pouca memória RAM. Os Android rondavam apenas os 190MB e o primeiro iPhone não ultrapassava os 128MB. Valores muito diferentes dos atuais, que para Android já podem chegar aos 8GB de RAM (OnePlus 6) e para iOS os 3GB de RAM (iPhone X).
Durante a última década, os fabricantes apostaram constantemente no aumento da quantidade de gigabytes disponível na memória RAM dos equipamentos que lançam no mercado.
Este aumento foi, primeiramente, justificado como necessário, para fazer face às novas utilidades e funcionalidades que os telemóveis começaram a oferecer, e hoje serve de bandeira de lançamento num mercado que se tornou altamente competitivo.
O lançamento de um novo modelo com mais RAM tornou-se um must no marketing de vendas, mas será que precisamos de telemóveis com memórias quase tão grandes como as de um pequeno laptop?
Atualmente, o utilizador médio de um smartphone pode abrir no seu dispositivo cerca de 9 aplicações por dia e chega a utilizar por mês 30 aplicações diferentes (dados do App Annie). Mas qual é o verdadeiro papel que a memória RAM do smartphone desempenha na utilização de todas estas aplicações?
Para que serve a memória RAM?
Para comprar um novo telemóvel, os utilizadores costumam olhar para os valores que o dispositivo oferece em termos da RAM e da memória de armazenamento interno (ROM).
Enquanto que a ROM corresponde ao espaço que o telemóvel traz de origem para armazenar dados (como ficheiros de fotografias, mensagens, etc.) e que pode ser complementado com a entrada de cartões de memória externa, a RAM vem com um tamanho definitivo e desempenha um papel bem diferente. Ela corresponde à memória de trabalho do telemóvel e é ela que é responsável pelo seu funcionamento multitarefa.
É a RAM que permite pôr tudo a funcionar ao mesmo tempo: o receber chamadas enquanto pesquisa na Internet, o receber notificações das redes sociais enquanto joga o seu jogo preferido, ou o atualizar os seus dados de geolocalização para receber informações meteorológicas enquanto escreve mensagens para os seus contactos. Tudo o que abre e não fecha no seu telemóvel fica a correr na RAM.
Se, por exemplo, abrimos uma aplicação e um jogo ao mesmo tempo, isso quer dizer que ambos são carregados para a memória RAM do dispositivo para que lhe possamos aceder sempre que quisermos, sem ter de esperar por um refresh ou download.
Assim, podemos saltar entre um e outro, em tempo real, já que a RAM fica responsável por abrir e manter a correr qualquer arquivo. Quanto mais espaço ela tiver disponível, mais ficheiros, aplicações e funções consegue manter abertos e a funcionar, tornando a experiência de utilização rápida e agradável. Mas, então, porque não podemos dizer livremente, quanto mais RAM melhor?
De quantos GB de memória RAM precisa?
A questão principal está no consumo de energia. Quanto maior for a RAM, mais bateria ela gasta. E esse gasto é constante, quer seja um utilizador que usa e abusa da funcionalidade multitarefa, quer seja um utilizador que pouco toca no telemóvel.
Neste sentido, a escolha de um smartphone com uma grande RAM só trás vantagens se souber que o seu tipo de utilização vai compensar esta pressão extra sobre a duração da bateria.
Se estiver sempre a utilizar a câmara fotográfica em alta resolução, se utiliza muitas aplicações pesadas simultaneamente, ou se gosta de jogar jogos ao mesmo tempo que vai verificando os seus e-mails, aí a RAM vai ter importância. Mas se não é um utilizador multitarefa, não é o facto de ter mais RAM que vai fazer com que uma aplicação, lançada sozinha, vá abrir mais depressa.
E em termos de quantidade de GB indicada para a sua utilização? Mesmo nos casos de utilizadores multitarefa, os especialistas afirmam que 4GB de RAM podem ser suficientes para garantir que tudo funcione com bom desempenho e sem compassos de espera. Sendo assim, o que dizer dos mais recentes Androids que já oferecem 6GB ou mesmo 8GB de RAM (por exemplo, o OnePlus 6)?
A opinião geral dos especialistas é que tanta RAM é um exagero sustentado pelo mercado altamente competitivo dos fabricantes de telemóveis. Afirmam também que ainda não estamos numa fase em que os smartphones precisem de tanta memória.
Existem muitos portáteis que funcionam na perfeição, com vários softwares a correr ao mesmo tempo, apenas com 8GB de RAM. Um telemóvel com essa RAM exige dispositivos com baterias cada vez maiores e mais potentes, o que equivale a um maior consumo energético.
Agora que as grandes marcas lançam versões lite das suas aplicações para telemóveis, poderá ser na verdade um exagero ter tanta RAM no telemóvel. Claro que no futuro lá chegaremos e, se o leitor for um utilizador que tem mais de 30 aplicações abertas ao mesmo tempo, se as utiliza intensivamente e está sempre perto de uma tomada, vale a pena o investimento nestes GB de RAM extra.
RAM do iPhone vs. RAM de Android
Quem compara especificações técnicas entre os modelos topo de gama do mundo Android e do mundo iOS, fica surpreendido com as diferenças entre os números de GB de RAM que ambos oferecem. Enquanto que nos topos de gama Android é vulgar ver 4GB ou 6GB de RAM, no topo de gama da Apple, o iPhone X, esses valores não excedem os 3GB RAM. Esta diferença tem uma boa explicação e não significa que haja menos performance no equipamento da “maçã”.
A explicação está na arquitetura dos dois sistemas operativos e no facto de a Apple limitar muito as compatibilidades do seu sistema operativo. O sistema operativo Android pode ser utilizado em centenas de equipamentos diferentes, o que quer dizer que, à partida, não sabe em que tipo de equipamento irá correr e dá abertura a muitos fabricantes e programadores para o utilizarem e construírem aplicações sobre ele.
Parte desta versatilidade é conseguida à custa de algumas exigências sobre um uso mais intensivo da RAM, resolvendo problemas de operação e compatibilidade durante a utilização.
Já o sistema operativo da Apple não tem de contar com imprevistos, uma vez que controla bem os dispositivos e aplicações que correm nos seus modelos exclusivos, o que lhe permite agilizar os procedimentos que utilizam a RAM. Por isso, pode não ser precisa tanta quantidade de GB para igualar as performances de utilização multitarefa que os Androids oferecem.
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