Share the post "Porto: já visitou o recuperado e histórico Mercado do Bolhão?"
No dia 15 de maio de 2018 foi consignada, oficialmente, a obra de restauro do Mercado do Bolhão. Era um anseio antigo da cidade, ver de novo de cara lavada um dos seus símbolos maiores.
As máquinas começaram a trabalhar logo a seguir e esperava-se que no espaço de dois anos os pregões dos comerciantes voltassem a ecoar junto às suas bancas.
No entanto a complexidade técnica do trabalho efetuado (dizia-se que o Mercado do Bolhão só não ruiu por sorte), levou a que o prazo de execução das obras tivesse derrapado.
Mas a espera terminou em Setembro de 2022: as portas abriram-se e a cidade Invicta recuperou o local onde vive parte considerável da alma portuense. E tem sido um sucesso absoluto.
Mercado do Bolhão: um símbolo que se recupera
Durante décadas foi o principal mercado de frescos da cidade. Situado bem no coração da cidade do Porto, o Bolhão transformou-se no símbolo de uma certa vivência portuense, genuína, sem filtros.
Também se transformou numa atração turística, muito embora a decadência em que veio a cair lhe retirasse parte substancial do seu encanto.
O mercado ficou ainda conhecido por ser um ponto de paragem obrigatório para praticamente todas as campanhas eleitorais que passavam pela Invicta. Fossem eleições autárquicas, europeias, legislativas ou presidenciais, ninguém faltava à volta de honra, entre vendedoras de verbo fácil e clientes indiferentes.
Nos últimos anos, o Bolhão foi-se cobrindo de ruína. Houve algumas tentativas para o reabilitar, alguns projetos mais ou menos mirabolantes, mas em vez de vida, o mercado foi-se enchendo de andaimes a escorar a lenta agonia de um edifício que começou a ser gizado nos alvores do século XX.
A história do Bolhão
É em 1910, ano em que Portugal derruba a monarquia para se tornar numa República, que surge o primeiro anteprojeto de um mercado naquele local, uma praça onde já se fazia comércio. No entanto, só em 1914 é que se inicia a construção do atual edifício, desenhado pelo arquiteto António Correia da Silva.
O Mercado do Bolhão foi edificado em plena Primeira Guerra Mundial, entre 1914 e 1917, altura em que o negociante portuense Elísio de Melo presidia à primeira vereação da era republicana e a quem a cidade ficou também a dever, entre outros importantes projetos de urbanização, a abertura da Avenida dos Aliados.
As obras iniciaram a 19 de julho desse ano e, em 1915, eram postas a concurso as primeiras lojas do mercado.
Influenciado pela arquitetura da École des Beaux Arts, Correia da Silva projeta um edifício neoclássico que conferiu ao mercado a mesma grandiosidade que marca a Estação de São Bento, do arquiteto José Marques da Silva, também ele influenciado pela escola parisiense.
Tratou-se de uma obra avançada para a época, devido à utilização do betão armado em conjugação com estruturas metálicas, as coberturas em madeira e cantaria de pedra granítica.
Desenvolvido em volta de um chafariz com quatro bicas, o mercado tem dois pisos ligados por várias escadarias e um amplo pátio central, que se subdivide em dois espaços exteriores através de uma galeria coberta, construída já na década de 1940.
A entrada principal do edifício, orientada a Sul, possui um frontão brasonado e ladeado por esculturas de pedra da autoria de Bento Cândido da Silva, que representam Mercúrio e Flora, os deuses da mitologia clássica consagrados ao Comércio e à Agricultura, respetivamente.
A diferentes cotas estão as entradas laterais, pela Rua de Sá da Bandeira e pela Rua de Alexandre Braga, que dão acesso a um patamar intermédio com escadarias que ligam ambos os pisos. A entrada Norte, pela Rua de Fernandes Tomás, dá acesso direto ao piso superior.
Nova vida para o mercado
O projeto de restauro e modernização do Bolhão foi inaugurado a 15 de setembro e teve um custo a rondar os 22 milhões de euros. Procedeu-se à instalação de aquecimento artificial, de coberturas no piso inferior, acesso direto ao metro e cave técnica com acesso para cargas e descargas a partir da Rua de Alexandre Braga.
Da autoria do arquiteto Nuno Valentim, o projeto mantém a parte comercial e instala a restauração no piso superior, com entrada pela Rua de Fernandes Tomás, transferindo todo o mercado de frescos para o piso inferior.
É uma nova vida para o Bolhão e uma ocasião emocionante para todos os comerciantes que nos últimos aguentaram estoicamente a fazer o negócio num mercado temporário. Uma visita obrigatória.